sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Vou ter contigo


Quero libertar-me dos deuses
Não ter medo da tempestade
E equilibrar-me na espuma branca do nosso mar!
Quero olvidar fantasmas
Navegar de vela desfraldada
Só com a ajuda do teu sorriso!
Quero pôr termo ao meu circo
Largar aplausos de multidões
E isolar-me lentamente na tua vertigem!
Quero amparar-me nos teus silêncios
Romper o dique das minhas lágrimas
E beijar o doce prazer do teu olhar!
Quero abraçar-te
Envolver-te no meu cansaço
Recusar ilusões efémeras e perenes angústias!
Quero dar-te o que me resta
E que por tão frágil me deixaram:
A loucura da minha sombra,
E a força brutal de um grito sufocado!!

Por tudo isto, meu amor, vou ter contigo...

Este poema é a minha colaboração para o tema proposto para o corrente mês, da "Fábrica de Letras".

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Sina Peymard


Sou totalmente contra qualquer tipo de extremismos, sejam eles de que área forem: política, social, sexual ou religiosa.

Ora ultimamente, e pelos piores motivos, muito se tem falado no extremismo religioso, o qual tem estado na base de numerosos confrontos sangrentos ao longo da História, sendo actualmente o principal responsável pelo terrorismo e pelos muitos conflitos, um pouco por todo o mundo, e é claro com o fundamentalismo islâmico à cabeça. Mas, e só para não ir muito longe no tempo e no espaço, basta apontar os confrontos na Irlanda do Norte, entre católicos e protestantes (e que Blair resolveu, sejamos justos), e a guerra na ex-Jugoslávia, que teve como principal causa, as diferenças étnicas e também religiosas, entre sérvios (ortodoxos), croatas ( católicos) e bósnios (muçulmanos).

Mas o caso que aqui quero focar e muito me impressionou, localiza-se no Irão e tem por base a aplicação da lei islâmica, tão radical como a religiosa, ou por isso mesmo, já que em certos países ela é aplicada por “mullahs”. É um caso falado há umas semanas atrás, de um jovem iraniano, de 16 anos, de seu nome Sina Peymard, que numa banal zaragata de rua (violenta, embora), acabou por matar outro jovem, ao que parece, traficante de droga. Preso e julgado, a lei foi dura, à maneira islâmica: “mataste, tens de morrer”.

Como é proíbido executar crianças abaixo dos 18 anos, no Irão, o que nem sempre se aplica, pois há poucos anos, foram enforcados dois menores, por práticas homossexuais, o rapaz teve que aguardar a idade própria para a sentença ser executada; já com a corda no pescoço, pediu um último desejo, que lhe foi concedido, tocar uma melodia na sua flauta ney. A melodia então entoada, foi-o de tal maneira comovente, que tocou até a família da vítima, que assistia à execução, a qual concordou perdoar o condenado, desde que fosse paga uma determinada quantia de dinheiro, o que é permitido pela lei islâmica, quantia essa que se chama “Diya”.

A execução foi adiada por quatro meses, para que as famílias se entendessem quanto ao montante a pagar; esse entendimento não surgiu, pois o exigido era muito além do que o rapaz poderia pagar, mesmo vendendo tudo o que tinha.

O caso, entretanto tornou-se conhecido e a Amnistia Internacional, junto com activistas dos direitos humanos tentaram convencer a família da vitima a um indulto, já poucos minutos antes da hora marcada para a nova execução; perante todo o drama que se estava vivendo, e a poucos minutos da execução, houve uma ordem de suspensão da mesma, emanada do Presidente do supremo tribunal, por 10 dias, para uma ultima tentativa de acordo quanto ao montante a pagar. E eis que surge um benemérito, para pagar o remanescente da dívida, o qual já havia pago noutros casos, para impedir as execuções.

O caso deve ter tido o seu epílogo em finais de Julho, para o bem ou para o mal; infelizmente as buscas que fiz, quer no site da Amnistia, quer em blogs que referiram o caso, nada dizem sobre o desfecho. Espero que o silêncio, neste caso seja um indicador positivo.

