Depois das senhoras (ladies first), os cavalheiros.
Numa escolha dos melhores dançarinos que foram também actores, dois nomes são incontornáveis: Fred Astaire e Gene Kelly.
Mas houve outros, muitos outros, que pontualmente num filme ou outro (nos grandes musicais) nos surpreenderam e deliciaram; entre eles recordo duas interpretações inesquecíveis - George Chakiris no "West Side Story" e Patrick Swayze em "Dirty Dancing".
Mas as restantes escolhas além de Astaire e Kelly acabaram por recair em dois grandes dançarinos: um quase desconhecido Donald O'Connor e na estreia como actor de John Travolta, ambos brilhantes.
Aqui ficam quatro vídeos para recordar estes quatro nomes.
Quer se queira, quer não e por muito que se goste do cinema independente e/ou do cinema europeu, os Óscares continuam a ser um dos momentos mais importantes do ano cinematográfico.
Basta ver a esmagadora maioria da produção americana na distribuição cinematográfica da maior parte dos países, para se ver o alcance que os filmes premiados ou mesmo só os nomeados têm; eu gosto do cinema americano, embora me recuse a ver todos aqueles "blockbusters" baseados nos heróis da BD, as inúmeras sequelas de um ou outro pequeno sucesso comercial, a imensidão de filmes gratuitos sobre vampiros, zombies ou mortos vivos ou os muito bem sucedidos filmes de animação cada vez mais rebuscados.
Sucede que recentemente tive e tenho a possibilidade de sem pagar um cêntimo ter acesso a filmes recentes, devidamente legendados, bem como séries (disso falarei um dia destes), e num espaço de tempo extremamente rápido.
E assim tenho para ver inúmeros bons filmes, alguns deles candidatos aos Óscares relativos a 2013; já vi três deles, dos quais aqui vou deixar os "trailers", mas muitos outras vou ver talvez ainda antes da cerimónia: "Gravidade", "Golpada Americana", "Capitão Philips", "Her - uma história de amor".
Ainda não tenho outros que gostaria, mas devem estar a chegar...: "Nebraska", "Blue Jasmin", "Philomena" e principalmente o candidato ao melhor filme estrangeiro "A Grande Beleza".
E aqui estão os três filmes já vistos.
O primeiro é um filme que provavelmente conquistará os Óscares das interpretações masculinas - Matthew McConaughey, como actor principal e Jared Leto, surpreendente, como actor secundário; trata-se de "O Clube de Dallas"
Depois vi "O Lobo de Wall Street", do grande Scorsese, que embora não seja para mim, um dos seus melhores filmes. é sempre um filme de Scorsese, e está tudo dito. Aqui reside a única hipótese de Matthew McConaughey não ganhar o Óscar; é se a Academia resolve premiar finalmente o excelente actor que Leonardo Di Caprio realmente é e aqui o demonstra perfeitamente.
Finalmente o terceiro filme que já vi, é um bom filme de um realizador que se tem vindo a afirmar - Steve McQueen, extremamente forte sobre a escravatura no sul dos EUA, no século XIX; grande aposta para os Globos de Ouro, apenas ganhou um, mas muito importante - o melhor filme.
Aqui aposto na interpretação secundária - Lupita Nyong'o.
Faleceu, com 80 anos, Claudio Abbado, um dos maiores maestros do século XX, e que eu tive o privilégio de ver ao vivo, dirigindo a Orquestra Filarmónica de Berlim, num concerto no Coliseu dos Recreios, integrado no saudoso Festival Gulbenkian de Música (olá Madalena Azeredo Perdigão, onde quer que estejas...), lá pelos anos 90.
Numa homenagem ao grande maestro deixo aqui talvez o trecho de música clássica que mais aprecio (ainda ontem numa agradável reunião de amigos referi isso), o Adagietto da 5ª.Sinfonia de Mahler, e que nos traz à memória a fabulosa cena final do filme "Morte em Veneza", de Visconti
Para quem gosta mesmo de música clássica, e principalmente da música de Mahler, fica a sinfonia completa, um óptimo refúgio para depois de um dia de trabalho.
Um dos mais belos poemas de Fernando Pessoa, na interpretação maravilhosa de Maria Bethânia
Este é quase o poema integral que Fernando Pessoa escreveu no seu livro "O Guardador de Rebanhos", do heterónimo Alberto Caeiro e que aqui deixo na integra:
Num meio-dia de fim de
Primavera Tive um sonho como
uma fotografia. Vi Jesus Cristo
descer à terra. Veio pela encosta
de um monte Tornado outra vez
menino, A correr e a rolar-se pela erva E a arrancar flores para as deitar fora E a rir de modo a ouvir-se de longe.
