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quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Regresso às origens em boa companhia...


É óbvio que eu sou demasiado suspeito, em tudo o que rodeia a Covilhã.
Como não deixa de ser natural, enquanto ali vivi, primeiro como criança e adolescente, e depois de voltar, passado largos anos, como adulto e para trabalhar, a minha relação com a cidade não foi fácil, pois a minha ânsia de vida, em diversos aspectos, sentia-se espartilhada num local suficientemente grande para pensarmos que estamos bem, mas afinal ainda tão pequena, que toda a gente se conhece e sabe os passos que damos.
Agora, que vivo longe, a minha ligação afectiva com a cidade é muito mais fácil, quando ali retorno em curtos espaços de tempo e em que maioritariamente estou na companhia da minha Mãe.
Mas a Covilhã de hoje é também objectivamente diferente do que era antes e sobretudo em dois aspectos: os lanifícios morreram e foram substituídos por novas e diversificadas indústrias situadas em dois parques industriais, mas também e principalmente por uma Universidade (UBI), que a dinamizou e que se espraia por variadas zonas da cidade
 O outro aspecto tem a ver com o desenvolvimento urbano que levou a cidade para o vale, onde nasceu uma nova urbe, moderna, desenvolvida
 e que tem como único defeito despovoar o antigo centro, mas mesmo essa consequência está a ser combatida com um ressurgimento de locais de interesse, o que é agradável.

E após este prólogo que seria indispensável vamos lá relatar de uma forma sucinta os factos essenciais de um excelente fim de semana, ali passado, com um tempo que pareceu encomendado a S.Pedro – frio houve, sim, mas não tanto como se temia, e é sempre um frio seco e saudável que recebemos no rosto, desde que estejamos bem protegidos; e houve sempre sol durante os dias em que nem uma nuvem aparecia no céu azul e com noites de lua cheia e estrelas, de bonita claridade.

Parti de carro por volta das 5 da tarde de sexta-feira, com o Duarte, e quando chegámos fomos ter com o Miguel que tinha chegado um pouco antes, vindo de Coimbra no seu carro.
Levámo-lo ao hotel, no centro da cidade, junto ao Jardim Público e depois fomos a pé a um restaurante próximo, que tinha aberto recentemente, de um casal de espanhóis e de um argentino, com uma comida deliciosa e onde encontrei um velho amigo que como eu, ali estava a passar o fim de semana e que não via desde 2001, quando noutra ocasião nos encontrámos também na nossa cidade.
Sucede que entretanto esse amigo foi uma figura muito conhecida em todo o país pois foi o procurador do mais badalado processo judicial que já houve em Portugal – o caso Casa Pia.
Mas o João é uma simpatia e foi um prazer conversar com ele apenas sobre a nossa terra e de gente amiga.
Fomos depois dar uma volta de carro até serem horas para ir buscar a Margarida à estação, pouco depois das 23 horas.
Ainda antes de levar o Miguel e a Margarida ao hotel fomos a um local muito interessante, meio tasca, meio restaurante, para ela petiscar algo e todos bebemos uma jarra de sangria.
Um curto passeio a pé numa zona que agora começa a ser revitalizada, por detrás da Câmara e fomos todos descansar por volta da uma hora da manhã; o Duarte ficou comigo em casa da minha Mãe.

Sábado, pelas 10 horas da manhã lá partimos para a Serra, com uma primeira paragem para conhecer a magnífica Pousada que aproveitou o belíssimo edifício do Sanatório, agora maravilhosamente recuperado – dá mesmo vontade de ir ali passar um par de dias!
 Já nas Penhas, fomos também ao “velho” (já é centenário), mas sempre renovado Hotel das Penhas
agora rodeado de quase uma centena de bungalows, e também muito acolhedor (tem lá um restaurante medieval que merece uma posterior visita gastronómica).
Depois foram todos os recantos da Serra, com inúmeras paragens, até à Torre

e com as habituais buzinadelas no “túnel”
mas com uma paragem mais demorada na mais bela zona de toda a montanha – o Covão da A'metade – onde nasce o Zêzere e que é base do monumental Cântaro Magro

Depois o fabuloso vale glaciar (em U) do Zêzere

até Manteigas

Ali almoçámos muito bem, só o Duarte não comeu as sempre excelentes trutas de Manteigas e logo a seguir fizemos uma curta visita a uma pessoa que me é muito querida, a Lurdes, hoje com 88 anos e que me ajudou a criar, a mim e aos meus irmãos durante mais de dezena e meia a servir na minha casa – ela começou ali a trabalhar quando eu tinha apenas 9 meses. 
Ela já conhecia o Duarte, de quem gosta muito e encantou a Margarida e o Miguel com as suas referências à minha meninice e com a sua simpatia. 
Já há muito que a não via, e confesso que não sei se a verei muitas vezes mais, pois é raro ir de carro à Covilhã, o que me impossibilita ir vistá-la a Manteigas. 
Seguimos depois directos a Sortelha, já nas faldas da Serra da Malcata, uma das mais belas aldeias históricas do nosso país



É um local que parece que parou no tempo e calcorrear aquelas ruazinhas sem gente mas com casas bem recuperadas é sempre um prazer renovado; notei no entanto a falta das casas de artesanato que ali vi noutras visitas. 
O Duarte teve ali um autêntico caso de paixão, por parte de um lindo gato, dos muitos que por ali havia...