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Singing bears

Como que numa versão, tipo século XXI dos "velhinhos ""Village People", eis uma canção em que os elementos da banda, são bears, o que para mim, é uma mais valia (gostos não se discutem...).
Fui roubar este vídeo ao blog "...daqui para a frente só há Dragões", a quem agradeço a partilha.
Quem quiser comparar a musicalidade dos dois grupos, poderá ouvir, na coluna da direita, um dos mais conhecidos temas dos "Village People" - Y.M.C.A.

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Uma noite inesquecível


Nos tempos da “outra senhora”, o deserto cultural que constituía o nosso país, tinha anualmente um oásis, durante alguns dias, com um acontecimento chamado “Festival Gulbenkian da Música”, e que era da responsabilidade de uma das pessoas que mais fez pelo desenvolvimento da cultura em Portugal, ao longo das décadas de 60/70, Madalena Azeredo Perdigão, esposa do todo poderoso e muito influente presidente da Fundação Calouste Gulbenkian.

Assim, durante alguns anos, pudemos ver e ouvir em Lisboa grandes nomes da música clássica e contemporânea, do canto operático e da dança clássica e moderna.

Aguardado com expectativa pelo público, quando os ingressos eram postos à venda, longas filas se formavam, com horas de antecedência, para se obter os bilhetes que interessavam. Eu era um dos que não faltava e graças a estes festivais tive o imenso prazer de poder assistir ao vivo, no Coliseu, a concertos de grandes orquestras, como a Sinfónica de Berlim, dirigida por Karajan, a um memorável e dos últimos concertos do extraordinário pianista Artur Rubinstein, por mais que uma vez aplaudi o mais famoso par do ballet clássico da segunda metade do século XX: Margot Fonteyn e R.Nureyev, mas também os modernos representantes do ballet contemporâneo de então: Merce Cunningham, Martha Graham, Alvin Ailey e naturalmente Maurice Béjart, que era aliás habitual nos programas do festival.

No ano de 1968, mais uma vez Béjart estava presente, para apresentação do seu último trabalho, na altura, uma versão moderna e perfeitamente assombrosa de “Romeu e Julieta”, com música de Berlioz. Para esse espectáculo, foi necessário desmontar mais de metade da plateia do Coliseu, e em vez do bailado ser dançado no clássico palco italiano, isso acontecia num alargado círculo, dividido em sectores, quais gomos de uma laranla, alternadamente a preto e branco, nessa parte “conquistada” à plateia; aliás todo o espectáculo era dominado pelo preto e branco, incluindo os figurinos dos intérpretes. A conhecida obra de Shakespeare er aqui transformada num fortìssimo libelo anti-bélico (estava-se em plena guerra do Vietnam), que ia num “crescendo” de violência até à cena final, arrebatadora, em que a música era por vezes abafada pelo som da metralha e se ia ouvindo repetidamente o célebre “make love, not war”.

No final, o público estava em delírio.

Sucede que este espectáculo tinha duas datas consecutivas, e eu, afortunadamente, conseguira bilhete para o primeiro dia, 6 de Junho. Claro que a lotação estava esgotada para os dois dias.

Quando os aplausos infindáveis ainda se faziam ouvir, nomeadamente os do camarote presidencial, onde pontificava o “venerando” chefe de Estadp, Américo Tomaz e parte do Governo, eis que Béjart, como sempre de negro vestido, aparece à boca de cena, pede silêncio e numas breves palavras disse o que então era impensável ouvir pùblicamente em Portugal: - que estava muito satisfeito com a receptividade do público português ao espectáculo e que não podia deixar de homenagear nessa noite, um homem, paladino da liberdade e que tinha sido assassinado umas horas antes – Robert Kennedy, um homem, dizia, que sempre fora ao longo da sua vida um defensor das liberdades contra as opressões, e que para ele, Béjart, era uma ocasião única referir esse facto num país governado por uma ditadura, onde a liberdade não existia...e por aí fora...

Claro que, perante estas palavras, enquanto as “excelências” desapareciam apressadamente de cena, o entusiasmo do público, maioritariamente jovem crescia exponencialmente e o impensável aconteceu uma vez mais: o Coliseu a cantar quase em uníssono, a Internacional!!!!