Tinha fugido do céu. Era nosso demais para fingir De segunda pessoa da Trindade. No céu tudo era falso, tudo em desacordo Com flores e árvores e pedras. No céu tinha que estar sempre sério E de vez em quando de se tornar outra vez homem E subir para a cruz, e estar sempre a morrer Com uma coroa toda à roda de espinhos E os pés espetados por um prego com cabeça, E até com um trapo à roda da cintura Como os pretos nas ilustrações. Nem sequer o deixavam ter pai e mãe Como as outras crianças. O seu pai era duas pessoas - Um velho chamado José, que era carpinteiro, E que não era pai dele; E o outro pai era uma pomba estúpida, A única pomba feia do mundo Porque nem era do mundo nem era pomba. E a sua mãe não tinha amado antes de o ter. Não era mulher: era uma mala Em que ele tinha vindo do céu. E queriam que ele, que só nascera da mãe, E que nunca tivera pai para amar com respeito, Pregasse a bondade e a justiça!
Um dia que Deus estava a dormir E o Espírito Santo andava a voar, Ele foi à caixa dos milagres e roubou três. Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele
tinha fugido. Com o segundo criou-se eternamente humano e menino. Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz E deixou-o pregado na cruz que há no céu E serve de modelo às outras. Depois fugiu para o Sol E desceu no primeiro raio que apanhou. Hoje vive na minha aldeia comigo. É uma criança bonita de riso e natural. Limpa o nariz ao braço direito, Chapinha nas poças de água, Colhe as flores e gosta delas e esquece-as. Atira pedras aos burros, Rouba a fruta dos pomares E foge a chorar e a gritar dos cães. E, porque sabe que elas não gostam E que toda a gente acha graça, Corre atrás das raparigas Que vão em ranchos pelas estradas Com as bilhas às cabeças E levanta-lhes as saias.
A mim ensinou-me tudo. Ensinou-me a olhar para as coisas. Aponta-me todas as coisas que há nas flores. Mostra-me como as pedras são engraçadas Quando a gente as tem na mão E olha devagar para elas.
Diz-me muito mal de Deus. Diz que ele é um velho estúpido e doente, Sempre a escarrar para o chão E a dizer indecências. A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer
meia. E o Espírito Santo coça-se com o bico E empoleira-se nas cadeiras e suja-as. Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica. Diz-me que Deus não percebe nada Das coisas que criou - "Se é que ele as criou, do que duvido." - "Ele diz por exemplo, que os seres cantam a
sua glória, Mas os seres não cantam nada. Se cantassem seriam cantores. Os seres existem e mais nada, E por isso se chamam seres." E depois, cansado de dizer mal de Deus, O Menino Jesus adormece nos meus braços E eu levo-o ao colo para casa.
Até que nasça qualquer dia Que tu sabes qual é.
Esta é a história do meu Menino Jesus. Por que razão que se perceba Não há-de ser ela mais verdadeira Que tudo quanto os filósofos pensam E tudo quanto as religiões ensinam ?
[Alberto Caeiro (heterônimo de Fernando Pessoa),
Poema do Menino Jesus]
Como disse no meu último
post, este blog não seria encerrado, mas “cessaria funções”, apenas reabrindo
para alguma coisa de uma maior importância.
Há por assim dizer duas
semanas que nada aqui ponho, e tenho no entanto lido os blogs que acompanho,
(nem todos), pois comecei alfabeticamente de trás para a frente e o constante
movimento bloguístico ainda não me permitiu chegar acima do “D”…
Tenho comentado minimamente,
quando uma postagem me chama por esse comentário.
E agora, que sucedeu, de tão
importante que justifique esta entrada?.
Nada verdadeiramente importante,
apenas meia dúzia de coisas que eu gostaria de referir com maior destaque do
que aquele que as redes sociais permitem.
E assim, este vai ser um
longo post e variado nos assuntos versados.