 Já anoitecia quando ainda demos um pulo a Belmonte para vermos o seu Castelo com a linda janela manuelina

 Regressámos à Covilhã, um pouco cansados, para um brevíssimo descanso antes de nos dirigirmos a uma aldeia situada a cerca de 20 kms da Covilhã, onde jantámos num óptimo restaurante (que bom estava o pernil) e com um atendimento 5*. 
Fomos depois ver as festas de Santa Bebiana que se realizavam ali neste fim de semana com as ruas do centro pejadas de uma pequena multidão que vagueava de tasca em tasca a petiscar e a bebericar geropiga e outros “alcóois”, com uma procissão muito original, em honra dos deuses protectores da bebida

claro que as tascas eram todas casas de gente da terra, nesses dias transformadas em local de acolhimento. 
No domingo, com regresso agendado para depois do almoço, fomos de manhã visitar a pé o centro histórico
pleno de arte urbana muito interessante e em sítios muito bem escolhidos


 visitámos igrejas e capelas

 
e o centro cívico

Depois e de carro fomos dar uma volta alargada por toda a cidade com destaque para o Monumento a N.Sª.da Conceição
cuja imagem está virada para a cidade e pelo qual também é designada como N.Sª.da Covilhã. 

Fomos buscar a minha Mãe com quem almoçámos a meio caminho entre Covilhã e Fundão no “Mário” a já célebre “panela no forno”, prato regional muito afamado, que é um arroz bem condimentado e recheado de bons enchidos, carnes gordas de porco e dobrada

. Fomos pôr a Margarida à estação do Fundão e deixámos o Miguel junto ao seu carro, no hotel, tendo ele seguido viagem. 
Eu e o Duarte depois de uma curta ida com minha Mãe ao shopping, deixá-mo-la em casa e saímos de regresso a Massamá pelas 4 da tarde. 

Concluindo, um excelente fim de semana, passado com gente muito amiga.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Uma imensa nojeira


Tenho tentado resistir escrever algo mais sobre o caso da detenção e posterior prisão preventiva de José Sócrates, mas isso é impossível.
Logo após os acontecimentos passados quase há uma semana, claro que não podia deixar de registar os factos nas redes sociais a que pertenço (FB e Google+) e fui confrontado quer nos comentários aos meus textos, quer principalmente no que li em textos escritos por amigos (FB) com opiniões que ultrapassam o salutar debate de ideias e formas de pensar para chegar ao insulto sujo e baixo que só o ódio pode provocar.
Tentando ser o mais cuidadoso possível na elaboração desta postagem, devo começar por um aviso prévio que não será novidade para ninguém que me conheça minimamente – conheço e sou amigo pessoal de José Sócrates dos tempos passados na Covilhã, onde fui aluno do seu pai, o Arq. Pinto de Sousa (já falecido) e onde mantive uma amizade sólida com o Zé, até porque ele era na altura o presidente da concelhia do PS covilhanense, e eu embora nunca tivesse sido filiado nesse partido sempre fui seu simpatizante.
Cheguei mesmo a integrar uma lista do PS a umas eleições autárquicas, por expressa vontade dele e eu só aceitei com a condição de ir num lugar não elegível, pois as minhas actividades profissionais não me permitiam ser vereador da Câmara, e portanto a isso se resume no campo político a minha afinidade com José Sócrates.
Mais tarde, quando os dois deputados socialistas do distrito de Castelo Branco eram António Guterres e José Sócrates, este pediu-me para ambos visitarem a empresa têxtil familiar onde eu trabalhava, no âmbito de outras visitas a empresas similares para apresentarem uma moção no Parlamento; claro que essa visita teria que ter o consentimento de meu Pai o que não era fácil, pois ele não comungava de forma alguma com os pensamentos socialistas e Sócrates, sabendo disso veio junto a mim, pois sabia que se fosse directamente falar com meu Pai, o "não" era certo.
Curiosamente, o meu Pai acedeu, com duas condições: eu é que os receberia e lhes mostraria as instalações e lhes deixaria dialogar com os trabalhadores, mas ele (meu Pai) queria no final da visita ter uma “conversa” com eles, pois lhes quereria dizer umas “coisas”.
A visita fez-se e afinal a conversa final foi uma agradável conversa sobre os problemas têxteis
entre mim, o meu Pai e...dois futuros primeiros ministros de Portugal.