Quando finalmente, se saiu do Coliseu, a rua parecia um comício e a animação era enorme, não só na Rua das Portas de Santo Antão , mas também pelo Rossio e Restauradores. Embora se visse anormal aparato policial, e era já uma hora da madrugada, não houve qualquer repressão policial; mas as consequências foram imediatas, pois ainda nessa noite Béjart foi conduzido à fronteira, e só regressou a Portugal, depois do 25 de Abril, e òbviamente foi cancelado o segundo espectàculo do “Romeu e Julieta”.

Foi das noites mais memoráveis dos meus tempos de estudante universitário, em Lisboa.

sábado, 18 de agosto de 2007

Quem é o poeta ?



"Quando eu era muito nova

E altamente ansiosa

Com um chinês fui casar.

Por Yung Li Po conhecido

E chinês, como é sabido,

Antes de me desposar.


Ele não me maltratou

Mas de mim nunca gostou

Embora eu fosse casar.

Talvez porque eu culpa tive

Em lhe dar um bom motivo

Antes de me desposar.


Acabei divorciada

E assim obrigada

Porque quis, a me casar

Com outro homem então.

Ele era como um irmão

Antes de me desposar.


O pior que este tivera

É que meu irmão não era

Depois que fomos casar.

Assim gordura ganhei,

E de esbelta me fartei,

Antes de me desposar.


Tentei um velhote então

Que era rico até mais não

E a fortuna me quis dar.

Envenenei sua mente

E logo morreu, felizmente,

Antes de me desposar."



Quem escreveu este poema ? e que tal adivinhar? o prémio? a consolação de ter acertado...

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Amizades...


Há, por vezes, coisas pequenas que vão acontecendo na vida, e que quase sempre, para a maior parte das pessoas, não passam de simples "fait divers".
Não para mim, principalmente quando me sinto ferido, e ainda mais, quando percebo que essas pequenas coisas afectam ou podem afectar um dos sentimentos mais belos e preciosos que um homem pode ter: a Amizade.
Não sou, nem nunca serei uma pessoa de ressentimentos, e ao longo da vida, infelizmente, fui aprendendo a criar uma couraça para que essas pequenas coisas não me magoem demasiado; mas não tenho culpa de, talvez por um excesso de sensibilidade, não conseguir ficar indiferente a elas.
Vale-me nessas alturas, pensar positivo, e, nesse sentido, "refugiar-me" nas amizades que sabem preservar e cultivar esse sentimento.
E, afinal, de que me queixo, se essas amizades são tantas e me dão tanta força?

sábado, 11 de agosto de 2007

O centenário de um HOMEM


Amanhã, dia 12 de Agosto, faz exactamente 100 anos que numa aldeia para lá dos montes, nasceu um dos mais notáveis portugueses do século XX: Miguel Torga.
Para além de ser um escritor de grande mérito ( relembro que o Nobel português, na literatura, foi de Saramago...), foi um ilustre médico e acima de tudo um Homem recto e bom, um Homem vertical.
A ele, lhe rendo, nesta data a minha singela homenagem. Obrigado Miguel Torga.

A Terra

Também eu quero abrir-te e semear
Um grão de poesia no teu seio!
Anda tudo a lavrar,
Tudo a enterrar centeio,
E são horas de eu pôr a germinar
A semente dos versos que granjeio.

Na seara madura de amanhã
Sem fronteiras nem dono,
Há de existir a praga da milhã,
A volúpia do sono
Da papoula vermelha e temporã,
E o alegre abandono
De uma cigarra vã.

Mas das asas que agite,
O poema que cante
Será graça e limite
Do pendão que levante
A fé que a tua força ressuscite!

Casou-nos Deus, o mito!
E cada imagem que me vem
É um gomo teu, ou um grito
Que eu apenas repito
Na melodia que o poema tem.

Terra, minha aliada
Na criação!
Seja fecunda a vessada,
Seja à tona do chão,
Nada fecundas, nada,
Que eu não fermente também de inspiração!

E por isso te rasgo de magia
E te lanço nos braços a colheita
Que hás de parir depois...
Poesia desfeita,
Fruto maduro de nós dois.