Começo por falar de saúde,
da minha e não só, pois eu, que sou diabético
desde há uns anos (entre outras
patologias, onde avulta uma angina de peito), tive no Verão uma desagradável
surpresa com os resultados anormalmente altos da glicémia o que fez com que, finalmente,tivesse tomado juízo no que
respeita à alimentação e à movimentação física; entretanto fui aceite na
Associação dos Diabéticos e parece que já começa a haver resultados positivos…
Pior é um problema que muito
me afectou, pois um amigo de infância, daqueles com quem almoço aqui em Lisboa,
todos os meses, um ano mais velho que eu, foi sujeito a uma cirurgia para
eliminar um tumor maligno no cérebro,
isto depois de há três meses atrás ter
tido o mesmo problema na próstata (casos completamente não relacionados).
Estas
coisas tocam-me muito fundo e vou-me abaixo psicologicamente.
As coisas parecem terem corrido bem, mas ainda não há relatórios da biópsia…
Mas deixemos as coisa mais
desagradáveis, pois também há referências a factos muito positivos:
Conheci dois amigos que por
acaso não têm relação com a blogo, mas que são muito porreiros e é sempre bom
aumentar o grupo de amigos se a Amizade é boa e não interesseira em qualquer
aspecto.
Mas, no que respeita a conhecimentos, o facto mais relevante foi ter
conhecido finalmente a minha Amiga virtual de há muitos anos, a “Justine” do
blog “Quarteto de Alexandria”.
Claro que não foi surpresa
nenhuma o imenso prazer que tive nesse encontro, que teve lugar na Gulbenkian,
onde fomos ver uma maravilhosa exposição que merece ser vista por toda a gente,
pois é magnífica - "O Brilho das Cidades - A Rota do Azulejo”, uma viagem
pelo mundo do azulejo, no tempo e nos mais diversificados locais.
Após a visita, uma muito
interessante conversa fez-me apenas concluir o que já sabia – a Justine é uma
pessoa de uma grande sensibilidade, possuidora de uma cultura muito acima da
média e com uma vivência e experiência de vida notáveis. Foi o nosso primeiro
encontro, mas não o último, estou certo.
Entretanto, eu que por
vezes me desleixo com o que de bom acontece em Lisboa, no campo cultural, não
só visitei uma excelente exposição (e atenção que outra deveras interessante
está agora a começar no Museu Nacional de Arte Antiga),
fui alertado por um
amigo da Covilhã sobre um concerto do John Grant em Lisboa, e apenas isso aconteceu na
véspera do mesmo, ou seja na passada quinta feira, e o concerto foi ontem,
sexta, no S.Jorge, às 23 horas.
Foi um concerto integrado no Vodafone Mexefest,
um festival com múltiplos concertos em variados locais lisboetas, circunscritos
à zona entre o Marquês de Pombal e o Rossio.
Paga-se uma importância fixa (40
euros) e com uma pulseira em troca do bilhete tem-se acesso a todos os eventos.
Claro que o meu interesse
era o John Grant, mas já que tinha oportunidade assisti também na mesma sala,
mas antes, um concerto de Márcia, que não conhecia, e que trouxe dois convidados
para dois duetos cada – Samuel Úria e António Zambujo; claro que a duração dos
concertos é reduzida e quase nunca ultrapassa uma hora, pelo que se fica a
pedir mais e assim, eu que nunca tinha ouvido o Zambujo ao vivo fiquei com
vontade de o ouvir durante mais tempo.
Márcia e Samuel cumpriram…
Quanto a John Grant é um
dos meus ídolos desde que ouvi duas músicas dele no excelente filme “Weekend”,
aliás os dois maiores êxitos do seu primeiro disco – “I wanna go to Marz” e “Queen
of Denmark”.
Foi com este último tema que ele fechou um concerto memorável,
talvez o melhor concerto a que já assisti.
Além destes dois temas
sobressaem outros dois, de que muito gosto: “Where dreams go to die” e “Greatest
mother fucker”, de que aqui deixo o vídeoclip.
A sala rebentava pelas
costuras e pelo entusiasmo do público, contagiando os próprios músicos,
acredito que Grant regresse a Lisboa em breve para um concerto mais alargado.
Mas, e porque tinha
direito a isso, esta noite mesmo, fui ver outro concerto, completamente
diferente e no qual depositava muitas esperanças, nada defraudadas, antes pelo
contrário – superou em muito as minhas expectativas. Num ambiente interessante,
a Sociedade de Geografia, a fadista de que toda a gente fala e da qual eu só
conhecia a poderosa voz: Gisela João!
