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quinta-feira, 16 de abril de 2015

Doce Pássaro da Juventude


Vou dizer por palavras minhas muito pouco sobre esta peça produzida pelos Artistas Unidos e em exibição no S.Luiz, aqui em Lisboa.
 Apenas referir que achei a peça soberba em todos os aspectos, que considero Maria João Luiz uma das melhores acrizes da actualidade, que vejo Rúben Gomes a melhorar de papel para papel, que é admirável ver um actor como Américo Silva.
 E dizer que acima de tudo e num resumo demasiado simplista e talvez demasiado redutor, que é uma peça sobre essa tenebrosa palavra: o TEMPO.

De resto deixo um apontamento que transcrevo do programa:

"Uma actriz (Alexandra Del Lago) que envelhece e enfrenta o desastre de uma vida, longe dos doces anos da sua juventude. Um rapaz( Chance Wayne) que a conduz de volta à sua terra natal. É domingo de Páscoa, mas nada vai ressurgir, não haverá ressurreição. Mas todos procuram voltar a um passado feliz que um dia teve lugar. Enquanto decorre uma sórdida manobra política. Uma das peças mais secretas (e problemáticas*) de Tennesse Williams – e como tantas vezes a derrota perante o tempo, o derradeiro voo do pássaro da juventude?"

Mas deixo sobretudo um texto absolutamente genial de Jorge Silva Melo, que a propósito desta peça vai além dela e presta uma maravilhosa homenagem aos seus artistas. 
Mas convém não esquecer aquilo que a modéstia de Jorge Silva Melo não lhe permite escrever: sem ele não teríamos esta magnífica companhia de teatro tão bem denominada Artistas Unidos, sem ele, o teatro português estaria incomensuravelmente mais pobre. 
Por isso mesmo, muito obrigado Jorge Silva Melo.

ACTORES DESTES DIAS
São tão extraordinários, tão dotados, tão únicos os actores com quem há anos venho trabalhando uma, duas, só três ou quatro vezes, é tão extraordinária a liberdade e a integridade conseguidas nestes já quase 20 anos dos Artistas Unidos. E estava a ver as rugas começarem a surgir, os cabelos brancos a aparecer e pensei: não quero que estes actores a quem tudo devo, a vida, a arte, o amor, tudo, a vida de todos os dias, não quero que percam aqueles papéis que foram escritos para eles, não quero deixar passar o tempo, quero ver a Maria João Luís, quero ver a Catarina Wallenstein, sim, quero ver o Rúben Gomes, quero ver o Américo Silva, quero ver a Isabel Muñoz Cardoso, quero ver a Vânia Rodrigues e o Nuno Pardal e o Tiago Matias e o João Vaz, estes que se têm juntado a nós, sim, quero vê-los decifrarem comigo as tortuosas peças de Tennesse Williams, aqueles papéis que só podem fazer agora, agora que o doce pássaro da juventude lançou voo.
Comovi-me quando li o meu adorado Peter Stein dizer ao jornal Público “nunca quis ser encenador quando era novo, quero só ajudar uns actores”. É tal qual: ajudar uns actores que admiro, encontrar teatros, dinheiro, tempo, colegas, roupas para eles nos darem o que só os actores sabem, lágrimas, risos, suores, no fundo, abraços estreitos durante a noite.
E assim nasceu esta ideia de revisitar Tennesse Williams, fazer “Gata em Telhada de Zinco Quente” em 2014, “Doce Pássaro da Juventude” agora, “A Noite da Iguana” lá mais para a frente, peças de outros tempos, de outros palcos, peças que saberei ajudar a fazer, peças que, garanto, foram escritas aguardando os seus corpos, estas vozes.
Pois só isso agora desejo: ajudar a fazer.
E que cada espectador possa guardar dentro de si a ousadia destes artistas cuja disponibilidade não sei se merecemos.
Assim, voltamos a ver aqui no “Doce Pássaro da Juventude” quase todos os actores com quem trabalhei “Gata em Telhado de Zinco Quente” que estreámos em Setembro de 2014 em Viseu e andou pelo país. E mais alguns que a nós se juntam. Como se fôssemos uma companhia fixa, tivéssemos salas de ensaio, programássemos horas e dias, temporadas e trabalhos. Porque os actores têm dentro de si inesperadas personagens, máscaras, poesias.
Estreada em Nova Iorque em 1959 com encenação de Elia Kazan* e interpretação de Geraldine Page, Paul Newman e Rip Torn, “Doce Pássaro da Juventude” que Richard Brooks filmou em 1962 com quase todo o elenco original

é uma peça desequilibrada, poderosa, desarrumada, insólita em que Williams se debate com as convenções da sua Broadway e avança para campos apenas entrevistos*. Joga técnicas consideradas impossíveis, escreve um primeiro acto que é em si mesmo uma longa peça de duas personagens, desenvolve no segundo personagens e temas imprevistos, abandona personagens, são duas horas de vertigens várias, dolorosas.
E mais uma vez pede ao espectador que partilhe um segredo. “Eu não vos peço piedade, só peço a vossa compreensão – não, nem isso – não. Apenas que me reconheçam a mim dentro de vós próprios, e ao inimigo, o tempo, em todos nós.”, diz Chance Wayne e podia acrescentar com o imenso Baudelaire “hypocrite lecteur, mon semblable, mon frère”.
Talvez seja esse o seu apelo, tratar-nos como irmãos.
Mas será possível devolver ao teatro aquilo que aparentemente o cinema fixou? Será possível voltar a estas peças sem as cores esplendorosas de Hollywood? Será possível a St,Cloud (cidade onde a peça se desenrola) sem Kazan nem Richard Brooks? Será possível ver outra vez Alexandra Del Lago e Chance Wayne e ver como eles falam mesmo de nós, da nossa cobardia, dos nossos medos, do tal “tempo que passa por cima de nós”? Será possível voltar a pôr no palco estes dilemas, esta ansiedade, esta sofreguidão?
Olha, é uma aposta. E aqui estamos”.