Terra, minha mulher!
Um amor é o aceno,
Outro a quentura que se quer
Dentro dum corpo nu, moreno!

A charrua das leivas não concebe
Uma bolota que não dê carvalhos;
A minha, planta orvalhos...
Água que a manhã bebe
No pudor dos atalhos.

Terra, minha canção!
Ode de pólo a pólo erguida
Pela beleza que não sabe a pão
Mas ao gosto da vida!



sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Morreu a Zazá

Mais um nome grande do cinema europeu nos deixou: Michel Serrault, actor capaz de uma versatilidade fabulosa que interpretou violentos delinquentes, calmos pais de familia e excelentes cenas de um humor contagiante. A sua Zazá, onde fazia par com Ugo Tognazzi, na "Gaiola das malucas" era absolutamente prodigiosa. Ainda hoje o vejo a sair do bolo, como prenda de aniversário...Ciao, Zazá; Au revoir, Michel.

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Serpa



Serpa é uma cidade alentejana, situada no distrito de Beja, e na margem esquerda do Guadiana, do qual dista pouco, como pouco dista da vizinha Espanha, pela fronteira de Ficalho.

A sua história remonta aos romanos, sendo uma das terras conquistadas aos mouros por D.Afonso Henriques, em 1166.

É na agricultura que o concelho centra a sua actividade económica (59%), principalmente com o cultivo de cereais e do olival.

Foi a esta terra, até então desconhecida para mim, que o destino me levou, em 1976, quando ali fui colocado como docente, na Escola Preparatória, num edifício, que hoje já não existe, pois Serpa é hoje uma cidade que muito se tem expandido e modernizado, sem deixar de ser uma das mais belas terras de Portugal, sendo para mim inolvidáveis, os tempos ali passados.

E curiosamente, não foi muito boa a primeira impressão que colhi de Serpa, pois cheguei em plena crise da Herdade da Lobata, que opunha patrões e trabalhadores das cooperativas, não esquecendo que estávamos na altura do PREC, e Serpa, parecia preparada para uma guerra civil, com “chaimites” nas entradas, e muita discussão em todo o lado. Vim a saber, mais tarde, pelo convívio, ao longo de quase 4 anos ali passados, com aquelas gentes, que, apesar das divergências políticas, ideológicas e até sociais, toda a gente se conhece bem e se estima.

Ali, quer a nível de colegas, de alunos e da população em geral, só grangeei amizades, algumas das quais ainda hoje perduram. As refeições na adega “Molhó bico”, hoje um moderno restaurante, onde se continua a comer bem, mas eu preferia nos tempos da “ti Clara”, as cervejas no “Lebrinha”, famosas muito além da terra, a gastronomia em geral, desde as típicas açordas e migas à mais sofisticada lampreia, apanhada à rede, no Pulo do Lobo, até aos cantares alentejanos, que por vezes se ouviam entoar nas noites quentes de verão, tudo isso contribuiu para eu ir ganhando raízes que só não se agarraram mais ao solo, por imperiosos motivos pessoais e familiares. Mas ali mantenho amizades que vou cultivando nas minhas frequentes visitas, a última das quais, em Janeiro passado, para mostrar a terra ao Déjan. E foi curiosamente, nessa altura, quando jantava com ele e a Manuela S., no “Molhó Bico”, que um conhecido grupo coral que ali festejava um aniversário de um familiar, nos ofertou algumas das pérolas do seu repertório. De entre os cantares ouvidos, estava um, que é emblemático da terra, cuja letra aqui deixo, e que podem ouvir aqui.

Vão a Serpa, não se arrependem, pois há coisas lindas a ver,(não percam o Museu do Relógio), e pessoas maravilhosas para encontrar e conversar.