E que concerto…ela é
fogo, ou melhor é um vulcão! Canta com a voz, sim, mas também canta com o
corpo, o corpo que ela movimenta constantemente em gestos pouco ou nada
convencionais numa fadista; talvez os puristas do fado não gostem muito da
forma como ela se apresenta, já que quanto à voz, ela é intocável, mas para mim
a revelação mais que positiva está mesmo nessa postura dela em que se entrega
de corpo e alma aos temas que interpreta. Mostrar aqui um vídeo apenas com o
som da sua voz era talvez bastante, mas Gisela merece mais, pelo que escolhi um vídeo ao
vivo, realizado na FNAC
e onde ela interpreta alguns dos fados mais marcantes
do seu repertório e do qual destaco um que por razões evidentes me fez vir as
lágrimas aos olhos e me fez imediatamente após o final falar com o Déjan e dizer-lhe
que da próxima vez que ele vier a Portugal, iremos assistir, onde quer que seja
a um concerto de Gisela João. Fiquei rendido.
Como não me emocionar com
a sua interpretação intensa de um fado com esta letra?
Nem um poema, nem um verso, nem um canto Tudo raso de
ausência, tudo liso de espanto Amiga, noiva, mãe,
irmã, amante Meu amigo está longe E a distância é tão
grande
Nem um som, nem um
grito, nem um ai Tudo calado, todos
sem mãe nem pai Amiga, noiva, mãe,
irmã, amante Meu amigo está longe E a tristeza é tão
grande
Ai esta mágoa, ai
este pranto, ai esta dor Dor do amor sozinho,
o amor maior Amiga, noiva, mãe,
irmã, amante Meu amigo está longe E a saudade é tão
grande.
Para finalizar, uma
referência ao próximo acontecimento a que vou estar presente com uma imensa
satisfação; é no próximo sábado, dia 7, pelas 22 horas, no Bar “O Século” , o
lançamento do livro “O Corredor de Fundo”, traduzido pelo João Máximo e editado
pela INDEX ebooks, do João e do Luís Chainho, de um dos mais importantes livros
da literatura LGBT de sempre, “The Front Runner” de Patricia Nell Warren.
Três personagens rodam a noite de Lisboa em busca de clientes: uma prostituta, um prostituto e um travesti brasileiro.
Manuela, Pedro e Samanta contam as suas aventuras e desventura, situações engraçadas e mesmo hilariantes à mistura com momentos dramáticos e menos felizes.
Depois encontram-se os três numa sala da Judiciária: foram «caçados» e aguardam interrogatório. Entre rivalidades e afinidades, surge logo ali uma grande amizade, entrecortada por momentos musicais.
Depois do enorme sucesso na passada temporada, com oito meses de lotações esgotadas no Teatro Estúdio Mário Viegas e mais 4 meses no Teatro Casa da Comédia, volta à cena a irreverente comédia de Ricardo Bargão, "Putas de Lisboa".
Agora, no Auditório Carlos Paredes, em Benfica, e depois de Ana Paula Mota e Sofia Nicholson terem integrado o elenco, seria a vez da cantora Paula Sá encarnar a prostituta, acompanhada do estreante Luis Nogueira no papel de prostituto e de Márcio de Oliveira, interpretando o travesti brasileiro.
Simplesmente na representação a que assisti, (a última, aliás), por motivos que desconheço, Paula Sá foi substituída no papel de prostituta pelo próprio encenador, Ricardo Bargão, pelo que em palco estavam três homens.
E Ricardo Bargão esteve muito bem, diga-se de passagem, apesar de caber a Márcio de Oliveira a melhor representação.
Espectáculo muito divertido, com alguma interacção com o público e em que estive particularmente interventivo, deu para passar uma hora e meia em que se esqueceram crises e troikas, embora a peça tenha, já que se baseia em factos reais, momentos que nos fazem pensar em todos aqueles e aquelas que pelas ruas de Lisboa, vão fazendo a sua vida, nem sempre fácil, como se poderia supor pelo tom de comédia que impera durante quase toda a representação.
Uma linguagem bem libertina, mas ao mesmo tempo tão libertária e um nu integral fazem com que a peça seja para adultos.
Travis Mathews (nascido em 1975) é um realizador e argumentista americano, principalmente trabalhando dentro do género do cinema documental.