* - não percam a leitura deste magnífico texto da autoria de Carlos Marques da Silva 

quinta-feira, 19 de março de 2015

"A Rosa Azul" e "Protege-me do que eu quero"

“A Rosa Azul” é um filme clássico realizado em 1965 por Chuck Renslow para o Kris Studios.
Este poético filme é uma extensão da fotografia do físico masculino na época, que Renslow cultivava. Para os padrões actuais o filme é muito puro, contudo em 1965, os filmes seguia as apertadas leis que então vigoravam para escapar à classificação de obscenidade.
Steve Kotis como o pastor grego e Ralph Kleiner na personagem que era encantado pela rosa azul são os protagonistas.



“Protege-me do que eu quero” é um filme realizado em 2009 por Dominic Leclerc, em que Saleem (Naveed Choudhry) é um estudante indiano que vive com os seus pais em Leeds (Inglaterra), e encontra Daz ( Elliott Tittensor) numa situação de engate, embora ele seja virgem, e têm uma noite de sexo com agrado mútuo.
 Mas, pela manhã, Saleem sente-se envergonhado do que fez e declara a Daz que não o quer ver mais. Da varanda, este observa o jovem indiano a afastar-se apressadamente, e algo há que o faz ficar feliz...
É um filme actual, com algum sexo explícito (longe de ser pornográfico), bem diferente do filme de 1965, mas igualmente muito puro na forma como é apresentada uma situação que se põe a tantos jovens – ter sexo pela primeira vez com outro homem, sendo esse o seu desejo, mas também o seu medo...

 

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Auf wiedersehen

E a história repete-se, mais uma vez...
É a altura de voltar a dizer adeus.
Apesar de eu estar certo que ainda este ano vou reencontrar o Déjan, custa sempre esta despedida. Não sei quando e onde será, mas quase certo que não será em Portugal nem na Sérvia, talvez de novo aqui, ou quem sabe num outro ponto da Europa – Amsterdão, Paris, Berlim...quem sabe.
O Déjan tem um contrato de seis meses, até final de Junho, e até lá terá que fazer um novo exame e sendo aprovado, poderá fazer um contrato definitivo.
De qualquer forma, poderá sempre renovar este actual contrato por mais seis meses.
Esse exame, que antes parecia um bicho de sete cabeças, não será tanto assim, pois ao longo deste período ele vai aprendendo, na prática, cada vez mais.
Vamos ver...
Entretanto os seus planos para os próximos tempos – 5/6 anos – passam por continuar aqui em Olpe, já que tem aqui excelentes condições, não só no hospital, com uma forte valência de Psiquiatria, a área que ele, não direi escolheu, mas na qual acabou por ficar e da qual gosta muito, mas também porque ele tem um apartamento quase no hospital – até ligação interna tem, embora seja um edifício totalmente independente, com um preço muito bom, cerca de 200 euros por mês, numa cidade calma, mas que tem à sua volta, a uma distância de 70 kms, cidades como Colónia, Dusseldorf, Dortmund e outras, todas servidas por uma excelente rede de auto estradas sem portagens.
A partir do momento em que ele tem um carro tudo é mais fácil.
Mas a sua vida aqui é muito árdua, pois o trabalho é muito e exige muito dos médicos.
Está integrado numa boa equipa, tendo como colegas directas uma médica grega e outra romena.
É com elas que ele contacta mais e com uma outra médica, sérvia, que está noutro departamento, mas vive no mesmo prédio de apartamentos.
Além disso tem uma grande amiga croata, jornalista em Siegen, uma cidade já consideravelmente grande, a 30 kms daqui.
Até Junho não deverá ter férias e depois, quando as tiver é natural que vá até Belgrado, mas como já tem o apartamento arrendado, terá que ficar em casa do irmão e claro que não poderei ir ter com ele nessa altura.
 Esta minha visita desenrolou-se de uma forma completamente diferente de todas as outras, já que pela primeira vez, ele não estava sempre disponível.
 Antes, ele estudava ou ainda no final do curso ou já depois no Goethe Institut em Belgrado, ou estava de férias a meio do estágio (quando veio a Portugal, em Outubro de 2013).
Agora eu sabia dessa condicionante e vim só para poder estar com ele sempre que possível.
Claro que passei muito tempo só, mas não me queixei e vinha preparado para isso, com livros, filmes, etc.
A ele custava-lhe mais pois se martirizava por estar ali a dois passos e não poder estar comigo e ficava triste por eu ter vindo de propósito e não podermos partilhar todos os momentos – mas a vida é mesmo assim!
Houve uma vez que me custou muito, confesso, pois estivemos 26 horas seguidas separados, há dois dias atrás – entrou às 14,30 e só acabou o serviço pelas 16,30 do dia seguinte...
 De resto, e como já referi, Olpe é uma pequenina cidade, muito pacata, muito católica e conservadora, com um centro muito interessante, mas que “morre” quando a noite cai; apesar disso, os restaurantes e os poucos bares estão com gente.
E claro o tempo não ajuda nada – muito frio e a nevar sempre de há uma semana até hoje.
Para se viver aqui tem mesmo que se trabalhar pois pouco há que fazer.
Tem um belíssimo lago