Portanto eu olhei para estes acontecimentos desta semana com um olhar objectivo, mas também necessariamente com um olhar de um amigo que vê outro a viver um momento muito difícil, e ninguém me poderá condenar por isso.
Mas, e objectivamente, eu considero José Sócrates um dos raros políticos “a sério” que o nosso país teve após o 25 de Abril.
Quando exerceu as funções de Primeiro Ministro, teve um primeiro mandato mesmo brilhante, e se no segundo esteve menos bem, grande parte disso se deve ao eclodir de uma gravíssima crise europeia para a qual nem o país nem ele estavam preparados.
 Houve decisões dele controversas, algumas mesmo contra as quais estive, mas no cômputo geral foi sempre um político convicto, com carisma e incansável.
Continuamos a não saber se o tão falado, na altura, PAC IV, o qual tinha desde logo. a aprovação da UE, não poderia ter dado resultado.
Mas já na altura Sócrates era mal visto e mesmo odiado por muita gente, e foi fácil, a oposição em peso (com PCP e BE) derrubar o seu governo e claro que ele só tinha uma coisa a fazer- demitir-se e demitir-se do PS para permitir aos seus oponentes fora e dentro do partido que fizessem melhor que ele.
Quanto a mim, essa demissão, do Governo, pecou por tardia, pois quando da tomada de posse do actual PR, o silva de Belém, este individuo usou o seu discurso na AR para arrasar o Primeiro Ministro em termos tão graves que duvido alguma outra vez possa acontecer algo de parecido entre órgãos institucionais, que Sócrates se deveria ter demitido de imediato.
O que aconteceu depois toda a gente sabe, um governo da direita coligada conduziu o país a uma inqualificável situação social e sempre justificando os pesadíssimos encargos impostos ao povo português com o chavão da “herança do passado”.
Sócrates desligou-se da política e foi viver para Paris.
Desligou-se mas e por via de terceiros, nomeadamente certa imprensa (duvido que os pasquins CM e Sol possam ser considerados imprensa...), continuou sempre a ser referido e pelas piores razões. Daquilo em que esteve eventualmente implicado, sempre foi considerado inocente e claro que eu não posso afirmar com toda a certeza de que neste caso, e que é note-se, recente, e não dos tempos dele como político activo, que seja inocente ou não,
Mas até ser condenado, e por Lei ele é inocente!
Muita coisa se disse sobre variadas situações e de uma coisa apenas eu estou certo porque sei-o de fonte segura: a sua mãe sempre foi uma pessoa de avultadas posses e após a separação dos pais, ele ficou ainda mais ligado à mãe, do que antes...

Do episódio da sua detenção com câmaras “convidadas” a testemunhar o facto e com notícias imediatas dos pasquins acima referidos que só podem ter origem em fugas de informação oriundas da própria PGR (embora o inquérito agora iniciado acabe por arquivar o caso...), ninguém pode duvidar que se pretendeu desde o início o achincalhamento público do ex-Primeiro Ministro.
Sobre o “acaso” temporal dos factos só questiono porque eles não aconteceram antes ou depois, mas sim quando decorria a eleição do novo Secretário Geral e logo a seguir ao caso dos Vistos Dourados? Claro que perante umas sondagens que semana a semana davam o PS cada vez mais perto da maioria absoluta, estas “coincidências” são muito suspeitas.
E é ver nas redes sociais e não só (o “insuspeito” comentador MRS da TVI também) a dar como aniquilada toda a estratégia socialista e já embandeiram em arco com uma eventual reeleição de Passos Coelho.
Será que essa gente pensa que o povo português é estúpido ou masoquista????
Para já António Costa reagiu com um bom comunicado, aos acontecimentos e o próprio Sócrates numa primeira reacção após a sua detenção, sem negar que tudo isto é um caso político, aconselha os socialistas, para seu próprio bem (de Sócrates) e do partido a não confundirem as questões.
Mas os amigos não se podem esquecer, como eu referi no início e Sócrates terá sempre um lugar de destaque nos dirigentes que lideraram o PS.
José Sócrates é um animal político, que nunca desiste, nunca mesmo e se de alguma coisa estou certo é que não será fácil deitá-lo abaixo.
Nunca um político no nosso país foi tão odiado e vilipendiado, e se nalguns casos alguém possa ter razão, na grande maioria nunca chego a entender o porquê de tanto ódio – pode-se gostar mais ou menos, mas odiar?. Odiar é algo de muito feio...

Uma palavra final para duas personalidades ligadas directamente a este caso.
A primeira é o original advogado de Sócrates, João Araújo

desconhecido até então, aparece referenciado como um óptimo advogado e especialista nas matérias em análise; além disso é uma personagem desconcertante (no bom sentido) na forma como encara a comunicação social, nunca sendo mal educado, mas dizendo o mínimo, como deve ser...
A outra é o super juiz do Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa, Carlos Alexandre
 Um homem a quem é atribuído tudo o que de importante actualmente ocorre na Justiça portuguesa e gostaria de salientar a curiosidade de que todos os casos por ele iniciados conduziram à inocência dos presumíveis condenados.
Por outro lado é muito, mas mesmo muito estranho, que hoje mesmo, e com um “exército” de 200 homens este juiz tenha “invadido” os mais variados locais relacionados com o caso BES – bem mais importante que o caso Sócrates, porque lesou muita e muita gente – incluindo a casa de Ricardo Salgado, à procura de quê? De documentos? Onde eles já vão...
Não, os documentos só são importantes no caso de Sócrates e vamos lá detê-lo ao aeroporto e vamos lá pô-lo em prisão preventivo pois caso contrário ainda vai destruir mais documentos...

Enfim, uma imensa nojeira!!!!

quinta-feira, 17 de julho de 2014

E eis o dia D...