Abertamente gay, Mathews vive e trabalha em S. Francisco e até agora realizou a curta “I want your love” que eu mostrei há dias aqui no blog, e que foi filmada em 2010, tendo posteriormente feito uma longa metragem dessa curta, em 2012,
sendo os seus únicos filmes de ficção, tendo anteriormente apresentado vários documentários: em 2004, “Do I Look Fat?”, a série “In Their Room”, primeiro de S.Francisco (2009), depois Berlim (2011) e agora Londres (2013).
Mas o seu filme mais conhecido é aquele que codirigiu este ano, com James Franco, “Interior. Leather Bar”, sobre uma sequência suprimida do polémico filme de William Friedkin “A Caça”, com Al Pacino (1980), passada no interior de um bar gay.
Foram estes dois filmes, a curta “In
Their Room – London” e “Interior. Leather Bar” que foram apresentados na terça
feira no Queer Lisboa, com a presença do realizador Travis Mathews, que teve
uma curta intervenção, bastante divertida, antes da apresentação dos filmes,
numa sala quase lotada.
Sem dúvida que o Queer Lisboa
deste ano tem tido noites muito especiais e é cada vez mais um acontecimento
cinematográfico culturalmente muito importante do nosso país.
Foi apresentada em primeiro lugar, a curta metragem "In Their Room - London".
“In Their Room” é uma série de documentários sobre gays, quartos e
intimidade.A
série mostra os quartos dos homens, onde se veem fazendo de tudo, desde o mais
banal ao (a maior parte das vezes) erótico.Complementando
a natureza reveladora de suas atividades diárias há entrevistas confessionais
sobre fantasias, que excitam, e
vulnerabilidades.O
throughline da série destaca as maneiras pelas quais os homens gays em culturas
diferentes lidam com conexão, intimidade e solidão no mundo moderno.
“Numa época de acelerada aceitação de gays e
visibilidade, é chocante que muitas destas histórias estão sendo deixadas ficar
numa situação irregular.A
minha inspiração para a série veio em grande parte dessa frustração.Se
as representações da minha vida e da vida dos meus amigos são em grande parte
invisíveis na media eu pensei que eu deveria
gravar essas histórias antes de serem perdidas ou esquecidas.Eu
faço isso da melhor maneira que possa concentrar-se em algo pareça autêntico,
moderno e sem censura”, afirma Travis Mathews.
A série é concebida como um projeto de longo prazo, com episódios
recentes filmados em San Francisco e Berlim, e agora, Londres. O
episódio de Berlim foi apresentado no Queer do ano passado. Depois, o prato forte, a longa metragem.
Este
documentário tem tido grande êxito e é a pré-imaginarão desses 40
minutos suprimidos ao filme que servem de ponto de partida para uma exploração
mais ampla da liberdade sexual e criativa.
Note-se que este filme “Interior. Leather Bar” vai ser apresentado brevemente nas salas do país, no que se prevê seja algo polémico, pois há sexo explícito no filme, o que é salutar no cinzentismo nacional…
Começou o Festival Queer e devo confessar que não me
agradou muito a ideia de ter como filme de abertura um documentário.
Sala cheia, palavras de circunstância e finalmente o
filme; “Continental”, de Malcolm Ingram
foi o filme escolhido e quando acabou
tive de me render e aplaudir este documentário, que me deu a conhecer factos e
pessoas que desconhecia e que foram influentes, na época (finais da década de
sessenta até meados da década de setenta), dando início a uma era de libertação
sexual e estilos de vida alternativos que, até hoje, nunca foi igualado.
OsContinental
Baths eram uma
sauna gay na cave do Hotel Ansonia emNova
Iorque
inaugurados
em 1968 por Steve Ostrow.
Eram publicitados como uma reminiscência da
"glória da Roma Antiga".O
documentáriomostra o clube, desde o
auge da sua popularidade até ao início da década de 1970
Os Continental Baths tinham uma
pistade dança, um salão de cabaret,salas de sauna, uma piscina e tinham capacidade para 1.000
homens, estando abertas 24 horas por dia.
Um guia gay da década de 1970
descreveu os Continental Baths como um lugar que "revolucionou a cena das
saunas deNova Iorque"
Tinham
um sistema de alerta que avisava os clientes para a chegada da polícia. Havia
também uma clínica para doenças sexualmente transmissíveis, um dispensador de
A200 (um shampoo contra piolhos) nos chuveiros elubrificante KYà venda nas máquina automáticas.
Aliás houve várias rusgas da polícia, com
prisões e que só terminaram (por sugestão da própria polícia), com o pagamento
de avultadas quantias por parte do dono, mostrando como a polícia era corrupta.
