domingo, 29 de dezembro de 2013

As "minhas" personagens do ano

Estamos no final de mais um ano, tempo de balanços e de esperança.
Quanto à esperança, confesso que ela é quase nula, em relação a um novo ano melhor que este que agora finda; e não seria difícil, tão mau ele foi…
Balanços, já afirmei ter sido um ano verdadeiramente mau, não só pelas razões que (quase) todos conhecem, mas também a nível pessoal, perdi um ente querido.
Não me vou a alongar em apontar o bom (pouco) e o mau (muito) que houve, quer no nosso país, quer lá fora e apenas deixo aqui a minha opinião sobre quem foram as personagens do ano de 2012.

Uma, pelas piores razões, a escolhida a nível nacional; e porque não pode ser tudo mau, a outra, a nível mundial, pelas melhores razões e nela assenta a maior parte da pouca esperança no ano que aí vem.


Vitor Gaspar, foi o escolhido por mim para personagem do ano nacional, embora houvesse vários outros candidatos e quase todos pela negativa.
A escolha nesta figura baseia-se em ter sido ele o pilar da (des)construção de todo um sistema económico, social e político em que ele confiava cegamente conforme a sua formação junto dos meios internacionais que agora comandam o mundo – os mercados.
A forma como ele governou o país foi catastrófica e o mais curioso é que foi ele próprio a reconhecer o fracasso dessa política, quando da sua demissão escreveu a sua famosa carta que é demolidora e que infelizmente o Governo ignorou e manteve essa forma de governar.



Já no plano internacional, a escolha é bastante consensual.
Este ano tivemos um facto inédito desde há muito – a resignação de um Papa e a eleição do seu sucessor. Independentemente das questões da fé e da religiosidade de cada um, todos sabemos que a figura do Papa tem no mundo um papel importantíssimo.
E a Igreja há muito precisava de sair da “rotina” de Papas ou muito maus (Bento XVI), ou “assim, assim” (João Paulo II).
Este Papa é o primeiro não europeu, originário de uma América Latina, cada vez mais importante no mundo actual.
Desde o princípio que o Papa Francisco nos deu uma boa imagem, mas com o decorrer do tempo essa imagem foi-se cimentando em actos e mesmo naqueles aspectos em que a Igreja é mais conservadora, para não dizer retrógrada, ele tem dado sinais de mudança, de não radicalismo.
E no que respeita aos aspectos sociais e políticos tem tido e terá cada vez mais, um papel muito importante e positivo a representar.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Poema do Menino Jesus

Um dos mais belos poemas de Fernando Pessoa, na interpretação maravilhosa de Maria Bethânia
Este é quase o poema integral que Fernando Pessoa escreveu no seu livro "O Guardador de Rebanhos", do heterónimo Alberto Caeiro e que aqui deixo na integra:

Num meio-dia de fim de Primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.

Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu tudo era falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras.
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo à roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas -
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque nem era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.
Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E que nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!

Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz
E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o Sol
E desceu no primeiro raio que apanhou.
Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas
Que vão em ranchos pelas estradas
Com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.

A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as coisas.
Aponta-me todas as coisas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão 
E olha devagar para elas.

Diz-me muito mal de Deus.
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar para o chão
E a dizer indecências.
A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia.
E o Espírito Santo coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.
Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou -
"Se é que ele as criou, do que duvido." -
"Ele diz por exemplo, que os seres cantam a sua glória,
Mas os seres não cantam nada.
Se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres."
E depois, cansado de dizer mal de Deus,
O Menino Jesus adormece nos meus braços
E eu levo-o ao colo para casa.

Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.

Esta é a história do meu Menino Jesus.
Por que razão que se perceba
Não há-de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam ?

[Alberto Caeiro (heterônimo de Fernando Pessoa), Poema do Menino Jesus]

