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terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Acting and Dancing (males)

Depois das senhoras (ladies first), os cavalheiros.
Numa escolha dos melhores dançarinos que foram também actores, dois nomes são incontornáveis: Fred Astaire e Gene Kelly.
Mas houve outros, muitos outros, que pontualmente num filme ou outro (nos grandes musicais) nos surpreenderam e deliciaram; entre eles recordo duas interpretações inesquecíveis - George Chakiris no "West Side Story" e Patrick Swayze em "Dirty Dancing".
Mas as restantes escolhas além de Astaire e Kelly acabaram por recair em dois grandes dançarinos: um quase desconhecido Donald O'Connor e na estreia como actor de John Travolta, ambos brilhantes.
Aqui ficam quatro vídeos para recordar estes quatro nomes.



sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Vêm aí os Óscares

Quer se queira, quer não e por muito que se goste do cinema independente e/ou do cinema europeu, os Óscares continuam a ser um dos momentos mais importantes do ano cinematográfico.
Basta ver a esmagadora maioria da produção americana na distribuição cinematográfica da maior parte dos países, para se ver o alcance que os filmes premiados ou mesmo só os nomeados têm; eu gosto do cinema americano, embora me recuse a ver todos aqueles "blockbusters" baseados nos heróis da BD, as inúmeras sequelas de um ou outro pequeno sucesso comercial, a imensidão de filmes gratuitos sobre vampiros, zombies ou mortos vivos ou os muito bem sucedidos filmes de animação cada vez mais rebuscados.
Sucede que recentemente tive e tenho a possibilidade de sem pagar um cêntimo ter acesso a filmes recentes, devidamente legendados, bem como séries (disso falarei um dia destes), e num espaço de tempo extremamente rápido.
E assim tenho para ver inúmeros bons filmes, alguns deles candidatos aos Óscares relativos a 2013; já vi três deles, dos quais aqui vou deixar os "trailers", mas muitos outras vou ver talvez ainda antes da cerimónia: "Gravidade", "Golpada Americana", "Capitão Philips", "Her - uma história de amor".
Ainda não tenho outros que gostaria, mas devem estar a chegar...: "Nebraska", "Blue Jasmin", "Philomena" e principalmente o candidato ao melhor filme estrangeiro "A Grande Beleza".
E aqui estão os três filmes já vistos.
O primeiro é um filme que provavelmente conquistará os Óscares das interpretações masculinas - Matthew McConaughey, como actor principal e Jared Leto, surpreendente, como actor secundário; trata-se de "O Clube de Dallas"
Depois vi "O Lobo de Wall Street", do grande Scorsese, que embora não seja para mim, um dos seus melhores filmes. é sempre um filme de Scorsese, e está tudo dito. Aqui reside a única hipótese de Matthew McConaughey não ganhar o Óscar; é se a Academia resolve premiar finalmente o excelente actor que Leonardo Di Caprio realmente é e aqui o demonstra perfeitamente.
Finalmente o terceiro filme que já vi, é um bom filme de um realizador que se tem vindo a afirmar - Steve McQueen, extremamente forte sobre a escravatura no sul dos EUA, no século XIX; grande aposta para os Globos de Ouro, apenas ganhou um, mas muito importante - o melhor filme. Aqui aposto na interpretação secundária - Lupita Nyong'o.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Claudio Abbado

Faleceu, com 80 anos, Claudio Abbado, um dos maiores maestros do século XX, e que eu tive o privilégio de ver ao vivo, dirigindo a Orquestra Filarmónica de Berlim, num concerto no Coliseu dos Recreios, integrado no saudoso Festival Gulbenkian de Música (olá Madalena Azeredo Perdigão, onde quer que estejas...), lá pelos anos 90. Numa homenagem ao grande maestro deixo aqui talvez o trecho de música clássica que mais aprecio (ainda ontem numa agradável reunião de amigos referi isso), o Adagietto da 5ª.Sinfonia de Mahler, e que nos traz à memória a fabulosa cena final do filme "Morte em Veneza", de Visconti

 Para quem gosta mesmo de música clássica, e principalmente da música de Mahler, fica a sinfonia completa, um óptimo refúgio para depois de um dia de trabalho.
 