que quando o tempo está bom deve ser uma maravilha e tem uma excelente piscina, perto do lago, agora, aquecida como é óbvio.
Mas eu preferiria viver aqui do que em Siegen, que apesar de ser uma cidade grande, universitária, tem um centro banal e gente esquisita...
Fiquei com vontade de regressar talvez no Verão, ou no Outono, com outras condições atmosféricas. E como afirmei no início, há uma certeza – não vamos estar de novo 15 meses sem nos encontrarmos.
Auf wiedersehen, mein lieber.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

"Salto Mortal"


Eu adoro ler e na minha juventude, entre os 16 anos e a minha ida para a tropa eu li muito e diversifiquei muito as minhas leituras.
Durante a vida militar,não tinha nem tempo nem disposição para ler e quando a acabei, entrei na euforia de ler os jornais e revistas e lia-os de fio a pavio, não me restando tempo para ler livros e até comecei a acumular jornais atrasados, o que era ridículo.
Foram anos e anos perdidos de leitura que hoje lamento profundamente e que só começaram a ser compensados de alguma forma, depois de já reformado, ter deixado um part-time que tive uns anos, como delegado de vendas do Círculo de Leitores.
Assim, quando me cansei de andar de casa em casa, e resolvi mesmo parar de trabalhar, recomecei a ler e verifiquei que tinha “montanhas” de livros que tinha adquirido ao longo dos anos, para ler.
Mas e entretanto houve muitos livros que me começaram também a interessar e eis-me não a ler o que tinha em casa mas principalmente o que ia (e vou) adquirindo.
Desde há cerca de quatro anos que leio quase compulsivamente, mas com um enorme prazer e ando com uma média de leitura bastante interessante (cerca de 60 livros por ano).
Dos muitos livros que tenho adquirido, vários há que me despertam particular interesse, estando nesse caso os romances históricos e os livros relacionados com as actividades LGBT.
Foi assim que comprei um livro enorme, mais de 800 páginas, do qual muito ouvi falar e de uma autora célebre mas da qual nunca havia lido nada – trata-se do livro “Salto Mortal” de Marion Zimmer Bradley, da qual me recordava do êxito que tinha tido com a série “As Brumas de Avalon”.

Tenho uma mania talvez idiota, no que se refere aos livros que tenho para ler, e que também acontece nos muitos filmes que tenho para ver (outro bom vício) e que se traduz em não ler o que tenho mais interesse, mas o que está na lista ordenada conforme vou tendo os livros, e que só tem excepção quando alguém me empresta um livro, o qual tem natural prioridade, para que o possa devolver com brevidade.
Ora sucede que me apareceu, nessa natural ordenação, neste momento “O Salto Mortal”, quando eu tinha planeada uma viagem de duas semanas à Alemanha para estar com o Déjan, que estando a trabalhar me deixaria algum tempo disponível para a leitura.
Ainda estava no final de um outro livro quando cheguei, mas terminei-o em dois dias e assim lá fui à minha “aventura” de ler um livro de 878 páginas.
E não é que li o livro numa semana?
O único problema que o livro me deu foi ter um volume enorme, incómodo para o transportar até um café ou para ler na cama; de resto, nem dei por ele...

“O Salto Mortal” poderá não ser o melhor livro que já li, mas entra sem hesitação no grupo muitíssimo restrito daqueles livros que sempre enumero quando me questionam quais os livros de que mais gostei.
E porquê?
Primeiro que tudo pelo tema, o amor entre dois homens, ambos jovens, embora um sendo ainda menor, e ambientado num mundo que sempre me fascinou – o circo.
Penso não ser único a procurar num livro (ou mesmo num filme) algo que de uma forma ou outra tenha um pouco a ver comigo, e quando tal acontece, o livro (ou o filme) mais me interessa.
Neste livro eu encontrei alguns pontos em que isso acontece, nomeadamente no ponto principal e que é viver um amor difícil.
Claro que as circunstâncias são bem diversas mas o fulcro que é o amor ser mais forte que as contrariedades, esse está lá; e até algumas das contrariedades não serão totalmente diferentes, pois se em 2015 o relacionamento entre dois homens é visto de uma maneira muito diferente do que nos anos 40 e 50 do século passado, continua a haver uma homofobia grande e aqui refiro-me principalmente ao facto do Déjan ser sérvio e no seu país, a homossexualidade ser vista quase pior que nos EUA nos anos atrás referidos.
Há depois outros pequenos pontos de identidade comigo que são referidos no livro, um deles que é raro ver tão bem definido como eu o sinto e tem a ver com a fidelidade num relacionamento (homossexual).
Como muita gente sabe, sou avesso a citações de livros, mas aqui abro uma excepção e passo a citar:

 “Sabes? Pergunto-me se saberás. Essas coisas em relação à fidelidade, esquecer todos os outros...isso é para os adolescentes ainda verdes, ou para os papás e as mamãs que estão a criar os filhos, e para quem a interferência de alguém podia dar cabo da vida aos miúdos. Para os homens, tentar jogar esse jogo, não dá resultado. Talvez duas mulheres o possam fazer, não sei. Mas para os homens, não serve. Se tentarem ser muito castos e fiéis, e nunca tocar em mais ninguém, e tiverem ciúmes, vão acabar por se odiar um ao outro. Eu sei que é assim porque já tentei viver assim uma vez. Não podem pertencer um ao outro dessa maneira. Tu não és propriedade dele assim como ele não é propriedade tua. Eu quero-te. É tão simples como isso. Achas que isso vai realmente tirar alguma coisa ao Matt?

Isto tem muito a ver com a minha velha teoria de que a verdadeira fidelidade está centrada na mente e no coração e não propriamente no sexo.
Por isso eu sempre me considerei fiel nas poucas relações realmente importantes que tive, mesmo sendo uma delas uma relação aberta, comummente aceite por ambos (não, não é a actual...)
Mas o livro é também muito mais.
Fala-nos do mundo mágico do circo, e principalmente do mundo dos trapezistas.
Eu pouco sabia deste particular mundo e a forma como a autora nos transmite toda a mística que envolve essa magia de o homem poder “voar” é absolutamente arrebatadora e mostra um trabalho de pesquisa assombroso pois ela vai a pormenores incríveis nas suas descrições.
Um outro tema abordado é a questão familiar.
Não havendo aqui aquele lado mafioso que encontramos noutras famílias de origem italiana radicadas nos EUA, o lado da união, da fortaleza familiar que aqui encontramos é maravilhoso.
E depois as personagens e são múltiplas, tão bem definidas, e tão complexas algumas delas são, nos seus confrontos e nos seus afectos – uma maravilha.
Um livro que recomendo, sem quaisquer reservas, e a toda a gente, pois até na descrição de algumas cenas intimas, MZB tem o cuidado extremo de nunca ir demasiado longe e é até bastante púdica e o livro só ganha com isso.

Ainda bem que trouxe comigo o Kobo, e assim já li com grande prazer o pequeno livro do Miguel "Fados" e estou finalmente a ler a edição também da Index de "O Corredor de Fundo" da Patricia Nell Warren.

sábado, 24 de janeiro de 2015

OLPE


Pois cá estou eu em Olpe, na região oeste da Alemanha, mais concretamente na Renânia do Norte . Vestfália, região rica e industrializada e por onde, como o nome sugere, corre o Reno.
Depois de um voo sem sobressaltos até Dusseldorf, pela TAP e que era uma das duas alternativas que eu tinha para chegar de avião perto desta cidade (a outra era Colónia), começou o problema de chegar a Olpe.
O Déjan já me tinha avisado de que sem ser por estrada (acessos magníficos), esta cidade, aliás como muitas outras cidades de pequena dimensão, na Alemanha, têm um péssimo serviço de transportes públicos.
Por autocarro parece que o único contacto é para Siegel, mais a sudeste e de comboio é necessário utilizar três diferentes comboios para ali chegar, quatro, se considerarmos o super-moderno transporte rápido entre o terminal e a estação de Dusseldorf – aeroporto
Depois uma primeira ligação até Bochum, e da qual perdi o primeiro comboio por falta de informação, tendo que aguardar 30 minutos pelo seguinte, depois um outro de Bochum até Finnentrop e daqui num comboio tipo automotora que anda devagar e “pára em todas” até Olpe (estação terminal).
Isto resumido, para fazer uma distância de 78 kms, demorei quase 4 horas...(vá lá todos os comboios eram confortáveis e quentinhos).
Chegado a Olpe, e segundo informações do Déjan seriam cerca de 10 minutos a pé até ao Hospital
( o apartamento dele é mesmo junto ao hospital), mas eu já devia saber que 10 minutos para o Déjan nunca serão menos de meia hora para mim.
Mas enfim, perguntando aqui e ali lá cheguei ao “Café com Leche”
mesmo ao lado dos apartamentos dos médicos e onde deveria esperar por ele.
Estava com uma fome dos diabos e ataquei uma sandes daquelas que”tem tudo”...e entretanto o Déjan apareceu...
Pois, foi muito bom rever alguém que já faz parte da minha vida há 9 anos e que não via desde Outubro de 2013.
Foi só entrar na porta ao lado e no 5º.piso lá estava o apartamento que lhe está destinado, e que é um quarto grande, com uma mesa enorme, dois sofás, uma cadeira e um banquito, dois móveis, um guarda – roupa uma boa televisão e um pequeno frigorífico; a cama é pequena para os dois, mas que todos os males sejam esses...
 Um quarto de banho com poliban, muito razoável e no corredor do andar (6 quartos) há uma cozinha comum com um grande frigorífico, fogão com forno e micro-ondas e uma mesa, claro.
Há ainda uma divisão com máquinas de lavar e secar roupa e onde estão os utensílios de limpeza. Enfim, bastante bom, a 1 min. do trabalho (é só atravessar o átrio das traseiras e está-se no hospital) e com uma renda mensal de 200 euros, o que é óptimo (menos de 7 euros por dia), e com aquecimento sempre ligado, pode estar-se de calções e tee-shirt em toda aquela zona.
Para almoçar vou ao bar-restaurante do hospital
que é público, acessível em preços e com excelente comida, tendo já feito uma boa amizade com uma das funcionárias de lá.
O jantar ou vamos comer a algum lado, coisas rápidas ou compramos comida feita e aquecemos em casa e comemos na cozinha.
O Déjan trabalha muito e aflige-se imenso por não me dar mais tempo, mas eu já sabia que era assim e ele também e é óptimo saber que está ali ao lado e que chega “dali a pouco”.
Ele está no serviço de “Psiquiatria”, que adora, e onde está integrado numa equipa de 7 pessoas, mas sucede que, de momento, dois estão de férias e outros dois estão doentes, pelo que lhe cabe a ele e a duas colegas (uma grega e uma romena) assegurar todo o serviço.
É um vai-vem e é um serviço difícil (agora mesmo me ligou dizendo que um dos seus pacientes tentou uma vez mais o suicídio, mesmo lá no hospital...
Eu passo o tempo que estou só, ou no quarto, ao computador e a ler (abençoado “Salto Mortal”, do qual já li mais de 450 páginas das quase 900 que o livro tem) e passeio...
É tempo de falar de Olpe!
É uma cidade pequenina, ou melhor com um centro pequenino, que se percorre num ai, mas depois tem várias colinas com casas, presumo que meramente residenciais.
A população será de pouco mais de 30.000 habitantes, que se veem por todo o lado, nas lojas, nos cafés, nos centro comerciais, mas que desaparecem quase por completo quando a noite cai...
Depois das 9 horas quase não se vê viv'alma e está quase tudo fechado, havendo alguns restaurantes (poucos) abertos e um ou outro Café-Bar, apenas um com movimento real - o  Goldener Lower