   

E eis o dia D!
O livro, até me custa dizer “o meu livro”, está à venda.
Tenho algum receio de me repetir, mas este livro tem como base umas crónicas publicadas ao longo de um tempo já recuado, neste blog e que tiveram como título “ A tropa cá do João”, nome de um poema saloio que escrevi lá em África e que foi a primeira dessas crónicas.
Na altura, os comentários de quem as leu foram bastante positivos havendo algumas pessoas com quem me ligo mais em termos de trocas de impressão sobre livros (Miguel Nada e Margarida Leitão, entre outros), que me questionaram porque não publicava “aquilo” como livro.
Nem tal coisa me passava pela cabeça.
Entretanto passado algum tempo vim a conhecer o João Máximo e o Luís Chainho, que têm entre eles um projecto deveras interessante, que é a INDEX ebooks, uma editora de livros digitais vocacionada essencialmente para obras relacionadas (de algum modo) com temas LGBT.
Conhecedor dessas minhas crónicas, o João, também me começou a falar em eventualmente estar interessado na publicação de um livro meu sobre esse tema.
Mais recentemente e como resultado do encontro virtual ( a Net é um mundo) com pessoas que estiveram na Ilha de Metarica em períodos anteriores a mim, publiquei aqui um post sobre uma publicação do Carlos Alves, chamada “A Metariclândia” – As aventuras em África (que por acaso só agora estou a ler).
E voltou o “cerco”, acerca do “meu livro”; tanto me forçaram, que acedi. E quando tomo uma decisão, é meu feitio empenhar-me nela. Assim depois de um primeiro contacto com o João em que definimos o que fazer – reescrever os posts já publicados, escrever alguns mais, ordenar os textos, fazer uma introdução e uma conclusão, escolher fotos, fazer dois ou três anexos – o livro começou a ser concebido.
E aqui veio para mim uma surpresa: se eu já conhecia e admirava como pessoa e como amigo, o João, depois de duas ou três “reuniões de trabalho” com ele, fiquei completamente rendido ao seu profissionalismo como editor. Eu nada conhecia sobre uma edição de livros e mais uma vez aprendi coisas o que é sempre muito compensador.
Não esqueço que o João não está só na INDEX, e portanto englobo aqui o Luís e a Patrícia.
E o livro nasceu!

Uma palavra que é imperiosa – este não é, de todo, um livro gay; nem nada que se pareça! Tem sim, um capítulo, que já era uma das crónicas publicadas no blog, sobre a homossexualidade na guerra colonial e eu faço uma alusão, que é muito verdadeira, à influência que o meu período africano teve na minha “auto saída” do armário.
Razões que chegam para fazer parte das publicações da INDEX.
Espero que quem o leia, goste e tenho sempre algum receio de que uma ou outra expectativa (não minha) demasiado alta, saia gorada.

Fica aqui a referência aos locais onde o livro pode ser adquirido.
Comprar ebook:
Google Play – Amazon (Portugal) – Amazon (Brasil) – Apple (Portugal) – Apple (Brasil) – Kobo by FNAC – Kobo Brasil – WOOK – Livraria Cultura.
Comprar em papel (impressão a pedido):
Bubok, Createspace, Amazon


quarta-feira, 9 de julho de 2014

"Ilha de Metarica: Memórias da Guerra Colonial"

Ainda sem grandes pormenores e porque o editor publicou um apontamento no Google+, aqui vai a notícia formal.
Vai sair em breve, no formato digital (e-book), mas com edição em papel possível por encomenda, um livro da minha autoria cujo nome é “Ilha de Metarica: Memórias da Guerra Colonial”.

A sua origem tem como base a publicação neste blog, ao longo de vários meses e com começo ainda na parte extinta do mesmo, de uma “saga”, à qual dei o nome de “A tropa cá do João”.
Nela contei episódios sobre a minha vida militar, de uma forma cronológica e com especial destaque para a guerra colonial, como é óbvio.
Muita gente, desde logo se referiu à possibilidade de daí advir um livro, mas confesso nunca pensei nisso a sério.
Todavia, recentemente fui contactado por algumas pessoas que estiveram na Ilha de Metarica, duas comigo e outras numa altura diferente, tendo há semanas aqui publicado uma postagem sobre um livro que uma dessas pessoas publicou entretanto.
Logo o Miguel, a Margarida e principalmente o João Máximo, editor (com o Luís Chainho), da Index me começaram a pressionar de novo e eu desta vez fui em frente.
Depois de conversar com o João, reescrevi os textos, acrescentei outros, escrevi uma introdução e uma conclusão, arranjaram-se mapas (fotos eu tinha) e após algumas trocas de impressão muito profícuas com o João – fiquei a saber coisas muito interessantes sobre a edição de um livro -, o livro aí está e vai ser lançado muito brevemente.
Deixo além desta foto que nem é a capa nem a contra capa, antes uma mistura de ambas, um trecho que o João escolheu para figurar penso que na contra capa.


"Tive tempo, muito tempo mesmo, enquanto estive em África, principalmente na Ilha de Metarica, durante as horas mortas no aquartelamento, ou nas operações de dias e dias pela mata, para pensar na minha vida e nos meus problemas, e cheguei à conclusão que era necessário relativizá-los, por muito grandes que eles me parecessem, perante a gravidade de certas situações com que me deparei na guerra. Não quis definir metas para a minha vida para quando regressasse a Portugal, mas tinha a certeza de que voltaria um “homem” novo e em variados aspetos – humano, social, político e principalmente sexual - foi ali, em África, que cheguei finalmente à conclusão de que, apesar da minha orientação sexual não ser a mais comum, eu era um homem normal."

A seu tempo, mais notícias surgirão.

segunda-feira, 10 de março de 2014

Eu e um "filmezinho" que mexeu comigo...