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Acting and Dancing (ladies)

Hoje o tributo a cinco mulheres, que além de serem famosas no cinema, se distinguiram também como grandes bailarinas.
Não serão as únicas, apenas cinco das melhores...
Ginger Rogers
Rita Hayworth
Cyd Charrisse
Betty Grable
Ann Miller

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Poema do Menino Jesus

Um dos mais belos poemas de Fernando Pessoa, na interpretação maravilhosa de Maria Bethânia
Este é quase o poema integral que Fernando Pessoa escreveu no seu livro "O Guardador de Rebanhos", do heterónimo Alberto Caeiro e que aqui deixo na integra:

Num meio-dia de fim de Primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.

Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu tudo era falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras.
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo à roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas -
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque nem era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.
Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E que nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!

Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz
E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o Sol
E desceu no primeiro raio que apanhou.
Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas
Que vão em ranchos pelas estradas
Com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.

A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as coisas.
Aponta-me todas as coisas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão 
E olha devagar para elas.

Diz-me muito mal de Deus.
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar para o chão
E a dizer indecências.
A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia.
E o Espírito Santo coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.
Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou -
"Se é que ele as criou, do que duvido." -
"Ele diz por exemplo, que os seres cantam a sua glória,
Mas os seres não cantam nada.
Se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres."
E depois, cansado de dizer mal de Deus,
O Menino Jesus adormece nos meus braços
E eu levo-o ao colo para casa.

Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.

Esta é a história do meu Menino Jesus.
Por que razão que se perceba
Não há-de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam ?

[Alberto Caeiro (heterônimo de Fernando Pessoa), Poema do Menino Jesus]

domingo, 1 de dezembro de 2013

Pairando...

Como disse no meu último post, este blog não seria encerrado, mas “cessaria funções”, apenas reabrindo para alguma coisa de uma maior importância.

Há por assim dizer duas semanas que nada aqui ponho, e tenho no entanto lido os blogs que acompanho, (nem todos), pois comecei alfabeticamente de trás para a frente e o constante movimento bloguístico ainda não me permitiu chegar acima do “D”…
Tenho comentado minimamente, quando uma postagem me chama por esse comentário.

E agora, que sucedeu, de tão importante que justifique esta entrada?. 
Nada verdadeiramente importante, apenas meia dúzia de coisas que eu gostaria de referir com maior destaque do que aquele que as redes sociais permitem.
E assim, este vai ser um longo post e variado nos assuntos versados.

Começo por falar de saúde, da minha e não só, pois eu, que sou diabético
desde há uns anos (entre outras patologias, onde avulta uma angina de peito), tive no Verão uma desagradável surpresa com os resultados anormalmente altos da glicémia o que fez com  que, finalmente,tivesse tomado juízo no que respeita à alimentação e à movimentação física; entretanto fui aceite na Associação dos Diabéticos e parece que já começa a haver resultados positivos…

Pior é um problema que muito me afectou, pois um amigo de infância, daqueles com quem almoço aqui em Lisboa, todos os meses, um ano mais velho que eu, foi sujeito a uma cirurgia para eliminar um tumor maligno no cérebro,
 isto depois de há três meses atrás ter tido o mesmo problema na próstata (casos completamente não relacionados). 
Estas coisas tocam-me muito fundo e vou-me abaixo psicologicamente. 
As coisas parecem terem corrido bem, mas ainda não há relatórios da biópsia…

Mas deixemos as coisa mais desagradáveis, pois também há referências a factos muito positivos:
Conheci dois amigos que por acaso não têm relação com a blogo, mas que são muito porreiros e é sempre bom aumentar o grupo de amigos se a Amizade é boa e não interesseira em qualquer aspecto. 

Mas, no que respeita a conhecimentos, o facto mais relevante foi ter conhecido finalmente a minha Amiga virtual de há muitos anos, a “Justine” do blog “Quarteto de Alexandria”.
Claro que não foi surpresa nenhuma o imenso prazer que tive nesse encontro, que teve lugar na Gulbenkian, onde fomos ver uma maravilhosa exposição que merece ser vista por toda a gente, pois é magnífica -  "O Brilho das Cidades - A Rota do Azulejo”, uma viagem pelo mundo do azulejo, no tempo e nos mais diversificados locais.
Após a visita, uma muito interessante conversa fez-me apenas concluir o que já sabia – a Justine é uma pessoa de uma grande sensibilidade, possuidora de uma cultura muito acima da média e com uma vivência e experiência de vida notáveis. Foi o nosso primeiro encontro, mas não o último, estou certo.