Saudade não é peso
Dá lá muitas a meu bem
Faz-me lá esse favor
Que eu já hoje o não verei

Saudades quem as não tem
Dentro das tuas muralhas
Há uma rosa quem eu quero bem
Adeus ó velho castelo
Companheiro do luar
Quem me dera já lá ir
Quem me dera já lá ir
Para me ouvires cantar

Ó Serpa pois tu não ouves
Os teus filhos a cantar
Enquanto os teus filhos cantam
Tu Serpa deves chorar

Adeus ó vila de Serpa
Saudades quem as não tem
Dentro das tuas muralhas
Há uma rosa a quem eu quero bem
Adeus ó velho castelo
Companheiro do luar
Quem me dera já lá ir
Quem me dera já lá ir
Para me ouvires cantar



Não estou certo, se no meu apagado blog, tinha feito um texto sobre Serpa. Se isso aconteceu, não fará muito mal, pois falar de Serpa é sempre bom, e aqui vai pelo menos a novidade dos cantares locais.




segunda-feira, 6 de agosto de 2007

"Ninguém se importa comigo"


Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.

Bertold Brecht (1898-1956)

sábado, 4 de agosto de 2007

Os meus filmes GLBT (Wild Side)

Esta é uma das cenas finais, protagonizada pelo cantor Antony and the Johnsons, interpretando, quase "a capella", o tema "I feel in love with a dead boy", do filme "Wild Side", realizado em 2004,por Sebastien Lifshitz, que já havia dirigido, em 2000, o excelente "Presque rien".
É a história de um transsexual, que sobrevive, prostituindo-se nas ruas de Paris, e que regressa à sua terra natal, após a morte de sua mãe, acompanhado pelos seus dois amantes, e onde é confrontado com o seu passado e a forma como evoluiu a sua vida, até encontrar o amor com aqueles dois homens, que têm entre si um relacionamento que pode ser estranho, mas é real, belo e comummente aceite pelos três.

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Pastéis de Belém


Há anos que ali passava, e sempre prometia a mim mesmo, que um dia entraria.

Foi em Janeiro passado, quando o Déjan visitou Lisboa, que no dia dedicado à zona de Belém, num dia de semana e a uma hora sem confusões; sendo assim, após uma rápida passgem pelas diversas salas, não nos foi difícil escolher uma mesa num canto apropriado e fazer a encomenda de seis pastéis.

Há muito ouvia falar da sua fama. Já por várias vezes me aborrecera, quando ao volante ali encontrava confusões de trânsito. Mas entrado, nunca o havia feito, e saboreado, ainda menos.

Pois eu, que nem sequer sou muito guloso, sinceramente, achei aquele folhado estaladiço, com o doce de ovos lá dentro, bem polvilhado por canela, um autêntico manjar dos deuses. O Déjan apreciou-os tanto quanto eu, e a meia dúzia logo foi repetida sem custo algum. Ainda antes de sairmos, espreitámos a parte da casa, onde os pastéis são confeccionados, e eis-nos na rua, satisfeitos com a terceira meia dúzia, comprada ao balcão para saborear mais tarde, em casa. Simplesmente, nenhum pastel chegou a casa, nem eu voltei a comer em nenhum lado, um pastel de nata, pois não gosto de imitações.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Judeus

Jacob, um judeu, negociador de sangue frio, diz a seu filho:
- Filho, escolhi com quem deves casar.
- Mas pai, eu quero escolher a minha própria noiva.
- Quero que cases com a filha do Bill Gates.
- Bom, nesse caso...

Jacob então telefona para Bill Gates, dizendo:
- Bill, tenho aqui um jovem que quer casar com a sua filha.
- O quê ? Isso é um absurdo! A minha filha é muito jovem para se casar!
- O jovem é só vice-presidente do World Bank.
- Bom, nesse caso...

Jacob telefona então para o presidente do World Bank:
- James, tenho aqui um jovem que é um excelente candidato para
vice-presidente do vosso banco.
- Vice-presidente? Mas eu já tenho tantos vice-presidentes!
- Bem, este é genro do Bill Gates.
- Bom, nesse caso...


terça-feira, 31 de julho de 2007

Michelangelo Antonioni


O mundo cinéfilo teve ontem uma das datas mais tristes dos últimos tempos.


Como se não bastasse o desaparecimento de I.Bergman, outro famoso realizador faleceu na mesma data: Michelangelo Antonioni.