Como já disse, é uma cidade em que é quase obrigatório ter carro, não porque as distâncias sejam longas (antes pelo contrário), mas porque sem carro é difícil chegar e partir daqui.
Com automóvel será uma maravilha, com ligações por auto estrada sem portagens para todo o lado e com várias cidades a curta distância, tudo menos de 100 kms – Colónia, Dusseldorf, Dortmund, Hagen, Siegel, Bochum...
Assim o Déjan vai comprar um carro em segunda mão, mas em boas condições, provavelmente um Ford Fiesta e que lhe custará cerca de 600/700 euros...
Claro que só o vai utilizar para sair de Olpe, mas alarga-lhe os horizontes...
Entretanto há que dizer que a comunidade que aqui vive é muito conservadora, essencialmente católica, vive bem, apresenta-se bem e tem excelente nível de vida.
São simpáticos e eu quase poderia resumir a uma palavra esta cidade, a um termo, que claro não desejo que seja redutor e essencialmente não seja mal interpretada – é uma cidade “clean”!
“Clean” não no sentido oposto ao de “sujo”, mas sim porque aqui não há pobreza de espécie alguma, não há racismo porque não há negros, os muçulmanos existem mas passam desapercebidos e embora haja muita gente de fora a viver aqui, sentem-se bem integrados; por exemplo no hospital que é enorme trabalham imensos estrangeiros – aqui neste 5º.andar está um árabe, um ucraniano, uma polaca e não sei mais quem – todos médicos, é óbvio...
Noto o Déjan perfeitamente integrado, gostando verdadeiramente do que faz e sei que é bastante estimado, não pensando num futuro próximo sair de Olpe e parece ser a Psiquiatria a sua especialidade preferida – aliás o hospital, com muitas valências tem na Psiquiatria a área mais importante.
Em Olpe há uma igreja magnífica, a St.Martinus Kirch, com uma porta fabulosa
católica e a cuja paróquia pertence o hospital que tem o mesmo nome. Por dentro é moderna, minimalista e com vitrais belíssimos
Ao contrário, há aqui um edifício, pseudo-moderno, que é um “mamarracho” e destoa do resto da cidade – é a “Rathaus” (Câmara Municipal)
 Entretanto hoje tem nevado todo o dia e com uma temperatura bem suportável (2º) foi maravilhoso andar a ver o centro coberto de neve


É muito curiosa esta minha experiência de viver duas semanas numa cidadezinha alemã típica e ficar a conhecer algo mais do mundo...
 Mas, o que interessa mesmo é poder estar todos os dias com o Déjan, que na próxima sexta-feira me vai pagar um jantar “como deve ser”, pois só uma vez na vida se começa a ganhar um ordenado e logo de mais de 2200 euros...