Entretanto, eu que por vezes me desleixo com o que de bom acontece em Lisboa, no campo cultural, não só visitei uma excelente exposição (e atenção que outra deveras interessante está agora a começar no Museu Nacional de Arte Antiga),


fui alertado por um amigo da Covilhã sobre um concerto do John Grant em Lisboa, e apenas isso aconteceu na véspera do mesmo, ou seja na passada quinta feira, e o concerto foi ontem, sexta, no S.Jorge, às 23 horas. 
Foi um concerto integrado no Vodafone Mexefest,
 um festival com múltiplos concertos em variados locais lisboetas, circunscritos à zona entre o Marquês de Pombal e o Rossio. 
Paga-se uma importância fixa (40 euros) e com uma pulseira em troca do bilhete tem-se acesso a todos os eventos.
Claro que o meu interesse era o John Grant, mas já que tinha oportunidade assisti também na mesma sala, mas antes, um concerto de Márcia, que não conhecia, e que trouxe dois convidados para dois duetos cada – Samuel Úria e António Zambujo; claro que a duração dos concertos é reduzida e quase nunca ultrapassa uma hora, pelo que se fica a pedir mais e assim, eu que nunca tinha ouvido o Zambujo ao vivo fiquei com vontade de o ouvir durante mais tempo. 
Márcia e Samuel cumpriram…

Quanto a John Grant é um dos meus ídolos desde que ouvi duas músicas dele no excelente filme “Weekend”, aliás os dois maiores êxitos do seu primeiro disco – “I wanna go to Marz” e “Queen of Denmark”. 
Foi com este último tema que ele fechou um concerto memorável, talvez o melhor concerto a que já assisti.
Além destes dois temas sobressaem outros dois, de que muito gosto: “Where dreams go to die” e “Greatest mother fucker”, de que aqui deixo o vídeoclip.
A sala rebentava pelas costuras e pelo entusiasmo do público, contagiando os próprios músicos, acredito que Grant regresse a Lisboa em breve para um concerto mais alargado.

Mas, e porque tinha direito a isso, esta noite mesmo, fui ver outro concerto, completamente diferente e no qual depositava muitas esperanças, nada defraudadas, antes pelo contrário – superou em muito as minhas expectativas. 
Num ambiente interessante, a Sociedade de Geografia, a fadista de que toda a gente fala e da qual eu só conhecia a poderosa voz: Gisela João!

E que concerto…ela é fogo, ou melhor é um vulcão! 
Canta com a voz, sim, mas também canta com o corpo, o corpo que ela movimenta constantemente em gestos pouco ou nada convencionais numa fadista; talvez os puristas do fado não gostem muito da forma como ela se apresenta, já que quanto à voz, ela é intocável, mas para mim a revelação mais que positiva está mesmo nessa postura dela em que se entrega de corpo e alma aos temas que interpreta. 
Mostrar aqui um vídeo apenas com o som da sua voz era talvez bastante, mas Gisela merece mais, pelo que escolhi um vídeo ao vivo, realizado na FNAC

e onde ela interpreta alguns dos fados mais marcantes do seu repertório e do qual destaco um que por razões evidentes me fez vir as lágrimas aos olhos e me fez imediatamente após o final falar com o Déjan e dizer-lhe que da próxima vez que ele vier a Portugal, iremos assistir, onde quer que seja a um concerto de Gisela João. 
Fiquei rendido.

Como não me emocionar com a sua interpretação intensa de um fado com esta letra?


