domingo, 1 de junho de 2014

Eugénio de Andrade

Eugénio de Andrade é um dos maiores nomes das letras portuguesas contemporâneas, tendo-se distinguido essencialmente como poeta.
Pessoalmente, é junto com Sophia, Botto, Florbela, Pessoa e Camões um dos expoentes máximos e que releio variada vezes.
Algumas breves referências à sua vida e obra, retiradas da Wikipédia.

O poeta nasceu na freguesia de Póvoa de Atalaia – Fundão (bem perto da minha terra), em 19 de Janeiro de 1923. Fixou-se em Lisboa aos dez anos, com a mãe, que entretanto se separara do pai.
 Frequentou o Liceu Passos Manuel e a Escola Técnica Machado de Castro, tendo escrito os seus primeiros poemas em 1936, o primeiro dos quais, intitulado Narciso, publicou três anos mais tarde.
Em 1943 mudou-se para Coimbra, onde regressa depois de cumprido o serviço militar convivendo com Miguel Torga e Eduardo Lourenço.
Tornou-se funcionário público em 1947 exercendo durante 35 anos as funções de Inspector Administrativo do Ministério da Saúde.
Uma transferência de serviço levá-lo-ia a instalar-se no Porto em 1950, numa casa que só deixou mais de quatro décadas depois, quando se mudou para o edifício da extinta Fundação Eugénio de Andrade, na Foz do Douro.
Durante os anos que se seguem até à data da sua morte, o poeta fez diversas viagens, foi convidado para participar em vários eventos e travou amizades com muitas personalidades da cultura portuguesa e estrangeira, como Joel Serrão, Miguel Torga, Afonso Duarte, Carlos Oliveira, Eduardo Lourenço, Joaquim Namorado, Sophia de Mello Breyner Andresen, Teixeira de Pascoaes, Vitorino Nemésio, Jorge de Sena, Mário Cesariny, José Luís Cano, Angel Crespo, Luis Cernuda, Jaime Montestrela, Marguerite Yourcenar, Herberto Helder, Joaquim Manuel Magalhães, João Miguel Fernandes Jorge, Óscar Lopes, e muitos outros. Apesar do seu enorme prestígio nacional e internacional, Eugénio de Andrade sempre viveu distanciado da chamada vida social, literária ou mundana, tendo o próprio justificado as suas raras aparições públicas com «essa debilidade do coração que é a amizade».
Recebeu um sem número de distinções, entre as quais o Prémio da Associação Internacional de Críticos Literários (1986), Prémio D. Dinis da Fundação Casa de Mateus (1988), Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores (1989) e Prémio Camões(2001).
A 8 de Julho de 1982 foi feito Grande-Oficial da Ordem Militar de Santiago da Espada e a 4 de Fevereiro de 1989 foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem de Mérito.
 Faleceu a 13 de Junho de 2005, no Porto, após uma doença neurológica prolongada.

Estreou-se em 1939 com a obra Narciso, torna-se mais conhecido em 1942 com o livro de versos "Adolescente".
A sua consagração acontece em 1948, com a publicação de "As mãos e os frutos", que mereceu os aplausos de críticos como Jorge de Sena ou Vitorino Nemésio.
A obra poética de Eugénio de Andrade é essencialmente lírica, considerada por José Saramago como uma poesia do corpo a que se chega mediante uma depuração contínua.
Entre as dezenas de obras que publicou encontram-se, na poesia, "Os amantes sem dinheiro" (1950), "As palavras interditas" (1951), "Escrita da Terra" (1974), "Matéria Solar" (1980), "Rente ao dizer" (1992), "Ofício da paciência" (1994), "O sal da língua" (1995) e "Os lugares do lume" (1998).
Em prosa, publicou "Os afluentes do silêncio" (1968), "Rosto precário" (1979) e "À sombra da memória" (1993), além das histórias infantis "História da égua branca"(1977) e "Aquela nuvem e as outras" (1986). Foi também tradutor de algumas obras, como dos espanhóis Federico García Lorca e Antonio Buero Vallejo, da poetisa grega clássica Safo (Poemas e fragmentos, em 1974), do grego moderno Yannis Ritsos, do francês René Char e do argentino Jorge Luis Borges.
Em Setembro de 2003 a sua obra "Os sulcos da sede" foi distinguida com o prémio de poesia do Pen Clube Português.

 O poema dele que aqui deixo é do seu livro “Obscuro Domínio” e é um dos muitos em que ele mostra bem e com o seu cunho pessoal a sua orientação sexual que nunca procurou esconder.

 NAS ERVAS

Escalar-te lábio a lábio,
Percorrer-te: eis a cintura
O lume breve entre as nádegas
E o ventre, o peito, o dorso
Descer aos flancos, enterrar

Os olhos na pedra fresca
Dos teus olhos,
Entregar-me poro a poro
Ao furor da tua boca,
Esquecer a mão errante
Na festa ou na fresta

Aberta à doce penetração
Das águas duras,
Respirar como quem tropeça
No escuro, gritar
Às portas da alegria,
Da solidão.