Antonioni, nasceu em Ferrara (Itália) em 1912, e foi nos seus primeiros tempos como director de cinema, um dos nomes importantes do neo-realismo italiano do pós guerra, com vários filmes, de que importa realçar um, que a meu ver, é das suas melhores obras, “O grito” (1957).


Mas foi na década de 60, que Antonioni se tornou conhecido, devido essencialmente a uma trilogia sobre a alienação, constituída pelos filmes: “A aventura”(1960), “A noite”(1961) e “O eclipse”(1962), filmes estrelados pela actriz que foi um dos seus amores, Mónica Vitti. Também foi ela que protagonizou o seu primeiro filme a cores, com uma fotografia espantosa, “O deserto vermelho”(1964), e que vem na mesma linha da trilogia que referi.


Mais tarde, fez o seu primeiro trabalho em lingua inglesa, esse assombroso “Blow-up”(1966), com a fabulosa Vanessa Redgrave (foto do post), e foi com “Zabriskie Point”(1971) que se estreou em Hollywood. No entanto, a sua visão de cinema era profundamente europeia, um cinema hermético, dificíl, algo intelectual, tão em voga na Europa dos anos 60. Descrevia-se como um intelectual marxista, mas a esfera de acção dos seus filmes esteve sempre, à excepção da época neo-realista, centrada na elite e burguesia urbana.


Os seus filmes eram visualmente muito belos, mas com poucos planos e diálogos, gostando muito de sequências longas, que por vezes eram pouco suportadas pelo público, ao estilo do nosso Manuel de Oliveira.


Em 1995, foi distinguido com um Óscar honorário, pela sua carreira.


Viveu nos últimos anos nos EUA, onde realizou as suas últimas obras, que não tiveram o impacto das de 60. Foi casado com outra actriz muito conhecida, Candice Bergen.


Curiosamente, dele disse, um dia, Ingmar Bergman, que gostava de alguns dos seus filmes por serem desinteressados e visionários.


O destino uniu-os na data da sua morte.

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Ingmar Bergman

Na sua casa da ilha de Faro, faleceu hoje o realizador de cinema sueco, Ingmar Bergman, aos 89 anos de idade.
Foi dos realizadores de cinema que mais admirei em toda a minha vida, tendo visto, por assim dizer, quase toda a sua obra, mesmo a mais antiga, em magníficos "preto e branco", sempre fotografados pelo mesmo fotógrafo, Sven Nykvist.
Dos seus filmes mais antigos relembro, entre outros,: " Morangos silvestres", "A fonte da virgem", "O sétimo selo", "O rosto" e "O silêncio".
Já numa fase mais adiantada da sua vida, foi um realizador fecundo, sempre contundente e polémico, e dessa época ressaltam títulos, como: "Persona", "Lágrimas e suspiros", "Fanny e Alexander", "O ovo da serpente" e "Sonata de Outono".
Foi considerado por alguns críticos como o maior cineasta da história e baseou toda a sua obra na ansiedade sexual, na solidão e na busca de um sentido para a vida.
Além de mais de 50 filmes, foi também um aclamado homem do teatro.
Foi casado várias vezes, e as mulheres sempre foram o centro das suas películas, tendo trabalhado de uma forma muito especial com algumas actrizes que fizeram parte do seu "mundo": Ulla Jacobsen, Ingrid Thulin, Bibi Andersen e Liv Ullman, actriz norueguesa, com quem foi casado e que protagonizou, entre outros o inesquecível "Cenas da vida conjugal", e o seu último filme, em 2003, "Saraband", que foi como que uma revisitação, passados anos, de "Cenas da vida conjugal".
Há muitos anos, retirou-se, como que num exílio desejado para ilha de Faro, onde faleceu.

domingo, 29 de julho de 2007

Agora, Zadar

Será aqui, em Zadar, nesta calma cidade onde nasceste, na costa dalmática, na antiga Jugoslávia, filho de pais sérvios, mas agora fazendo parte da Croácia, que voltarei a abraçar-te, no próximo dia 25 de Agosto; aí, em Zadar, teremos duas semanas de banhos no Mediterrâneo, de passeios enamorados e de tanta coisa mais! Nada de corridas, de ver isto mais aquilo, mas sim, conhecer as tuas raízes, como te dei a conhecer as minhas. Compartilhar contigo a casa onde viveste a tua meninice, tudo isso já me emociona, 4 semanas antes, mas enfim,o culpado és tu !!

segunda-feira, 23 de julho de 2007

É hoje !!!