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Viagens 14 - Belgrado

Em Setembro de 2006, depois de uma escala em Colónia (Alemanha) aterrei pela primeira vez no Aeroporto Nikola Testa, em Belgrado, capital da Sérvia.
Já tinha estado em Belgrado, muitos anos antes, ainda capital da Jugoslávia, vindo então de comboio, desde Atenas e confesso que por motivos que já relatei antes essa estadia não tinha sido muito agradável.
Mas agora, a situação era bem diferente, e os motivos da viagem, não eram uma escala mais num inter-rail juvenil, mas sim ir ao encontro de alguém.
Desde nove meses antes, mantinha contacto virtual com uma pessoa que “mexeu” muito comigo, e era imperioso para ambos um conhecimento real e assim lá fui eu ter com o Déjan

Foi a primeira de várias viagens a esta cidade, à qual me ligam agora laços que ultrapassam em muito a pessoa que ali me levou nessa data.
O Déjan estava à minha espera no aeroporto, e foi com um misto de alegria e timidez que nos vimos e cumprimentámos pela primeira vez; tomámos um taxi para a sua casa, no centro da cidade e durante o longo percurso, poucas palavras trocámos, apenas um imenso sorriso transparecia em ambos e os nossos dedos mindinhos estiveram sempre apertados até chegarmos à Kneza Milosa (assim se chama a avenida onde ele morava)
 e que desde já adianto ser talvez a mais importante da cidade, já que faz a ligação da entrada norte com o centro da cidade – é uma longa avenida – e na sua parte final, onde se situava a casa do Déjan, estão locais muito importantes, como a sede do Governo, as traseiras da Presidência da República, vários ministérios e acaba junto ao Parlamento, além de ter variadas embaixadas (EUA, Canadá, Croácia e outras).
O apartamento era pequeno, mas acolhedor e quando a porta do mesmo se fechou atrás de nós, libertámos toda a timidez e num só momento tivemos a certeza da importância e do bom que esta viagem iria representar nas nossas vidas futuras.
Foram duas semanas maravilhosas em que além de ir descobrindo o Déjan, fui descobrindo uma cidade fascinante nas suas diferenças, uma cidade que ele me foi mostrando, fervilhando de vida, com características muito próprias e que me levaram a conhecer melhor aquele povo, tão especial, e nalguns aspectos bastante parecido com o nosso

Mas foi ao longo de posteriores viagens que ali fiz que melhor fui conhecendo a cidade dos dois rios, o Danúbio e o Sava, das suas muitas pontes, dos muitos cafés e bares cheios de gente
de Verão e de Inverno, das gentes que tanto podem mostrar sinais de carência, como mostram que sabem vestir bem e viver a vida.
Agora, o Déjan deixou de viver em Belgrado, arrendou o seu apartamento e apenas lá voltará para férias e ficará em casa do irmão, pelo que não sei quando voltarei lá, com muita pena minha
Apenas em dois aspectos os nossos futuros encontros fora de Belgrado são positivos: por um lado não temos que (fora de casa) fazer teatro sobre os sentimentos que nos unem – a Sérvia é terrivelmente homofóbica; e por outra, ir à Alemanha ou a outra cidade europeia é sempre mais fácil e barato, já que evita uma escala, sempre penosa.
Mas jamais esquecerei Belgrado!

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

2014 - O meu ano literário

Li em 2014, 66 livros (ou melhor, serão 70, já que um está desdobrado em três, e se considerarmos o meu). 
Foi um bom ano literário e não só em quantidade,mas também à qualidade.
Neste aspecto qualitativo e segundo as estrelas atribuídas por mim a esses livros no Goodreads, apenas três obtiveram a cota mínima (uma estrela), quatro obtiveram duas estrelas (ainda assim negativa), doze estiveram num nível médio – três estrelas; já num plano elevado houve 36 livros a que atribuí quatro estrelas e a onze dei mesmo o máximo, as cinco estrelas que se aproximam da obra prima.
Daí poder desde já afirmar que a grande decepção do ano foi o livro de Lobo Antunes “Que farei quando tudo arde”
No campo oposto os dois melhores livros que li foram, no lado de autores portugueses, o livro de Norberto Morais - “O Pecado de Porto Negro”
 injustamente preterido no prémio Leya, e no plano de autores estrangeiros o surpreendente “Stoner” de John Williams

Uma referência à surpresa positiva do ano, um livro que eu julgava ser um livrinho apenas agradável e me “encheu as medidas” - “Agora ou Nunca” de Tom Spanbauer

A nível de autores, houve dois de que li quatro livros cada – o brasileiro Caio Fernando Abreu

e o autor do meu género preferido, o romance histórico: Allan Massie

Li dois livros de bastantes autores: Frederico Lourenço, Phillipe Besson, João Ubaldo Ribeiro, José Régio, Mário Cláudio e Ana Cristina Silva.
De realçar que a maioria dos livros lidos são escritos por autores da língua portuguesa (31 nacionais e 7 brasileiros), contra 28 estrangeiros.
Uma referência a ter lido apenas dois livros de poesia, um de banda desenhada e dois de teatro.
Li (e vi) cinco livros sobre fotografia (todos eles de grande nível), um livro muito interessante de pequenas histórias de autores anónimos ou quase, e apenas um pequeno ensaio. 
Houve ainda três livros de viagens.

