sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Cinemas de Lisboa - 5

Hoje vou falar de apenas quatro salas de cinema de Lisboa
Aquelas em que foi ou ainda é exibido cinema pornográfico.
Estes cinemas são quase só frequentados por público masculino e poucos lá irão com o simples intuito de ver um filme porno heterossexual. Transformaram-se talvez nos maiores centros de cruising homossexual lisboeta.
Um exemplo disso é um anúncio deste tipo que se pode ler em certos jornais:  
"Procuro macho activo muito homem para sexo oral em cinema porno. Caso esteja interessado contacte  xxxxxx.hotmail.com"

Comecemos pelo "Animatógrafo do Rossio" que fica situado na Rua dos Sapateiros, imediatamente a seguir ao Arco de Bandeira, pelo que também há gente que o chame por este nome.
O “Animatógrafo do Rossio” abriu no começo do século XX e foi dos mais elegantes cinemas de Lisboa, com uma fachada lindíssima, no estilo Arte Nova, que felizmente, pese embora as variadas funções do espaço, se mantém.
Também teve nas ultimas décadas do século a sua fase de “piolho” e depois de exibições pornográficas (foi ali que me aconteceu “algo”, na única vez que ali entrei, que me fez envergonhar de sair para a rua, e mais não digo…).
Era uma sala pequena, com uma entrada e uma saída diferentes, para lá daquelas cortinas de veludo vermelho.
Desde 1994 que passou a ser uma sex shop com espectáculos de “peep show” femininos.


O "Cinema Paraíso", situado perto do Largo Camões, que nasceu no princípio do século XX e teve inúmeras reincarnações: começou como Salão Ideal, depois para Cinema Ideal

passando por Cine Camões e acabando na actual designação de Cine Paraíso.
A sua programação também foi atribulada, pois começou por ser de estreia, depois passou pela reprise, descendo à condição de “piolho” com dois filmes por sessão (mantendo o nome de Cinema Ideal); quando adoptou o nome de Cine Camões exibiu filmes indianos e como Cinema Paraíso rendeu-se ao cinema porno, apesar da tentativa infrutífera da cooperativa Cinema Novo de implementar uma programação normal há alguns anos atrás (recordo-me de lá ter decorrido um excelente ciclo de cinema alemão num dos festivais Queer de Lisboa).
Relativamente ao seu tamanho é uma sala pequena (260 lugares) e que contém cadeiras que pertenceram ao saudoso Cine-Teatro Monumental, o que lhe confere uma certa grandiosidade.
Aproveito para deixar aqui um link, que relata uma ida de uma pessoa a este cinema, avisando desde já que este link tem uma ENORME bola vermelha, pelo que se devem abster de o ler os espíritos mais puritanos.
Curiosamente esta situação aqui relatada é semelhante em quase tudo ao que acontecia no Olympia.

Passemos ao mais famoso dos quatro - o "Olympia"
O Olympia foi inaugurado em 1911.
Era composto por salões para concertos e para exibições animatográficas, um gabinete para leitura e um restaurante.
Até 1975 foi um espaço consagrado ao cinema nacional, tendo também sido utilizado para peças de teatro e conferências.
Após o 25 de Abril começou a exibir filmes pornográficos.
Acabaria por ser definitivamente abandonado em 2001.
O encenador Filipe La Féria comprou o espaço em 2008.
Este foi o mais célebre cinema pornográfico de Lisboa, sendo assim como que um Cine Carretas madrileno, na nossa capital.
Fui lá variadas vezes e não vou entrar em muitos pormenores, pois o link ali de cima diz tudo o que aqui também se fazia, mas não só na sala, também nos WC e à vista de toda a gente.
Não era anormal verem-se caras conhecidas publicamente e uma coisa a que eu sempre achei alguma piada eram aqueles indivíduos trintões, quarentais e até mais velhos, que entravam com o jornal “A Bola” debaixo do braço, mostrando assim alguma “virilidade”, mas o jornal era também usado quando sentados para ocultar as cenas sexuais que ousavam praticar…
E, história verídica – quando alguém perguntou ao gerente porque não passava, naturalmente, a exibir filmes porno homossexuais, tendo em conta aquilo em que o cinema se havia tornado, respondeu o dito: “Nem pensar, eu sou um negociante honesto e um bom pai de família, porcarias dessas aqui, nunca!”