sábado, 21 de dezembro de 2013

Francisco

Faleceu anteontem, quinta feira o meu amigo Francisco.
Não era um amigo de infância, já que ele era natural de Elvas, alentejano de gema; conhecemo-nos no nosso primeiro ano de Lisboa, nos alvores da década de sessenta.
Eu e a malta da Covilhã pontificávamos no Monte Carlo e ele como alentejano e aluno de Agronomia caía mais ali mesmo em frente, na Paulistana (aliás ao tempo, o Saldanha era muito cosmopolita).
Quis o destino que o Francisco se enamorasse de uma moça amiga da Covilhã e então quando ele ia passar férias na minha terra era em minha casa que ficava.
Daí me considerar um pouco um patrono da união de ambos e que lhes deu seis filhos, um dos quais morreu muito novo à porta de casa, aqui em Lisboa, quando saía da mota que tinha.
Desde então o Francisco passou a ser um covilhanense de coração e a amizade com a nossa malta foi sempre crescendo.
Nos últimos tempos, desde há pouco mais de um par de anos, tínhamos por salutar hábito encontrarmo-nos uma vez por mês, ele, eu e mais três amigos, para almoçar em Lisboa; almoços demorados em que a Amizade e as recordações imperavam, apesar dos desfasamentos políticos ou clubísticos.
Por vezes alargávamos o repasto às caras metades, a quem as tinha (todos menos eu).
E de repente, há alguns meses tudo aconteceu ao Francisco: começou a ficar diabético, apareceu-lhe um tumor na próstata, removido com sucesso numa cirurgia e agora um novo tumor, que nada se relacionava com o anterior, desta vez, no cérebro.
Três cirurgias num espaço curtíssimo de tempo, um coma induzido, depois um coma profundo, uma infecção generalizada e assim ele partiu, quase sem avisar ninguém.
Devido a uma traumática experiência pessoal de há poucos anos, em que a minha irmã mais velha faleceu com um tumor semelhante, temi sempre o pior, o que infelizmente aconteceu.
Nunca o fui ver ao hospital, pois eu, por feitio e defeito próprio, em vez de levar ânimo a um doente, vou-me abaixo, comovo-me e o efeito é contraditório.
Só quando os médicos, há pouco mais de uma semana, “desenganaram” a família, lá fui, para estar com a mulher, os filhos e a irmã, mas não o vi, pois já estava em coma nos cuidados intensivos.
Como se decidiram pela cremação e esta continua, incompreensivelmente, a ter apenas dois locais em Lisboa, tiveram que esperar por hoje para fazerem o funeral.
Só hoje o corpo, logo pela manhã veio do Hospital da Luz para a Basílica da Estrela e ainda bem que assim foi, pois a família pôde ontem, em comunhão, descansar do imenso desgaste dos últimos dias. O funeral foi comovente, com centenas de pessoas, revi muitos amigos e dei o meu apoio à família.
Um padre verdadeiramente chato, que fez demorar uma missa de corpo presente uma hora, não estragou a cerimónia, que teve no final da missa um momento especial, com os filhos todos juntos e com a mais velha a ler uma carta de despedida ao Pai.
O Francisco era quase da minha idade, exactamente um ano e um dia mais velho que eu e já não foi o primeiro a partir.
Cada vez mais pela precariedade da vida dou mais valor à maneira como a vivemos – o tempo vai-se escoando, e embora ainda tenha uma Mãe “jovem” de 91 anos, cada vez vamos sendo menos.
Como serão agora os nossos almoços sem ti, meu querido Francisco?

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

O Natal na pintura


Conrad Soest ou Conrad von Soest 

Petrus Christus 

Sandro Botticelli

Gerard David


Hieronymus Bosch


Geertgen tot Sint Jans 


Lorenzo Costa


Ambrogio Borgognone


Marten (Maarten) de Vos

Caravaggio 

Georges de La Tour

Arthur Hughes

Paul Gauguin

Tintoretto

Ribera
Paolo Veronese

Rubens

Rembrandt

Giotto

El Greco

Murillo

Rafael Sanzio


Jacopo da Ponte ou Basasno


Botticelli

Fra Angelico


Andrea Mantegna


Justino Alves

Paula Rego
















domingo, 15 de dezembro de 2013

Karl Hofer


O Whynotnow vai voltar, mas com significativas modificações, não só do conteúdo, como também da perspectiva com que eu, de agora em diante, vou olhar a blogosfera.

E começo por aqui: sigo muitos blogs, demasiados blogs e custa-me deixar de os seguir; assim, e porque os acho  todos com motivos de interesse, vou continuar a segui-los, com previsíveis atrasos, e sem qualquer compromisso de comentário. Apenas comentarei aqui e ali, algum post que me “peça” um comentário.
Alguns são muito pessoais, quase um diário, outros são uma miscelânea de pequenas coisas, outros ainda apenas pictóricos ou musicais ou de conteúdo adulto, mas todos com algum interesse. Embora sem uma motivação extra que me faça dizer qualquer coisa.

Quanto a este blog e dado o cada vez maior interesse que mostro pelo Pinterest, onde tenho um perfil com 351 pastas das mais diversas situações e que comportam 71.000 fotos, perfil esse que é seguido por mais de 5.000 pessoas de todo o mundo, vou “abri-lo” aqui no blog a quem tiver interesse em seguir-me.

Não digo, que uma vez por outra, por um motivo qualquer, não faça uma postagem “clássica”, das habituais que fazia até agora, mas serão uma excepção e não a regra.

Como complemento, e sempre que possível, um complemento musical, que motive por si só, a vontade de visitar o blog.

Para começo escolhi um pintor alemão, não muito conhecido e que acho deveras interessante: Karl Hofer.
Karl Hofer (Karlsruhe, 1878 – Berlim, 1955) foi um pintor expressionista alemão, adstrito a uma corrente a que se chamou “Nova Objectividade”. 
Iniciado num certo classicismo próximo a Hans von Marées (lá irei um dia), estudou em Roma e Paris. Em Paris surpreendeu-o a I Guerra Mundial e foi feito prisioneiro durante três anos, facto que marcou profundamente o desenvolvimento da sua obra, com figuras atormentadas, de gestos vacilantes, em atitude estática, enquadradas em designs claros, de cores frias e pincelada pulcra e impessoal.
As suas figuras são solitárias, de aspecto pensativo, melancólico, denunciando a hipocrisia e a loucura da vida moderna.
É um pintor com uma vasta obra, e variada, pelo que a selecção aqui apresentada, além de muito subjectiva foi também difícil.
Para uma visão mais alargada poderão ir aqui.