Eu por vezes dou comigo a pensar que não me conheço ao fim destes anos todos, completamente bem.
Já vivi muito, tive variadíssimas experiências, das quais poucas, muito poucas mesmo me arrependo; não me considero estúpido, tenho mesmo alguma cultura; enfrentei de frente, sem medo a minha sexualidade; sou amigo verdadeiro dos meus amigos e tenho medos, como toda a gente.
Adoro a minha família e tive uma educação primorosa, baseada nos princípios que sempre reinaram em nossa casa; não fui habituado a luxos, mas também me ensinaram sempre a ser digno.
Tudo isto para dizer o quê? Que tenho um temperamento que por vezes não controlo, sou tudo menos perfeito e se procuro consensos, também há alturas em que marco muito, talvez demasiado as minhas paixões e os meus “odiozinhos de estimação”.
Um dos meus maiores defeitos é pôr quase sempre o coração à frente da cabeça, embora não entre em desvarios e nunca me arrependi disso. Quando gosto, gosto mesmo muito, quando não gosto, mostro-o abertamente – nunca seria um bom actor…
Sou muito crítico em relação a certas situações, e não me abstenho de o afirmar, mesmo quando envolvem coisas delicadas, como a política ou a religião.
E…sou um piegas do caraças!!!!
Estou para aqui a palrar sobre mm próprio, quase com medo de afirmar que acabei de ver um filmezinho, nada de um filme de grande orçamento, com grandes actores e vedetas que chamem o grande público. E que quando acabei de ver esse filmezinho tinha duas lágrimas a rolar-me pelas faces – piroso, sou isso talvez, mas que hei de eu fazer se sou assim.
O filme foi realizado por um jovem, Ruben Alves
filho de emigrantes portugueses em França, e com este filme ele quis homenagear os seu pais, a mãe, uma porteira e o pai, trabalhador da construção civil.
Já adivinharam que me refiro ao filme “A Gaiola Dourada”, protagonizado por Rita Blanco e Joaquim de Almeida, e que nos mostra de uma maneira bastante correcta o dia a dia de uma típica família portuguesa emigrada e a trabalhar em Paris. Claro que é uma emigração dos tempos da “mala de cartão” e não a emigração de hoje, mas é sempre emigração, com tudo o que essa situação traz a quem é obrigado a fazê-lo.
Eu, que tantas vezes sou tão crítico do meu país, até da nossa maneira de ser, da nossa tão apregoada falta de produtividade e do nosso hábil “desenrascanço”, vi-me no final do filme, qual sentimentalão romântico a pensar que afinal, caramba, Portugal e principalmente nós os portugueses somos uns gajos porreiros…
Eu sei que isto é apenas um filme, mas está ali muito de nós, muito da forma como somos, quase sempre humildes, o que não quer dizer que sejamos subservientes.
 E por eu ser assim, por reconhecer que eu poderia fazer parte daquela gente é que estou a dizer isto tudo.
Se já viram o filme, gostaria de saber a vossa opinião, mesmo que seja bastante diferente da minha; se não viram, façam o favor de ver, até porque está ali uma das maiores actrizes portuguesas, Rita Blanco
e até o habitual canastrão Joaquim de Almeida se safa muito bem.
Aqui fica um vídeo que mostra algumas cenas do filme assim como algumas entrevistas e também pequenos apontamentos do seu “making of”

domingo, 29 de dezembro de 2013

As "minhas" personagens do ano

Estamos no final de mais um ano, tempo de balanços e de esperança.
Quanto à esperança, confesso que ela é quase nula, em relação a um novo ano melhor que este que agora finda; e não seria difícil, tão mau ele foi…
Balanços, já afirmei ter sido um ano verdadeiramente mau, não só pelas razões que (quase) todos conhecem, mas também a nível pessoal, perdi um ente querido.
Não me vou a alongar em apontar o bom (pouco) e o mau (muito) que houve, quer no nosso país, quer lá fora e apenas deixo aqui a minha opinião sobre quem foram as personagens do ano de 2012.

Uma, pelas piores razões, a escolhida a nível nacional; e porque não pode ser tudo mau, a outra, a nível mundial, pelas melhores razões e nela assenta a maior parte da pouca esperança no ano que aí vem.


Vitor Gaspar, foi o escolhido por mim para personagem do ano nacional, embora houvesse vários outros candidatos e quase todos pela negativa.
A escolha nesta figura baseia-se em ter sido ele o pilar da (des)construção de todo um sistema económico, social e político em que ele confiava cegamente conforme a sua formação junto dos meios internacionais que agora comandam o mundo – os mercados.
A forma como ele governou o país foi catastrófica e o mais curioso é que foi ele próprio a reconhecer o fracasso dessa política, quando da sua demissão escreveu a sua famosa carta que é demolidora e que infelizmente o Governo ignorou e manteve essa forma de governar.