Anda comigo ver o Tejo, sereno, prateado e belo.

Ele é o exemplo dos dias e noites, que a partir de hoje, e durante uma semana, contigo vou compartilhar, nesta minha Lisboa.

Welcome home, Déjan.

sábado, 21 de julho de 2007

Imagens que mudaram a história (5)

Iraque 2004
A invasão americana do Iraque era uma guerra quase sem imagens. Não havia sofrimento, nem feridos, nem mortos. Houve imagens que os EUA gostariam que ficassem como ícones desta guerra: uma estátua do ditador iraquiano a ser derrubada em Bagdad, a captura de Saddam.
Mas verdadeiro ícone apareceria em 2004, divulgado pela The New Yorker. A imagem não tem qualidade, mas o ar clandestino só reforça a sordidez e dá-lhe mais força.
Um iraquiano com uma capa preta e um capuz preto enfiado na cabeça, de braços abertos como Cristo na cruz, em cima de uma caixa, com os dedos ligados a fios eléctricos. Essa e outras, imagens de tortura na prisão de Abu Ghraib em Bagdad acabaram com qualquer possibilidade de os americanos recuperarem a sua imagem no Iraque.
Não há aqui a coragem dos grandes fotógrafos, nem prémios Pulitzer. Só telemóveis ou pequenas máquinas digitais, e a abjecta atitude de militares americanos divertindo-se a humilhar iraquianos, e, na sua imensa estupidez, a fotografar-se enquanto o faziam.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Espero-te


Os dias só muito lentamente se escoam e até as horas já não são suficientes para esta impaciência imensa.Queria que os ponteiros do relógio do tempo, endoidecessem, em rápidas voltas, para que o momento em que meus olhos em ti pousarem de novo, se eternize num tempo parado, repousante e perfeitamente feliz.O abraço imaginado, será o prólogo de minutos sem palavras, de horas, enfim, em que os desejos se libertam do espartilho da distância e cavalgarão, livres, puros e renovados.Espero-te...

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Correntes

Depois de ter feito parte de várias correntes que circulam na blogosfera, nomeadamente: O blog com Tomates, Momentus de Excelência, Thinking Bloger Award, e ainda um outro, a que diplomàticamente me escusei, espero que sem melindres para quem me nomeou sobre diversas coisas, à base do "7", eis que chegou mais uma corrente, daquelas, "inofensivas" e mais interessantes, que me foi proposta pela Anita ( O meu círculo vicioso), e que consta em referir os últimos 5 livros lidos e nomear 5 blogs, para darem continuidade à corrente.

Mas, embora aceda ao seu pedido, resolvi alterar a minha resposta um pouco, e em vez dos últimos títulos, refiro sim os 5 livros mais importantes que li (ou pelo menos 5 dos mais importantes), e que são:

"O Principezinho", de Antoine Saint-Exupérie

"Memórias de Adriano", de Marguerite Yourcenar

"As canções", de António Botto

"De profundis", de Oscar Wilde

"Alvorecer", de Kenneth Martin

Quanto aos nomeados, também há alguma originalidade, pois além de três autores de blogs, nomearei dois habituais comentadores e amigos, que "ainda" o não são. Sendo assim, serão:

Ric (De viris pulchris et aliis), Luís Rodrigues (O murmúrio das ondas), Lampejo (À volta da fogueira), a Carla (Shadow) e o João Manuel (Catatau).