Steve Ostrow
Quem teve a ideia de abrir estes Continental
Baths foi um homem extraordinário, chamado Steve Ostrow.
Ele e a sua mulher
meteram mãos à obra e fizeram deste local um dos mais míticos locais gay de
Nova Iorque, como o foram o Stonewall ou o Studio 54.
Ostrow é uma personagem fascinante: casado,
pai de dois filhos, após o nascimento deles a mulher não satisfazia sexualmente
e ela própria viveu uma crise que a levou a tornar-se freira.
Não se contentando em explorar as instalações
apenas como local para sexo, e se havia
sexo naqueles banhos…ele criou principalmente aos fins de semana, espectaculos com diversos artistas, já que ele próprio era
um artista (cantava ópera muito bem). E assim passaram por lá grandes nomes,
entre eles destacando-se uma cantora que ali iniciou a sua carreira – Bette Midler.
Pelas suas performances nos
Baths,Bette Midlerera conhecida por Bathouse Betty. Foi
nos Continental Baths, acompanhada ao piano porBarry Manilow(que, como os clientes, por vezes, se
vestia apenas com uma toalha branca à cintura), que Bette Midler criou a sua
persona de palco, a Divine Miss M.
(a qualidade deste vídeo é bastante deficiente) A frequência era variada, entre
gays e heterossexuais, tornando-se o local um dos mais famosos, onde se podiam
encontrar Andy Wharol, Nureyev, que o utilizava essencialmente para encontros
sexuais, Mick Jargger e tantos outros.
Um dos grandes momentos dos Continental Baths
aconteceu quando Ostrow, convenceu uma das grandes divas da ópera na altura, a soprano Eleanor Steber a actuar
ali tendo sido editado um disco com essa actuação e que é hoje uma raridade.
Nesse famoso concerto as toalhas brancas dos clientes foram substituídas por
toalhas negras.
.Os
banhos Continental perderam muita da sua clientela gay em 1974. A razão para o
declínio foi, como um gay nova iorquino disse: "Acabámos por nos fartar
desses shows tontos e exagerados. Todos esses heterossexuais na nossa sauna
faziam-nos sentir como se fôssemos parte da decoração e que estávamos lá em exposição,
para os divertir."
No final de 1974, o número de
clientes era tão baixo que Steve Ostrow decidiu fechar o salão de cabaré.
Concentrou-se, em vez disso, em ressuscitar o negócio que estava na origem da
sauna. Chegou a fazer publicidade na WBLS, mas sem sucesso. Finalmente, Ostrow
teve que fechar os Continental Barhs de vez. As instalações, contudo, foram
reabertos em 1977 como um clube detroca de casaisheterossexual, chamado Plato's Retreat, que se mudou para a
W. 34th St. em 1980 e foi encerrado por ordem da câmara de Nova Iorque, no auge
da epidemia da Sida.
A Continental foi um fenómeno que
saiu de um mundo pré Sida e que provavelmente nunca iremos experimentar de
novo. Mais do que ser apenas uma sauna e uma “vitrine”, os Banhos eram um lugar
onde as pessoas saíram dos seus armários e se descobriram quem eram. Foi o
primeiro estabelecimento gay para tratar os homossexuais como iguais e não
explorá-los e foi fundamental para rescindir as leis contra a homossexualidade.
Depois do fecho da Continental
Baths, Steve Ostrow foi viver para a Austrália, para Sidney, em 1987 onde
finalmente realizou o seu sonho de ser cantor lírico, tendo tido uma carreira
de sucesso, cantando ópera com as principais companhias de ópera de todo o mundo,
incluindo a New York City Ópera, a San Francisco Ópera, a Ópera de Stuttgart, a
Lyric Ópera de Queensland e a Ópera australiana.
Fundou em 1991 uma organização de
reconhecido mérito. O MAG - Mature
Age Gay Men’s Group.
Só
por uma questão de curiosidade, em 1975 o realizador David Buckley realizou um
filme sobre este local e denominado “Saturday Night at the Baths”.
Hoje faço uma ronda por cinemas um pouco diferentes, alguns
dos quais tiveram outras actividades além do cinema.
O Cine-Teatro Capitólio é um edifício classificado de
importância arquitectónica internacional. Localiza-se no Parque Mayer, um
antigo recinto de diversões de Lisboa inaugurado em 1922. Luís Cristino da Silva,
um dos arquitectos mais proeminentes do século XX português e considerado por
especialistas como o introdutor do modernismo em Portugal foi o autor do
projecto deste edifício.