Aqui fica a lista completa dos livros lidos, por ordem de leitura:

“Três Tristes Tigres” (Guillermo Cabrera Infante)
“Praia Lisboa” (Henrique Levy)
“Tibério” (Allan Massie)
“Viagens” (Paul Bowles)
“A Segunda Morte de Anna Karenina” (Ana Cristina Silva)
“Girassóis” (Caio Fernando Abreu)
“Uma Gota de sangue” (José Régio)
“A Casa dos Budas Ditosos” (João Ubaldo Ribeiro)
“O Instituto Smithsonian” (Gore Vidal)
“Instantâneos” (Margarida Leitão)
“A Photographer's Life: 1990-2005 (Annie Leibovitz)
“Gens du Barroso- Histoire de une Belle Humanité” (Gérard Fourel/Antero de Alda)
“Partilha-te” (Vários)
“O Crepúsculo do Mundo” ( Allan Massie)
“Morangos Mofados” (Caio Fernando Abreu)
“Cartas Vermelhas” (Ana Cristina Silva)
“EuroNovela” (Miguel Vale de Almeida)
“Augusto” (Allan Massie)
“António” (Allan Massie)
“USA Wild West: Oeste Selvagem Americano” ( João Máximo/Luís Chaínho)
“Fun Home” (Alison Bechdel)
“Morte em Pleno Verão e Outros Contos” (Yukio Mishima)
“Vivian Maier: Street Photographer” ( Vivian Mayer/John Maloof/ Allan Sekula/Geof Dyer)
“Helen Levitt” (Helen Levitt/Walker Evans)
“Castelo de Sombras” (Judith Teixeira)
“Mister Norris Muda de Comboio” ( Christopher Isherwood)
“Irving Penn: Small Trades (Virginia Heckert/Anne Lacoste)
“Amor que se faz Homem” (Henrique Pereira)
“O Mar por Cima” (Possidónio Cachapa)
“Carta de Sócrates a Alcibíades, seu Vergonhoso Amante” (Miguel Real)
“A Breve e Assombrosa Vida de Oscar Wao ( Junot Diaz)
“Sedução” (José Marmelo e Silva)
“Noites de Anto: Alegoria em Sete Quadros)
“As Raízes do Futuro” (José Régio)
“O Essencial sobre Eugénio de Andrade” - Luís Miguel Nava
“A Metarclândia” ( Carlos Alves)
“Histórias para Esquecer” ( Manel Zé) – 3 vol.
“A Seco” (Augusten Burroughs)
“O Físico Prodigioso” (Jorge de Sena)
“Nas tuas Mãos” (Inês Pedrosa)
“Crónicas de Bons Costumes” (Guilherme de Melo)
“O Pecado de Porto Negro” (Norberto Morais)
“Retrato de Rapaz” (Mário Cláudio)
“Um Eléctrico Chamado Desejo e Outras Peças” (Tennesse Williams)
“Diabruras de um Gay Assumido” (Alexia Wolf)
“Melhores Contos: Caio Fernando Abreu” (Caio Fernando Abreu)
“Em Nome do Desejo” (João Silvério Trevisan)
“Queer” (William S. Burroughs)
“Qual é a minha ou tua língua- Cem Poemas de amor de outras Línguas” (Jorge Sousa Braga)
“A Canção de Tróia” ( Collen McCullough)
”Uma Casa na Escuridão” (José Luís Peixoto)
“Uma Outra Voz” (Gabriela Ruivo Trindade)
“Moçambique – Para a Mãe se Lembrar como Foi” - Manuela Gonzaga)
“Stoner” (Jonh Williams)
“Onde Andará Dulce Veiga?” (Caio Fernando Abreu)
“Outras Vozes, Outros Lugares” (Truman Capote)
“ O Albatroz Azul” (João Ubaldo Ribeiro)
“Sangue do meu Sangue” (Michael Cunningham)
“Assustando os Unicórnios” (Lawrence Schimel)
“30 Dias em Sidney” (Peter Carey)
“As Aventuras de um Garoto de Programa” (Phill Andros)
“Internato” (João Gaspar Simões)
“Em Tempos de Guerra” (Phillipe Besson)
“Um Instante de Abandono” (Phillipe Besson)
“Agora ou Nunca” (Tom Spanbauer)
“A Formosa Pintura do Mundo” (Frederico Lourenço)
“Que Farei Quando Tudo Arde?” (António Lobo Antunes)
“A Máquina do Arcanjo” (Frederico Lourenço)

Finalmente e sem falsa modéstia, foi este ano que foi publicado pela INDEX ebooks o meu livro “Ilha de Metarica – Memórias da Guerra Colonial.



segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

NOVE!


29 de Dezembro de 2005 – estava muito longe de travar conhecimento com alguém através daqueles sites que existem para esse efeito, em teoria, mas que na prática, funcionam mais em termos de meros encontros sexuais.
Naquele tempo, e não porque necessitasse realmente de encontrar alguém para um relacionamento – estava muito bem, sozinho – apetecia-me encontrar gente para conversar.
E encontrei um “puto”, então com 26 anos que também queria, e tão só isso, conversar.
Era da Sérvia e começámos a falar (teclar) em inglês.
Gostámos da conversa e repetimos nos dias seguintes; e depois começou uma troca de mails, mails grandes em que contávamos muita coisa um ao outro.
E começou a surgir algo que eu não imaginava que pudesse ainda acontecer-me – apaixonámos-nos! Mas havia um grande problema: a distância!
Equacionámos o problema, mas já não fomos a tempo de desistir – FELIZMENTE!
E passados 9 meses, em Setembro de 2006 dei um passo que tinha algum (não demasiado) risco: fui à Sérvia e conheci pessoalmente o “puto” - o Déjan, o meu Déjanito e tornámos-nos ambos um para o outro “CHAKO PAKO” (manias dele)...