Nem um poema, nem um verso, nem um canto

Tudo raso de ausência, tudo liso de espanto
Amiga, noiva, mãe, irmã, amante
Meu amigo está longe
E a distância é tão grande

Nem um som, nem um grito, nem um ai
Tudo calado, todos sem mãe nem pai
Amiga, noiva, mãe, irmã, amante
Meu amigo está longe
E a tristeza é tão grande

Ai esta mágoa, ai este pranto, ai esta dor
Dor do amor sozinho, o amor maior
Amiga, noiva, mãe, irmã, amante
Meu amigo está longe
E a saudade é tão grande.

Para finalizar, uma referência ao próximo acontecimento a que vou estar presente com uma imensa satisfação; é no próximo sábado, dia 7, pelas 22 horas, no Bar “O Século” , o lançamento do livro “O Corredor de Fundo”, traduzido pelo João Máximo e editado pela INDEX ebooks, do João e do Luís Chainho, de um dos mais importantes livros da literatura LGBT de sempre, “The Front Runner” de Patricia Nell Warren.


segunda-feira, 7 de outubro de 2013

"Putas de Lisboa"

Três personagens rodam a noite de Lisboa em busca de clientes: uma prostituta, um prostituto e um travesti brasileiro.
Manuela, Pedro e Samanta contam as suas aventuras e desventura, situações engraçadas e mesmo hilariantes à mistura com momentos dramáticos e menos felizes.
Depois encontram-se os três numa sala da Judiciária: foram «caçados» e aguardam interrogatório. Entre rivalidades e afinidades, surge logo ali uma grande amizade, entrecortada por momentos musicais.
Depois do enorme sucesso na passada temporada, com oito meses de lotações esgotadas no Teatro Estúdio Mário Viegas e mais 4 meses no Teatro Casa da Comédia, volta à cena a irreverente comédia de Ricardo Bargão, "Putas de Lisboa".
Agora, no Auditório Carlos Paredes, em Benfica, e depois de Ana Paula Mota e Sofia Nicholson terem integrado o elenco, seria a vez da cantora Paula Sá encarnar a prostituta, acompanhada do estreante Luis Nogueira no papel de prostituto e de Márcio de Oliveira, interpretando o travesti brasileiro.
 Simplesmente na representação a que assisti, (a última, aliás), por motivos que desconheço, Paula Sá foi substituída no papel de prostituta pelo próprio encenador, Ricardo Bargão, pelo que em palco estavam três homens.
E Ricardo Bargão esteve muito bem, diga-se de passagem, apesar de caber a Márcio de Oliveira a melhor representação.
Espectáculo muito divertido, com alguma interacção com o público e em que estive particularmente interventivo, deu para passar uma hora e meia em que se esqueceram crises e troikas, embora a peça tenha, já que se baseia em factos reais, momentos que nos fazem pensar em todos aqueles e aquelas que pelas ruas de Lisboa, vão fazendo a sua vida, nem sempre fácil, como se poderia supor pelo tom de comédia que impera durante quase toda a representação.
Uma linguagem bem libertina, mas ao mesmo tempo tão libertária e um nu integral fazem com que a peça seja para adultos.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Travis Mathews no "Queer Lisboa"

Travis Mathews (nascido em 1975) é um realizador e argumentista americano, principalmente trabalhando dentro do género do cinema documental.
 Abertamente gay, Mathews vive e trabalha em S. Francisco e até agora realizou a curta “I want your love” que eu mostrei há dias aqui no blog, e que foi filmada em 2010, tendo posteriormente feito uma longa metragem dessa curta, em 2012,
sendo os seus únicos filmes de ficção, tendo anteriormente apresentado vários documentários: em 2004, “Do I Look Fat?”, a série “In Their Room”, primeiro de S.Francisco (2009), depois Berlim (2011) e agora Londres (2013).
Mas o seu filme mais conhecido é aquele que codirigiu este ano, com James Franco, “Interior. Leather Bar”, sobre uma sequência suprimida do polémico filme de William Friedkin “A Caça”, com Al Pacino (1980), passada no interior de um bar gay.
Foram estes dois filmes, a curta “In Their Room – London” e “Interior. Leather Bar” que foram apresentados na terça feira no Queer Lisboa, com a presença do realizador Travis Mathews, que teve uma curta intervenção, bastante divertida, antes da apresentação dos filmes, numa sala quase lotada.
Sem dúvida que o Queer Lisboa deste ano tem tido noites muito especiais e é cada vez mais um acontecimento cinematográfico culturalmente muito importante do nosso país.