Neste espaço houve de tudo um pouco, desde cinema de
estreia, de categoria B, a cinema de reprise e até no seu final nos anos 80, a cinema
pornográfico. Mas claro que muitas revistas à portuguesa ali se exibiram, como
também zarzuelas e outros espectáculos musicais.
Tinha um terraço superior onde se projectavam também filmes,
havia espectáculos musicais e no final da sua exploração foi transformado num
rinque de patinagem e discoteca.
Hoje está muito degradado, mas há um plano de recuperação
para este belo edifício, hoje denominado Teatro Raul Solnado, que variadas
vezes ali actuou.
Também dentro da mesma traça arquitectónica modernista é o
edifício do Cinearte, no Largo de Santos.
Foi inaugurado em 1940 com um célebre
filme de Frank Capra e mais tarde passou a cinema de reprise
.Esteve fechado
durante a década de 80 e reabriu transformado em teatro, com duas salas e bar,
onde funciona com regularidade a companhia de Teatro “A Barraca”, onde se
destaca a grande comediante Maria do Céu Guerra
O Cinema Municipal esteve integrado na Feira Popular que
funcionou nas décadas de 40 e 50 em Palhavã, onde agora estão os belos jardins
da Gulbenkian e o Centro de Arte Moderna. Este cinema foi inaugurado em 1951
num edifício hoje não existente
e passou para Entrecampos, acompanhando a Feira
Popular, tendo funcionado com cinema durante a década de 60.
Foi depois transformado em teatro, com a denominação de
Teatro Vasco Santana, onde funcionou durante muitos anos uma das melhores
companhias de teatro portuguesas, o Teatro Estúdio e onde vi excelentes peças.
Mais tarde e com o fim dessa companhia de teatro, o edifício passou a chamar-se
Auditório Ana Bola, mas acabou por ser destruído com o fecho da Feira Popular.
Uma sala com um percurso muito curioso situava-se no Rego,
mais propriamente na Rua da Beneficiência e começou por chamar-se Cine Bélgica,
inaugurado em 1928, passando filmes de reprise.
Em 1968 passou a chamar-se Cinema Universitário, dada a
proximidade da Cidade Universitária e em 1973 mudou de nome novamente, para
Cinema Universal, passando a pertencer à empresa Animatógrafo, de Cunha Teles e
que logo após o 25 de Abril se tornou o templo do cinema revolucionário do
PREC. Em 1980 uma nova fase desta sala aconteceu com a sua transformação numa
das mais famosas salas de concertos de Lisboa para o público juvenil – o “Rock
Rendez Vous” que durou até 1990.
O edifício foi entretanto demolido e hoje naquele local está
um edifício moderno onde está instalado um café cujo dono ainda mantém o culto
do passado daquele lugar tendo como decoração fotos dos variados usos da sala
ao longo dos anos.
Um outro cinema diferente desta nossa Lisboa foi o Cinema
Lumiar, no início da Calçada de Carriche, e cujo edifício ainda lá está para
venda.
Foi inaugurado em 1968 e tinha ecran para projecções em 70
mm.
Tinha uma programação essencialmente baseada em produções
asiáticas e acabou por encerrar em 1977
Ao contrário dos restantes, este cinema não teve outras actividades.
Hoje vou falar de apenas quatro salas de cinema de Lisboa
Aquelas em que foi ou ainda é exibido cinema pornográfico.
Estes cinemas são quase só frequentados por público
masculino e poucos lá irão com o simples intuito de ver um filme porno
heterossexual. Transformaram-se talvez nos maiores centros de cruising homossexual lisboeta.
Um exemplo disso é um anúncio deste tipo que se pode ler em certos jornais:
"Procuro macho activo muito homem para sexo oral em cinema
porno. Caso esteja interessado contacte
xxxxxx.hotmail.com"
Comecemos pelo "Animatógrafo do Rossio" que fica situado na Rua dos Sapateiros, imediatamente a seguir ao Arco de Bandeira, pelo que também há gente que o chame por este nome.
O “Animatógrafo do Rossio” abriu no começo do século XX e foi dos mais elegantes cinemas de Lisboa, com uma fachada lindíssima, no estilo Arte Nova, que felizmente, pese embora as variadas funções do espaço, se mantém.