Espero as vossas opções.

terça-feira, 17 de julho de 2007

Os meus amigos (6)



No meu “apagado” blog, havia uma rubrica, que já ia, salvo erro, na sua quinta postagem, subordinada ao tema “Os meus amigos”.
Há muito, estava tentado a falar de um amigo, daqueles que não só eu conheço, mas que é figura sobejamente conhecida; exactamente o José Sócrates.
Faço-o agora, por variadas razões. A primeira, e mais importante, é que actualmente está na “mó de baixo”, é assobiado onde quer que vá, tem os media contra ele, as manifestações estão em crescendo, e assim sendo, não posso ser acusado de estar a untar as botas de alguém, que há alguns meses atrás, continuava num longo estado de graça, talvez o mais prolongado para os últimos primeiros ministros.
Depois, porque a Amizade se sobrepõe às diferenças de opinião, e se hoje em dia, em vários aspectos, sou critico de actuações suas, isso não invalida a amizade.
E ainda, porque nunca utilizei, contra o que parece ser um hábito, neste e anteriores processos, a amizade, para obter “benesses”. É até curioso, que a última vez que falei com o Zé, já lá vai um longo tempo, numa tarde de Verão, na esplanada do CCB, era ele Secretário de Estado do Ambiente, eu tinha sobre mim a sombra do desemprego, que se veio a efectivar quando não consegui colocação como docente um mês depois; falámos sobre tantas coisas, mas evitei falar no assunto, o que até não foi fácil.
Mas, vamos ao início; conheci o Zé Sócrates, na Covilhã, onde ele era funcionário da Câmara e o lider concelhio do P.S. Nunca fomos colegas de estudo, pois ele é alguns anos mais novo, fui todavia aluno do seu pai, no então 1º.ano do Liceu da Covilhã, na disciplina de desenho, na qual eu era razoàvelmente mau...
Mas, alguma simpatia minha pelo socialismo, levaram-nos a vários encontros, e um belo dia o Zé convenceu-me a fazer parte, como independente, da lista do P.S. para as eleições autárquicas; a minha vida profissional de então não me permitia “aventuras políticas”, pelo que acedi, apenas com a condição de ficar num lugar não elegível, e assim fui 5ª da lista, que meteu quatro candidatos na autarquia. Foi nesse período, que melhor o conheci, e admirei o seu espirito de luta e o seu empenho, e mantive um contacto muito próximo quando da sua eleição para deputado, juntamente com A. Guterres,
pelo circulo de Castelo Branco.
Aliás foi curioso, que a insistência de ambos, consegui que o meu Pai os recebesse numa visita à nossa empresa têxtil, o que foi difícil, dada a aversão a tudo o que fosse de esquerda do meu Pai (feitios...); mas foi uma conversa agradável e correcta, que serviu para, com outras visitas similares, ambos apresentarem na A. República um óptimo relatório sobre a já então conhecida crise dos têxteis.
Fora da política, o Zé sempre foi um amigo com quem pude contar e não faltaram ocasiões para debatermos assuntos vários das nossas vidas pessoais. Por isso, por conhecê-lo tão bem, me indignei tanto com as insinuações, que na altura da campanha das legislativas, lhe foram dirigidas.
Não tem sido fácil a vida familiar do Zé Sócrates, mas ele tem, dentro do possível, sabido precavê-la, tanto no que diz respeito à separação dos pais, ao seu casamento e outros casos muito difíceis da esfera familiar.
É um homem inteligente, que sabe o que quer, e naturalmente, como político, é, nesse campo, ambicioso.
Quando chegou à chefia do Governo, resolveu, e bem, atacar os problemas mais graves do país, sabendo que, mais tarde ou mais cedo, isso se voltaria contra si próprio. Nem sempre rodeado dos melhores elementos, o seu governo, tem tido, reconheço, algumas decisões polémicas e discutíveis, mas pelo que dele conheço, norteia-o o desejo real de ajudar a construir um país melhor.
A má gestão que ele próprio fez de um acontecimento, que não passaria de um “fait-divers”, se tivesse sido abordado de outra forma, ajudou a criar-lhe uma imagem negativa, actualmente.
Mas, pergunto eu, qual a alternativa actual para José Sócrates? Talvez parte da resposta às criticas que lhe são feitas, hoje em dia, de todos os quadrantes, estejam exactamente neste ponto...
Para mim, embora não possa esquecer que é o Primeiro Ministro do meu país, continua a ser o Zé, continua a ser o Zé, cuja casa, perto do actual Parque Industrial da Covilhã, eu tanto gostava de frequentar.