Foi apresentada em primeiro lugar, a curta metragem "In Their Room - London".
“In Their Room” é uma série de documentários sobre gays, quartos e intimidade. A série mostra os quartos dos homens, onde se veem fazendo de tudo, desde o mais banal ao (a maior parte das vezes) erótico. Complementando a natureza reveladora de suas atividades diárias há entrevistas confessionais sobre fantasias, que excitam,  e vulnerabilidades. O throughline da série destaca as maneiras pelas quais os homens gays em culturas diferentes lidam com conexão, intimidade e solidão no mundo moderno. 
Numa época de acelerada aceitação de gays e visibilidade, é chocante que muitas destas histórias estão sendo deixadas ficar numa situação irregular. A minha inspiração para a série veio em grande parte dessa frustração. Se as representações da minha vida e da vida dos meus amigos são em grande parte invisíveis na media eu pensei que eu deveria  gravar essas histórias antes de serem perdidas ou esquecidas. Eu faço isso da melhor maneira que possa concentrar-se em algo pareça autêntico, moderno e sem censura”, afirma Travis Mathews. 

A série é concebida como um projeto de longo prazo, com episódios recentes filmados em San Francisco e Berlim, e agora, Londres.
  

O episódio de Berlim foi apresentado no Queer do ano passado.

Depois, o prato forte, a longa metragem.
Este documentário tem tido grande êxito e é a pré-imaginarão desses 40 minutos suprimidos ao filme que servem de ponto de partida para uma exploração mais ampla da liberdade sexual e criativa.

Note-se que este filme “Interior. Leather Bar” vai ser apresentado brevemente nas salas do país, no que se prevê seja algo polémico, pois há sexo explícito no filme, o que é salutar no cinzentismo nacional…

sábado, 21 de setembro de 2013

Steve Ostrow e a "Continental Baths"

Começou o Festival Queer e devo confessar que não me agradou muito a ideia de ter como filme de abertura um documentário.
Sala cheia, palavras de circunstância e finalmente o filme; “Continental”, de Malcolm Ingram
foi o filme escolhido e quando acabou tive de me render e aplaudir este documentário, que me deu a conhecer factos e pessoas que desconhecia e que foram influentes, na época (finais da década de sessenta até meados da década de setenta), dando início a uma era de libertação sexual e estilos de vida alternativos que, até hoje, nunca foi igualado.

Os Continental Baths eram uma sauna gay na cave do Hotel Ansonia em Nova Iorque
inaugurados em 1968 por Steve Ostrow. Eram publicitados como uma reminiscência da "glória da Roma Antiga". O documentário mostra o clube, desde o auge da sua popularidade até ao início da década de 1970
Os Continental Baths tinham uma pista de dança, um salão de cabaret, salas de sauna,  uma piscina e tinham capacidade para 1.000 homens, estando abertas 24 horas por dia.
Um guia gay da década de 1970 descreveu os Continental Baths como um lugar que "revolucionou a cena das saunas de Nova Iorque"
 Tinham um sistema de alerta que avisava os clientes para a chegada da polícia. Havia também uma clínica para doenças sexualmente transmissíveis, um dispensador de A200 (um shampoo contra piolhos) nos chuveiros e lubrificante KY à venda nas máquina automáticas.
Aliás houve várias rusgas da polícia, com prisões e que só terminaram (por sugestão da própria polícia), com o pagamento de avultadas quantias por parte do dono, mostrando como a polícia era corrupta. Steve Ostrow
Quem teve a ideia de abrir estes Continental Baths foi um homem extraordinário, chamado Steve Ostrow.