Também teve nas ultimas décadas do século a sua fase de “piolho” e depois de exibições pornográficas (foi ali que me aconteceu “algo”, na única vez que ali entrei, que me fez envergonhar de sair para a rua, e mais não digo…).
Era uma sala pequena, com uma entrada e uma saída diferentes, para lá daquelas cortinas de veludo vermelho.
Desde 1994 que passou a ser uma sex shop com espectáculos de “peep show” femininos.
O "Cinema Paraíso", situado perto do Largo Camões, que nasceu no princípio do século XX e teve
inúmeras reincarnações: começou como Salão Ideal, depois para Cinema Ideal
passando por Cine Camões e acabando na actual designação de Cine Paraíso.
A sua
programação também foi atribulada, pois começou por ser de estreia, depois
passou pela reprise, descendo à condição de “piolho” com dois filmes por sessão
(mantendo o nome de Cinema Ideal); quando adoptou o nome de Cine Camões exibiu
filmes indianos e como Cinema Paraíso rendeu-se ao cinema porno, apesar da
tentativa infrutífera da cooperativa Cinema Novo de implementar uma programação
normal há alguns anos atrás (recordo-me de lá ter decorrido um excelente ciclo
de cinema alemão num dos festivais Queer de Lisboa).
Relativamente ao seu tamanho é uma sala pequena (260 lugares)
e que contém cadeiras que pertenceram ao saudoso Cine-Teatro Monumental, o que
lhe confere uma certa grandiosidade.
Aproveito para deixar aqui um link, que relata uma ida de uma pessoa a este cinema, avisando desde já que este link tem uma ENORME bola vermelha, pelo que se devem abster de o ler os espíritos mais puritanos.
Curiosamente esta situação aqui relatada é semelhante em quase tudo ao que acontecia no Olympia.
Passemos ao mais famoso dos quatro - o "Olympia"
O Olympia foi inaugurado em 1911.
Era composto por salões para concertos e para exibições animatográficas, um gabinete para leitura e um restaurante.
Até 1975 foi um espaço consagrado ao cinema nacional, tendo também sido utilizado para peças de teatro e conferências.
Após o 25 de Abril começou a exibir filmes pornográficos.
Acabaria por ser definitivamente abandonado em 2001.
O encenador Filipe La Féria comprou o espaço em 2008.
Este foi o mais célebre cinema pornográfico de Lisboa, sendo assim como que um Cine Carretas madrileno, na nossa capital.
Fui lá variadas vezes e não vou entrar em muitos pormenores, pois o link ali de cima diz tudo o que aqui também se fazia, mas não só na sala, também nos WC e à vista de toda a gente.
Não era anormal verem-se caras conhecidas publicamente e uma coisa a que eu sempre achei alguma piada eram aqueles indivíduos trintões, quarentais e até mais velhos, que entravam com o jornal “A Bola” debaixo do braço, mostrando assim alguma “virilidade”, mas o jornal era também usado quando sentados para ocultar as cenas sexuais que ousavam praticar…
E, história verídica – quando alguém perguntou ao gerente
porque não passava, naturalmente, a exibir filmes porno homossexuais, tendo em
conta aquilo em que o cinema se havia tornado, respondeu o dito: “Nem pensar,
eu sou um negociante honesto e um bom pai de família, porcarias dessas aqui,
nunca!”
Finalmente um dos que ainda está "activo", é o "Cinebolso"
Sala situada na Rua Actor Taborda, que apareceu já depois do 25 de Abril. Até ao fim da década de 70 teve uma programação interessante (“La Salamandre”, “Joe Hill”, “Belle de Jour”, são alguns bons exemplos dos filmes que por lá passavam),
mas a partir de 1980 voltou-se em exclusivo para o cinema pornográfico.
Em 1982 ainda passou pelas mão de Pedro Bandeira Freire, que lhe mudou o nome para Quinteto, transformando-o numa extensão do então muito bem sucedido Quarteto.
No entanto a nova programação esbarrou no público habituado daquele espaço e a sala regressou às suas origens, voltando a chamar-se Cinebolso e de novo com uma programação exclusivamente feita de filmes pornográficos, mantendo-se assim até hoje.
É curioso que das quatro salas aqui citadas apenas esta teria tido ou tem publico feminino nestas sessões porno; pelo menos tenho uma vaga ideia de ter ouvido falar em “engates” heterossexuais previamente combinados para este cinema…
E de todas elas foi sempre a mais “soft” das quatro.
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