Já no plano internacional, a escolha é bastante consensual.
Este ano tivemos um facto inédito desde há muito – a resignação de um Papa e a eleição do seu sucessor. Independentemente das questões da fé e da religiosidade de cada um, todos sabemos que a figura do Papa tem no mundo um papel importantíssimo.
E a Igreja há muito precisava de sair da “rotina” de Papas ou muito maus (Bento XVI), ou “assim, assim” (João Paulo II).
Este Papa é o primeiro não europeu, originário de uma América Latina, cada vez mais importante no mundo actual.
Desde o princípio que o Papa Francisco nos deu uma boa imagem, mas com o decorrer do tempo essa imagem foi-se cimentando em actos e mesmo naqueles aspectos em que a Igreja é mais conservadora, para não dizer retrógrada, ele tem dado sinais de mudança, de não radicalismo.
E no que respeita aos aspectos sociais e políticos tem tido e terá cada vez mais, um papel muito importante e positivo a representar.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

"E agora, lembra-me"

"Viver com HIV e VHC (hepatite C) não é uma novidade para Joaquim Pinto, que contraiu os vírus há cerca de 20 anos. 
Será, no entanto, com espanto de novidade que percorremos as quase três horas de "E Agora? Lembra-me", filme autobiográfico em que acompanhamos um ano da vida de Joaquim, entre o campo onde vive, os ensaios clínicos em Madrid, o amor por Nuno, os cães, os amigos, as memórias e, como que condensando todos, o seu mundo interior, que espoleta em tantas direcções quantas consegue a consciência humana. 
Um filme que é uma partilha. "Quando me estava a preparar para este tratamento (em Madrid), percebi que praticamente não havia filmes actuais sobre o HIV feitos na primeira pessoa. Eu achei que era altura de alguém fazer um filme na primeira pessoa", conta-nos Joaquim. 
É, de facto, assim que acontece, com Joaquim a contar a história ao longo de todo o filme. 
Narrador presente e participante, que não inibe nunca a câmara: "Acho que o cinema tem a ver com exposição, tem a ver com luz, tem a ver, precisamente, com o mostrar alguma coisa. E também acho que não tenho nada a esconder." 
A sequência do filme decorre tal qual um diário de bordo, em jeito cronológico, onde podemos seguir Joaquim ao ritmo do tratamento a que se submeteu, um estudo clínico com medicamentos ainda não aprovados: "O filme foi feito na altura em que eu estava a fazer este tratamento muito complicado, com efeitos psicológicos muito pesados. Muitas vezes, fiquei surpreendido com o material que tínhamos filmado, porque devido a esses efeitos não me lembrava de muitas coisas."
 Se "E Agora? Lembra-me" surge também como exercício de memória - onde a narrativa de mistura, sem ordem aparente, entre desabafos quotidianos e episódios da vida de Joaquim -, isso não se deverá nem aos efeitos secundários dos medicamentos nem ao cansaço produzido por eles. 
Joaquim explica: "Há muitas pessoas que passam por situações extremas na sua vida que implicam uma reflexão. Muitas vezes, isso tem outro lado, que é o de permitir fazer um certo balanço não só em relação ao passado, mas em relação ao que é a vida, ao que é estar vivo." 
É assim que balançamos para cá e para lá, à boleia de João César Monteiro, Kurt Raab, Raul Ruiz, Guy Hacquenghem, Henri Alekan, Serge Daney, Copi, Claudio Martinez, amigos e companheiros de trabalho de Joaquim Pinto que aqui integram, sem dúvida, o seu panteão. 
"A doença teve em mim um efeito imediato que foi o de me ajudar a distinguir o que é realmente essencial. Por outro lado, teve o efeito de me aproximar das pessoas com quem, de facto, tenho alguma coisa a ver. E, se calhar, de afastar as amizades que eram só circunstanciais." 
Nuno Leonel, marido de Joaquim, é uma das "personagens" constantes no filme, um pilar presente/ausente que dizia ter coisas mais importantes para fazer do que participar no filme. "Cuidar de nós", conta Joaquim no filme. E, a nós, explica-nos: "Nos primeiros meses estive mais ou menos sozinho. Acho que há um momento de viragem que se percebe no filme, um momento em que o Nuno se aproxima e, a partir daí, o filme passa a ser feito pelos dois." 
Muitas das filmagens estiveram a cargo de Nuno Leonel, como faz questão de deixar claro Joaquim: "Não fui só eu a fazer o filme. Foi feito em colaboração total com o Nuno." 
"E Agora? Lembra-me" é também um filme sobre os sinais num mundo que Joaquim reconhece estar cego, por sermos, como diz, constantemente bombardeados com solicitações. 
"Há sempre coisas inesperadas e o mais importante é estarmos atentos aos sinais que diariamente nos iluminam, e não os negar." 
Uma crença na simplicidade das coisas, como nos diz, que não apresenta como manifesto ou revolta, mas como partilha: 
"O que quis fazer com este filme é dar espaço às pessoas, sem lhes dizer 'eu penso isto ou aquilo'. Quis, sim, partilhar um bocadinho as minhas dúvidas. Se este sentimento de inquietação positiva puder ser transmitido, eu acho óptimo."


 Este é um texto do jornal “i”, mas eu quero dizer algo mais.