Ele e a sua mulher meteram mãos à obra e fizeram deste local um dos mais míticos locais gay de Nova Iorque, como o foram o Stonewall ou o Studio 54.
Ostrow é uma personagem fascinante: casado, pai de dois filhos, após o nascimento deles a mulher não satisfazia sexualmente e ela própria viveu uma crise que a levou a tornar-se freira.
Não se contentando em explorar as instalações  apenas como local para sexo, e se havia sexo naqueles banhos…ele criou principalmente aos fins de semana, espectaculos  com diversos artistas, já que ele próprio era um artista (cantava ópera muito bem). E assim passaram por lá grandes nomes, entre eles destacando-se uma cantora que ali iniciou a sua carreira – Bette Midler.
Pelas suas performances nos Baths, Bette Midler era conhecida por Bathouse Betty. Foi nos Continental Baths, acompanhada ao piano por Barry Manilow (que, como os clientes, por vezes, se vestia apenas com uma toalha branca à cintura), que Bette Midler criou a sua persona de palco, a Divine Miss M.
  (a qualidade deste vídeo é bastante deficiente) 

A frequência era variada, entre gays e heterossexuais, tornando-se o local um dos mais famosos, onde se podiam encontrar Andy Wharol, Nureyev, que o utilizava essencialmente para encontros sexuais, Mick Jargger e tantos outros.
Um dos grandes momentos dos Continental Baths aconteceu quando Ostrow, convenceu uma das grandes divas da ópera na altura, a soprano Eleanor Steber a actuar ali tendo sido editado um disco com essa actuação e que é hoje uma raridade.
Nesse famoso concerto as toalhas brancas dos clientes foram substituídas por toalhas negras.

.Os banhos Continental perderam muita da sua clientela gay em 1974. A razão para o declínio foi, como um gay nova iorquino disse: "Acabámos por nos fartar desses shows tontos e exagerados. Todos esses heterossexuais na nossa sauna faziam-nos sentir como se fôssemos parte da decoração e que estávamos lá em exposição, para os divertir."
No final de 1974, o número de clientes era tão baixo que Steve Ostrow decidiu fechar o salão de cabaré. Concentrou-se, em vez disso, em ressuscitar o negócio que estava na origem da sauna. Chegou a fazer publicidade na WBLS, mas sem sucesso. Finalmente, Ostrow teve que fechar os Continental Barhs de vez. As instalações, contudo, foram reabertos em 1977 como um clube de troca de casais heterossexual, chamado Plato's Retreat, que se mudou para a W. 34th St. em 1980 e foi encerrado por ordem da câmara de Nova Iorque, no auge da epidemia da Sida.
A Continental foi um fenómeno que saiu de um mundo pré Sida e que provavelmente nunca iremos experimentar de novo. Mais do que ser apenas uma sauna e uma “vitrine”, os Banhos eram um lugar onde as pessoas saíram dos seus armários e se descobriram quem eram. Foi o primeiro estabelecimento gay para tratar os homossexuais como iguais e não explorá-los e foi fundamental para rescindir as leis contra a homossexualidade.
Depois do fecho da Continental Baths, Steve Ostrow foi viver para a Austrália, para Sidney, em 1987 onde finalmente realizou o seu sonho de ser cantor lírico, tendo tido uma carreira de sucesso, cantando ópera com as principais companhias de ópera de todo o mundo, incluindo a New York City Ópera, a San Francisco Ópera, a Ópera de Stuttgart, a Lyric Ópera de Queensland e a Ópera australiana. 
Fundou em 1991 uma organização de reconhecido mérito. O MAG - Mature Age Gay Men’s Group.

Só por uma questão de curiosidade, em 1975 o realizador David Buckley realizou um filme sobre este local e denominado “Saturday Night at the Baths”.





quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Cinemas de Lisboa - 6

Hoje faço uma ronda por cinemas um pouco diferentes, alguns dos quais tiveram outras actividades além do cinema.

O Cine-Teatro Capitólio é um edifício classificado de importância arquitectónica internacional. Localiza-se no Parque Mayer, um antigo recinto de diversões de Lisboa inaugurado em 1922. Luís Cristino da Silva, um dos arquitectos mais proeminentes do século XX português e considerado por especialistas como o introdutor do modernismo em Portugal foi o autor do projecto deste edifício.
Neste espaço houve de tudo um pouco, desde cinema de estreia, de categoria B, a cinema de reprise e até no seu final nos anos 80, a cinema pornográfico. Mas claro que muitas revistas à portuguesa ali se exibiram, como também zarzuelas e outros espectáculos musicais.
Tinha um terraço superior onde se projectavam também filmes, havia espectáculos musicais e no final da sua exploração foi transformado num rinque de patinagem e discoteca.
Hoje está muito degradado, mas há um plano de recuperação para este belo edifício, hoje denominado Teatro Raul Solnado, que variadas vezes ali actuou.