Porque é terrível
Subir assim às hastes da loucura,
Do fogo descer à neve.
Abandonar-me agora
Nas ervas ao orvalho -
A glande leve.

13 comentários:

  1. Olá, João.

    Ando há imenso tempo para vir retribuir as tuas gentis visitas aos meus últimos post's e vejo que não poderia ter escolhido melhor dia.
    Eugénio de Andrade é um dos meus poetas preferidos e são dele os mais belos poemas que tenho publicado.
    Este teu trabalho, deu-me a conhecer algumas facetas do escritor que eu desconhecia. Achei uma delícia a sua frase « essa debilidade do coração que é a amizade» com que justificava as suas raras aparições em público.
    Sabes que tenho, em rascunho, desde há muito tempo, o poema 'Retrato Ardente' , justamente, do livro "Obscuro Domínio"?
    Por um motivo ou por outro, ainda não saiu à cena. Talvez calhe, brevemente!

    Desejo que esteja tudo bem contigo, João.

    Beijinho.

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    1. Olá Janita
      será que haverá alguém que não goste de Eugénio de Andrade.
      É uma daquelas pessoas cuja poesia pode ser escolhida para iniciar aqueles que nunca leram poesia e pensam que não gostam.
      Fico à espera do teu trabalho.
      O meu blog está muito diferente, mais espaçadas as entradas e tem um cariz mais de partilhas e de dar a conhecer coisas diferentes...
      Beijinho.

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  2. um dos meus poetas preferidos, sem dúvida. já houve alturas na minha vida em que o li quase como uma bíblia. apesar de nunca ter assumido, o facto é que, como salientas, a sua poesia nunca escondeu a orientação sexual; aliás, estou convencido de que essa é uma forte razão para o EA ter sido "o poeta" de tanta gente.

    deixo-te aqui, à laia de prendinha, um clip com o próprio Eugénio a dizer um dos 'tais' poemas:
    https://www.youtube.com/watch?v=Adab0jkCeis

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    1. Miguel
      mas que prenda deliciosa este vídeo do EU a declamar um poema seu maravilhoso, dos "tais", como bem dizes.
      Obrigado.
      Também tenho uma prenda para ti que te vou enviar - o "pdf" do livro mais que esgotado da Judith Teixeira - "Decadência", que foi uma atenção que o Henrique Levy teve para comigo.
      Abraço amigo.

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  3. Sempre que passo por aqui, aprendo sempre algo de novo e saio mais rico :)

    Obrigado

    E, eu que tinha a ideia que o senhor era brasileiro :(

    Tenho que ir rapidamente à Feira do Livro, procurar mais

    Fiquei com muita vontade de ler mais

    Abraço amigo João

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  4. Francisco
    tens aqui no poema que transcrevo uma imagem da maravilhosa poesia de Eugénio de Andrade.
    Se te interessa ler algo dele aconselho-te que comeces por um dos seus melhores livros - "Palavras Interditas".
    Abraço amigo.

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  5. Bom dia amigo
    Desconhecia completamente. Iniciou a carreira literária no ano do meu nascimento - 1947
    A seiva da sua poesia tem uma luz temerária naquele tempo em que tudo estava sob controle da igreja e dos estado.
    Gostei de conhecer esta sensualidade diferente.

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  6. Luís
    de um modo restrito foi um poeta "revolucionário" no que concerne à homossexualidade, mas sempre mais contido do que por exemplo António Botto. Daí ele ter sido consagrado ao invés de Botto, poeta maldito.
    Abraço amigo.

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  7. olha lá, devemos ser telepatas: eu a comprar um seu livro na feira do livro e tu a colocares este texto :)
    bjs.

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  8. Margarida
    não sei se já leste algo dele? Ou apenas poemas avulso?
    É um poeta que merece ser "explorado". Eu sei que ler poesia não é como ler prosa e é necessário o momento certo.
    Mas será sempre um livro complementar daquele que lemos no momento...
    Beijinho.

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  9. Olá Ermes (suponho que seja este o teu nome, e se não for, corrige-me)
    obrigado pela tua visita e fiquei satisfeito de conhecer o teu blog que passarei a seguir (já o acrescentei no "Feedly").
    Espero que também continues a aparecer por aqui, embora este não seja um blog exclusivamente gay, mas aborda com toda a naturalidade diversos assuntos que têm a ver directa ou indirectamente com a comunidade LGBT.
    Abraço.

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  10. Não acredito que o Francisco pensava que o Grande Eugénio de Andrade era brasileiro. LOL

    Um poeta que adoro.

    abraço.

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  11. Mark
    também me admirei, confesso, pois Eugénio de Andrade é "só" um dos maiores nomes da literatura portuguesa contemporânea.
    Abraço amigo.

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Evita ser anónimo, para poderes ser "alguém"!!!