E agora, a 29 de Dezembro de 2014, comemoramos NOVE anos de uma união que eu não acredito, apesar da distância, possa ser mais feliz.
Meu amor, muito obrigado por tudo o que me tens dado, por todos os momentos passados juntos, que até foram curtos para o tempo que levamos da nossa relação, mas é preciso não esquecer que ao longo destes anos, todos os dias falámos um com o outro, uma ou várias vezes ao dia.
Eu não posso passar sem ti, e sei, sem querer ser presunçoso, que o mesmo se passa contigo.

Estivemos (ainda estamos) o mais longo tempo sem nos encontrarmos – 14 meses – e isso devido essencialmente às grandes modificações de vida que  passaste ultimamente com o estágio, os estudos e exames da língua alemã, o processo de candidatura a um trabalho na Alemanha, enfim, tanta coisa que inviabilizou o nosso reencontro.
Mas a 19 de Janeiro, espero que estejas em Dusseldorf à minha espera e vamos passar 15 dias calmos, tu a trabalhar, e eu a ler e a entreter-me com a net, até tu chegares e depois há os teus dias de folga e há tanta coisa para partilhar de novo...

Desculpa-me este texto ir escrito em português, mas tu tens possibilidade de o traduzir facilmente; é que me era difícil dizer isto tudo em inglês...

Mas e agora só para ti: Puno havala, ljubaj moja. Volim te já tebe, moj predivni. Ti biti divan, Déjan! 

(Hope you like this music. Is not our song, as you know, but is for you, my love.)

domingo, 21 de dezembro de 2014

O Jorge - um grande Amigo que perdi...


Todos nós temos amigos e todos nós temos, dentre os nossos amigos, alguns que não sendo denominados mais amigos que os demais, o são realmente.
Nesses amigos especiais têm uma importância grande aqueles que nós conhecemos quando éramos crianças e com quem mantivemos ao longo dos anos uma relação de proximidade afectiva, mesmo quando as distâncias nos separam.
Eu não sou excepção e tenho (não mais) de meia dúzia deles.
Nunca estabeleci comparações afectivas mas essa questão da “antiguidade” pesa muito, pois são muitas cumplicidades que se tiveram, muitos momentos marcantes vividos em comum, muitos acontecimentos (bons e menos bons) sentidos simultaneamente, enfim um mundo de “muitos mundos”.
Há anos perdi um desses amigos, o Pedro, que vivia na altura em Portalegre e era um ano mais novo que eu – foi vítima de uma leucemia aos cinquenta e tal anos.
Entretanto perdi outros amigos, cuja morte muito senti por diversas razões, entre eles o Francisco, há precisamente um ano (19 de Dezembro de 2013).
E agora, exactamente um ano depois vi partir, sem surpresa, mas com uma dor imensa outro dos tais amigos que falei de início – o Jorge!
Nunca pensei que fosse tão difícil e tão doloroso...
Em toda a nossa vida (eu era 15 dias mais velho que ele), só estivemos realmente separados durante o período da guerra colonial que ambos fizemos quase no mesmo tempo, mas em cenários diferentes: eu em Moçambique, ele em Angola; eu no mato, ele no ar condicionado de Luanda.
Se refiro este facto é apenas porque ele reflecte um pouco a maneira como o Jorge viveu a sua vida. O Jorge era um optimista nato, via tudo sob um prisma positivo e essa forma de encarar a vida levou-o sempre a situações aparentemente denominadas de “sorte”.
Sim, ele teve muitas ocasiões em que foi bafejado pela sorte, mas fazia por isso...
É talvez de todas as pessoas que já conheci, quem nunca se zangou com ninguém, para quem a adversidade era apenas um acidente de percurso e a quem aconteciam coisas incrivelmente boas, porque ele predispunha a sua vida para que tal acontecesse.
Só não pôde fazer nada contra o linfoma que o atacou há uns anos e que foi debelado como geralmente acontece numa primeira aparição mas que volta sempre mais tarde noutro orgão do corpo e que geralmente é fatal.
Assim aconteceu agora.
O Jorge era filho de um casal que era o casal mais amigo dos meus Pais, pelo que nos conhecemos em crianças e embora na instrução primária tivéssemos diferentes escolas, pertencemos à mesma turma no Liceu e entrámos juntos para Económicas.
Partilhámos várias casas aqui em Lisboa durante a nossa vida universitária e apenas seguimos percursos profissionais diferentes mas sempre em contacto.
Agora, ambos reformados, ambos a vivermos na grande Lisboa, tínhamos com mais três amigos, um almoço mensal num restaurante perto da Av. de Roma em que recordávamos os velhos tempos, contávamos as novidades e falávamos sobre futebol e política.
(nesta foto, o Jorge é o da esquerda e o Francisco o da direita)

Aí éramos opositores: ele sportinguista, eu benfiquista, ele de direita e eu de esquerda – mas eram conversas, por vezes acaloradas e nunca discussões.
Agora com o desaparecimento do Francisco, o ano passado, e agora do Jorge, pensamos que é impossível continuarmos a ir ao mesmo local; temos que reformular os nossos encontros.
Sexta-feira no velório, sábado no funeral, tanta gente que há tanto tempo não via...tanto abraço emocionado, defronte daquele caixão que a todos nos unia.
Meu querido Jorge, jamais te esquecerei. Um dia destes hei-de ir à tua procura pois sei que estás, como sempre, num belo lugar.
(na sua bela casa de Azenhas do Mar, comigo, com o Déjan e com o Duarte)