Este filme marcou-me profundamente e em vários sentidos.
É um filme culturalmente brilhante, com pormenores técnicos fabulosos; é um filme profundamente comovedor e corajoso onde o realizador expõe a sua doença, os seus problemas, mas também as suas dúvidas e o seu amor (a figura de Nuno é fundamental).
Poucas vezes tenho visto cães filmados com tanto amor, sim, não me enganei, e os quatro cães são importantes no filme.
A um nível pessoal, achei uma coincidência a referência a uma pessoa que tão bem conheci, a Jo e a dois filmes que marcaram a minha vida: “A imitação da vida”, o primeiro filme que eu comentei num jornal, no início dos anos 60, quando estudava em Castelo Branco e a espantosa cena de Laura Betti, quando é enterrada viva a seu pedido no filme “Teorema” de Pasolini.
As citações maravilhosas de tanta gente, de Santo Agostinho a Ruy Belo, as referências muito bem “delineadas” a personalidades como Marx, Freud, e tantos outros.
As constantes alusões à Bíblia, à religiosidade do Nuno e a sua (do Joaquim) visão do Catolicismo, tão parecida à minha…
As recordações do passado, desde a infância, às viagens e estadias em países diferentes, a constante alusão aos Pais, aliás o seu Pai, com mais de 90 anos esteve presente na sala.
A actualidade do momento em que vivemos, a crise aqui e no mundo, os fogos, numa palavra, um olhar atento à realidade actual.
Enfim, e eu espero que o Joaquim viva muitos anos, mas este filme é desde já um testamento da sua vida e obra.

Não posso esquecer que este filme ganhou um dos mais importantes festivais de cinema, na sua última edição, Locarno.


É obrigatório que este filme maravilhoso possa ter uma exibição comercial para que possa ser apreciado por muita gente pois é um acto de verdadeira Cultura.
E agora, Joaquim?
Obrigado, a ti e ao Nuno!
Sim vamos lembrar-nos, é impossível esquecer este filme.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Cinemas de Lisboa - 5

Hoje vou falar de apenas quatro salas de cinema de Lisboa
Aquelas em que foi ou ainda é exibido cinema pornográfico.
Estes cinemas são quase só frequentados por público masculino e poucos lá irão com o simples intuito de ver um filme porno heterossexual. Transformaram-se talvez nos maiores centros de cruising homossexual lisboeta.
Um exemplo disso é um anúncio deste tipo que se pode ler em certos jornais:  
"Procuro macho activo muito homem para sexo oral em cinema porno. Caso esteja interessado contacte  xxxxxx.hotmail.com"

Comecemos pelo "Animatógrafo do Rossio" que fica situado na Rua dos Sapateiros, imediatamente a seguir ao Arco de Bandeira, pelo que também há gente que o chame por este nome.
O “Animatógrafo do Rossio” abriu no começo do século XX e foi dos mais elegantes cinemas de Lisboa, com uma fachada lindíssima, no estilo Arte Nova, que felizmente, pese embora as variadas funções do espaço, se mantém.
Também teve nas ultimas décadas do século a sua fase de “piolho” e depois de exibições pornográficas (foi ali que me aconteceu “algo”, na única vez que ali entrei, que me fez envergonhar de sair para a rua, e mais não digo…).
Era uma sala pequena, com uma entrada e uma saída diferentes, para lá daquelas cortinas de veludo vermelho.
Desde 1994 que passou a ser uma sex shop com espectáculos de “peep show” femininos.


O "Cinema Paraíso", situado perto do Largo Camões, que nasceu no princípio do século XX e teve inúmeras reincarnações: começou como Salão Ideal, depois para Cinema Ideal

passando por Cine Camões e acabando na actual designação de Cine Paraíso.
A sua programação também foi atribulada, pois começou por ser de estreia, depois passou pela reprise, descendo à condição de “piolho” com dois filmes por sessão (mantendo o nome de Cinema Ideal); quando adoptou o nome de Cine Camões exibiu filmes indianos e como Cinema Paraíso rendeu-se ao cinema porno, apesar da tentativa infrutífera da cooperativa Cinema Novo de implementar uma programação normal há alguns anos atrás (recordo-me de lá ter decorrido um excelente ciclo de cinema alemão num dos festivais Queer de Lisboa).
Relativamente ao seu tamanho é uma sala pequena (260 lugares) e que contém cadeiras que pertenceram ao saudoso Cine-Teatro Monumental, o que lhe confere uma certa grandiosidade.
Aproveito para deixar aqui um link, que relata uma ida de uma pessoa a este cinema, avisando desde já que este link tem uma ENORME bola vermelha, pelo que se devem abster de o ler os espíritos mais puritanos.
Curiosamente esta situação aqui relatada é semelhante em quase tudo ao que acontecia no Olympia.

Passemos ao mais famoso dos quatro - o "Olympia"
O Olympia foi inaugurado em 1911.
Era composto por salões para concertos e para exibições animatográficas, um gabinete para leitura e um restaurante.
Até 1975 foi um espaço consagrado ao cinema nacional, tendo também sido utilizado para peças de teatro e conferências.
Após o 25 de Abril começou a exibir filmes pornográficos.
Acabaria por ser definitivamente abandonado em 2001.
O encenador Filipe La Féria comprou o espaço em 2008.
Este foi o mais célebre cinema pornográfico de Lisboa, sendo assim como que um Cine Carretas madrileno, na nossa capital.
Fui lá variadas vezes e não vou entrar em muitos pormenores, pois o link ali de cima diz tudo o que aqui também se fazia, mas não só na sala, também nos WC e à vista de toda a gente.
Não era anormal verem-se caras conhecidas publicamente e uma coisa a que eu sempre achei alguma piada eram aqueles indivíduos trintões, quarentais e até mais velhos, que entravam com o jornal “A Bola” debaixo do braço, mostrando assim alguma “virilidade”, mas o jornal era também usado quando sentados para ocultar as cenas sexuais que ousavam praticar…
E, história verídica – quando alguém perguntou ao gerente porque não passava, naturalmente, a exibir filmes porno homossexuais, tendo em conta aquilo em que o cinema se havia tornado, respondeu o dito: “Nem pensar, eu sou um negociante honesto e um bom pai de família, porcarias dessas aqui, nunca!”