 Também dentro da mesma traça arquitectónica modernista é o edifício do Cinearte, no Largo de Santos.
Foi inaugurado em 1940 com um célebre filme de Frank Capra e mais tarde passou a cinema de reprise
.Esteve fechado durante a década de 80 e reabriu transformado em teatro, com duas salas e bar, onde funciona com regularidade a companhia de Teatro “A Barraca”, onde se destaca a grande comediante Maria do Céu Guerra

O Cinema Municipal esteve integrado na Feira Popular que funcionou nas décadas de 40 e 50 em Palhavã, onde agora estão os belos jardins da Gulbenkian e o Centro de Arte Moderna. Este cinema foi inaugurado em 1951 num edifício hoje não existente
e passou para Entrecampos, acompanhando a Feira Popular, tendo funcionado com cinema durante a década de 60.
Foi depois transformado em teatro, com a denominação de Teatro Vasco Santana, onde funcionou durante muitos anos uma das melhores companhias de teatro portuguesas, o Teatro Estúdio e onde vi excelentes peças. Mais tarde e com o fim dessa companhia de teatro, o edifício passou a chamar-se Auditório Ana Bola, mas acabou por ser destruído com o fecho da Feira Popular.

Uma sala com um percurso muito curioso situava-se no Rego, mais propriamente na Rua da Beneficiência e começou por chamar-se Cine Bélgica, inaugurado em 1928, passando filmes de reprise.
Em 1968 passou a chamar-se Cinema Universitário, dada a proximidade da Cidade Universitária e em 1973 mudou de nome novamente, para Cinema Universal, passando a pertencer à empresa Animatógrafo, de Cunha Teles e que logo após o 25 de Abril se tornou o templo do cinema revolucionário do PREC. Em 1980 uma nova fase desta sala aconteceu com a sua transformação numa das mais famosas salas de concertos de Lisboa para o público juvenil – o “Rock Rendez Vous” que durou até 1990.
O edifício foi entretanto demolido e hoje naquele local está um edifício moderno onde está instalado um café cujo dono ainda mantém o culto do passado daquele lugar tendo como decoração fotos dos variados usos da sala ao longo dos anos.

Um outro cinema diferente desta nossa Lisboa foi o Cinema Lumiar, no início da Calçada de Carriche, e cujo edifício ainda lá está para venda.
Foi inaugurado em 1968 e tinha ecran para projecções em 70 mm.
Tinha uma programação essencialmente baseada em produções asiáticas e acabou por encerrar em 1977
Ao contrário dos restantes, este cinema não teve outras actividades.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Cinemas de Lisboa - 5

Hoje vou falar de apenas quatro salas de cinema de Lisboa
Aquelas em que foi ou ainda é exibido cinema pornográfico.
Estes cinemas são quase só frequentados por público masculino e poucos lá irão com o simples intuito de ver um filme porno heterossexual. Transformaram-se talvez nos maiores centros de cruising homossexual lisboeta.
Um exemplo disso é um anúncio deste tipo que se pode ler em certos jornais:  
"Procuro macho activo muito homem para sexo oral em cinema porno. Caso esteja interessado contacte  xxxxxx.hotmail.com"

Comecemos pelo "Animatógrafo do Rossio" que fica situado na Rua dos Sapateiros, imediatamente a seguir ao Arco de Bandeira, pelo que também há gente que o chame por este nome.
O “Animatógrafo do Rossio” abriu no começo do século XX e foi dos mais elegantes cinemas de Lisboa, com uma fachada lindíssima, no estilo Arte Nova, que felizmente, pese embora as variadas funções do espaço, se mantém.
Também teve nas ultimas décadas do século a sua fase de “piolho” e depois de exibições pornográficas (foi ali que me aconteceu “algo”, na única vez que ali entrei, que me fez envergonhar de sair para a rua, e mais não digo…).
Era uma sala pequena, com uma entrada e uma saída diferentes, para lá daquelas cortinas de veludo vermelho.
Desde 1994 que passou a ser uma sex shop com espectáculos de “peep show” femininos.