Finalmente um dos que ainda está "activo", é o "Cinebolso"

Sala situada na Rua Actor Taborda, que apareceu já depois do 25 de Abril. Até ao fim da década de 70 teve uma programação interessante (“La Salamandre”, “Joe Hill”, “Belle de Jour”, são alguns bons exemplos dos filmes que por lá passavam),
mas a partir de 1980 voltou-se em exclusivo para o cinema pornográfico. 
Em 1982 ainda passou pelas mão de Pedro Bandeira Freire, que lhe mudou o nome para Quinteto, transformando-o numa extensão do então muito bem sucedido Quarteto. 
No entanto a nova programação esbarrou no público habituado daquele espaço e a sala regressou às suas origens, voltando a chamar-se Cinebolso e de novo com uma programação exclusivamente feita de filmes pornográficos, mantendo-se assim até hoje. 
É curioso que das quatro salas aqui citadas apenas esta teria tido ou tem publico feminino nestas sessões porno; pelo menos tenho uma vaga ideia de ter ouvido falar em “engates” heterossexuais previamente combinados para este cinema… 
E de todas elas foi sempre a mais “soft” das quatro. 
Apenas lá fui uma vez e pude constatar isso.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Cinemas de Lisboa - 1

Dou hoje início a uma série de postagens sobre os cinemas de Lisboa.
Vai ser uma série bastante completa e bem documentada por fotos, pelo que tem que ser segmentada.
Nesta primeira postagem vou apenas referir os cinemas de estreia que havia na “baixa” da capital, incluindo a Avenida da Liberdade e outros dois grandes cinemas de estreia: um no Saldanha, o Monumental e outro na Alameda, o Império.
Hoje poucas são as salas de cinema que continuam a estrear filmes, estando quase toda a programação na mão das grandes distribuidoras que exibem os seus filmes, por assim dizer quase na totalidade em complexos no interior de grandes superfícies comerciais.
Mas passemos aos cinemas de hoje e em pleno Chiado, ali mesmo ao lado da PIDE, existia e continua a existir o S.Luís, que foi outrora um grande palco para as maiores figuras do Teatro (basta ver as lápides do seu magnífico interior) e depois durante largos anos foi um dos cinemas com melhor programação de Lisboa.
Hoje é um Teatro Municipal, com uma programação variada de teatro, Música, Bailado e outros espectáculos e tem ainda no seu interior uma Companhia de Teatro residente, o Teatro Mário Viegas.
Nos Restauradores, impunha-se o cinema Éden, magnífico edifício da autoria do grande arquitecto Cassiano Branco, com um complicado sistema de entradas e saídas
e que é hoje um hotel.
Quase em frente, havia o Condes
agora transformado no famoso Hard Rock Café.
Logo a seguir, quem vai para a Rua das Portas de S.Antão, o Odéon, especializado em filme populares
e que hoje está transformado num lamentável edifício em ruínas.
E no seu seguimento, mesmo em frente ao Coliseu dos Recreios, está o Politeama, antes um cinema de estreia de filmes de série B, (mas já havia sido Teatro)
e hoje recuperado para as grandes produções musicais (e não só) de Filipe La Féria, no estilo da Broadway, made in Portugal.
A meio da Avenida, dois cinemas de grande nível, um em frente do outro: o S.Jorge, que exibia grandes filmes, da programação cuidada da Rank
e que é hoje propriedade camarária e que regista ao longo de todo o ano grande afluência de público devido aos muitos festivais de cinema ali realizados.
E o Tivoli, uma das mais belas salas de Lisboa, e uma das três que projectava filmes de 70 mm (as outras eram o Monumental e o Império), com uma programação cuidada
e hoje é uma sala com variados espectáculos, com destaque para o Teatro, nomeadamente para as companhias brasileiras que se deslocam até nós.
No Saldanha, uma sala que era uma referência, o Monumental (aliás eram duas, pois havia o cinema e o teatro, onde pontificava o empresário vasco Morgado e a grande Laura Alves). As grandes produções de Hollywood eram geralmente ali projectadas.
Hoje é um edifício moderno de escritórios, com um centro comercial, onde se exibem em várias salas, bom cinema.
Finalmente, na Alameda, outro “monstro” do cinema lisboeta – o Império, também com excelente programação e que foi das primeiras salas em Portugal a ter uma sala alternativa, o Estúdio, com uma programação muito especial e bastante elitista – quase toda a obra de Bergman ali foi exibida
Hoje foi comprado pela IURD, que tem dinheiro para isso e muito mais…

Nesses tempos os bilhetes eram mesmo “bilhetes"
havia programas que os arrumadores ofereciam a troco de uma gorjeta (os lugares eram marcados)
e os jornais traziam assim a programação
De realçar também os enormes painéis que os cinemas de estreia exibiam nas suas fachadas, alguns muito bem feitos.