O "Cinema Paraíso", situado perto do Largo Camões, que nasceu no princípio do século XX e teve inúmeras reincarnações: começou como Salão Ideal, depois para Cinema Ideal

passando por Cine Camões e acabando na actual designação de Cine Paraíso.
A sua programação também foi atribulada, pois começou por ser de estreia, depois passou pela reprise, descendo à condição de “piolho” com dois filmes por sessão (mantendo o nome de Cinema Ideal); quando adoptou o nome de Cine Camões exibiu filmes indianos e como Cinema Paraíso rendeu-se ao cinema porno, apesar da tentativa infrutífera da cooperativa Cinema Novo de implementar uma programação normal há alguns anos atrás (recordo-me de lá ter decorrido um excelente ciclo de cinema alemão num dos festivais Queer de Lisboa).
Relativamente ao seu tamanho é uma sala pequena (260 lugares) e que contém cadeiras que pertenceram ao saudoso Cine-Teatro Monumental, o que lhe confere uma certa grandiosidade.
Aproveito para deixar aqui um link, que relata uma ida de uma pessoa a este cinema, avisando desde já que este link tem uma ENORME bola vermelha, pelo que se devem abster de o ler os espíritos mais puritanos.
Curiosamente esta situação aqui relatada é semelhante em quase tudo ao que acontecia no Olympia.

Passemos ao mais famoso dos quatro - o "Olympia"
O Olympia foi inaugurado em 1911.
Era composto por salões para concertos e para exibições animatográficas, um gabinete para leitura e um restaurante.
Até 1975 foi um espaço consagrado ao cinema nacional, tendo também sido utilizado para peças de teatro e conferências.
Após o 25 de Abril começou a exibir filmes pornográficos.
Acabaria por ser definitivamente abandonado em 2001.
O encenador Filipe La Féria comprou o espaço em 2008.
Este foi o mais célebre cinema pornográfico de Lisboa, sendo assim como que um Cine Carretas madrileno, na nossa capital.
Fui lá variadas vezes e não vou entrar em muitos pormenores, pois o link ali de cima diz tudo o que aqui também se fazia, mas não só na sala, também nos WC e à vista de toda a gente.
Não era anormal verem-se caras conhecidas publicamente e uma coisa a que eu sempre achei alguma piada eram aqueles indivíduos trintões, quarentais e até mais velhos, que entravam com o jornal “A Bola” debaixo do braço, mostrando assim alguma “virilidade”, mas o jornal era também usado quando sentados para ocultar as cenas sexuais que ousavam praticar…
E, história verídica – quando alguém perguntou ao gerente porque não passava, naturalmente, a exibir filmes porno homossexuais, tendo em conta aquilo em que o cinema se havia tornado, respondeu o dito: “Nem pensar, eu sou um negociante honesto e um bom pai de família, porcarias dessas aqui, nunca!”

Finalmente um dos que ainda está "activo", é o "Cinebolso"

Sala situada na Rua Actor Taborda, que apareceu já depois do 25 de Abril. Até ao fim da década de 70 teve uma programação interessante (“La Salamandre”, “Joe Hill”, “Belle de Jour”, são alguns bons exemplos dos filmes que por lá passavam),
mas a partir de 1980 voltou-se em exclusivo para o cinema pornográfico. 
Em 1982 ainda passou pelas mão de Pedro Bandeira Freire, que lhe mudou o nome para Quinteto, transformando-o numa extensão do então muito bem sucedido Quarteto. 
No entanto a nova programação esbarrou no público habituado daquele espaço e a sala regressou às suas origens, voltando a chamar-se Cinebolso e de novo com uma programação exclusivamente feita de filmes pornográficos, mantendo-se assim até hoje. 
É curioso que das quatro salas aqui citadas apenas esta teria tido ou tem publico feminino nestas sessões porno; pelo menos tenho uma vaga ideia de ter ouvido falar em “engates” heterossexuais previamente combinados para este cinema… 
E de todas elas foi sempre a mais “soft” das quatro. 
Apenas lá fui uma vez e pude constatar isso.