Finalmente um dos que ainda está "activo", é o "Cinebolso"

Sala situada na Rua Actor Taborda, que apareceu já depois do 25 de Abril. Até ao fim da década de 70 teve uma programação interessante (“La Salamandre”, “Joe Hill”, “Belle de Jour”, são alguns bons exemplos dos filmes que por lá passavam),
mas a partir de 1980 voltou-se em exclusivo para o cinema pornográfico. 
Em 1982 ainda passou pelas mão de Pedro Bandeira Freire, que lhe mudou o nome para Quinteto, transformando-o numa extensão do então muito bem sucedido Quarteto. 
No entanto a nova programação esbarrou no público habituado daquele espaço e a sala regressou às suas origens, voltando a chamar-se Cinebolso e de novo com uma programação exclusivamente feita de filmes pornográficos, mantendo-se assim até hoje. 
É curioso que das quatro salas aqui citadas apenas esta teria tido ou tem publico feminino nestas sessões porno; pelo menos tenho uma vaga ideia de ter ouvido falar em “engates” heterossexuais previamente combinados para este cinema… 
E de todas elas foi sempre a mais “soft” das quatro. 
Apenas lá fui uma vez e pude constatar isso.

30 comentários:

  1. eu pecador me confesso: nunca entrei em nenhum destes cinemas.

    com uma "semi-excepção". fui muitas vezes à Rua dos Sapateiros ver, e mostrar a visitantes, aquela que é uma das mais belas fachadas arte-nova de Lisboa, e um dos nomes de cinema mais evocativos da capital: o Animatógrafo do Rossio. e nessas visitas entrei, é claro, no edifício, já a funcionar como peep-show, para tentar apreciá-lo por dentro (mas hélas!, nunca assisti às variedades!)

    é uma pena a CML ou a Cinemateca não tentarem recuperar este lindíssimo edifício e transformá-lo numa sala de prestígio, e agora que há tantos festivais de cinema ela teria certamente bom uso. o Animatógrafo merecia, e Lisboa ficava mais rica e mais bonita.

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    1. Miguel
      sem dúvida que é dos mais belos exemplares de arte-nova da nossa Lisboa e no meio de tantas asneira urbanistica que se tem feito é quase um milagre chegar até nós assim.
      E concordo que mereceria melhor sorte do que aquela que tem tido.
      Abraço amigo.

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  2. Nos inicios dos anos 90 conheci o Olympia através de um amigo. Foi num Sábado à tarde e descobri que aquele local era mais conhecido e frequentado por gays, como aos dias de hoje, aqueles que utilizam o grynder. Só lá fui uma vez...

    Em 2010, fui com um outro amigo ao Cinebolso e igual ao Olympia só que anos mais tarde. Creio que com os dedos de uma mão, conto as vezes que fui ao Cinebolso

    Nada contra, mas não é a minha praia para engates...

    Abraço amigo João e bom fim de semana

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    1. Francisco
      mas olha que é a praia de muita gente...
      Abraço amigo.

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  3. Não percebi. Ainda há algum em funcionamento para os ditos efeitos?
    E segunda nota: Não percebo tanta histeria por causa da recente moda das saunas, quando estes cinemas de há décadas eram tão mais reles.
    E terceira nota: Não digo desta água não beberei, mas é anti-tesão fazer, seja em público ou whatever, com qualquer um... sem uma seleção prévia e cuidadosa. Ou então sou eu... que sou muito 'sobrinho de Cascais'. Só gosto material do bom e isso exige afincado trabalho de perícia criminal.

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    1. Alex
      quanto à primeira questão, continuam em funções o Cine Paraíso e o Cinebolso para a exibição de filmes pornográficos e o Animatógrafo do Rossio, como Sex Shopp com Peep Show feminino.
      Só o Olympia está encerrado ou pelo menos não aberto ao público, já que uma vez que fui ver uma peça do La Féria ao Politeama, no intervalo era um espaço aberto ao público, mas normalíssimo.
      Segundo ponto: que eu saiba a moda das saunas já vem de muito longe. Havia mesmo mais saunas antigamente que agora, talvez; não sei pois há anos que não vou a uma sauna. Mas um cinema destes tinha vantagens sobre as saunas, uma delas era o preço já que o preço do bilhete era muito mais barato que uma entrada numa sauna. Também desconheço os preços actuais. Por outro lado, se numa sauna o "criusing" era mais seleccionado (e aqui já entro na terceira questão), nestes cinemas a oferta era muito mais vasta e diversificada.
      Mas e já abertamente quanto ao terceiro ponto, nos cinemas, junto aos que procuram sexo por vontade e tantos por ansiedade anónima, também havia os chulos pelo que no escuro das salas pudesse haver eventualmente complicações para os inadvertidos. Mss olha que havia também material muito bom no meio de tanta gente...
      Abraço amigo.

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  4. nunca entrei nestes cinemas. e concordo, lisboa devia perservar o animatógrafo, mas como a CM expulsou a companhia do chiado do teatro estúdio mário viegas por falta de pagamento, não iria investir neste espaço, não está nas suas prioridades. tivesse eu dinheiro e era aí que investiria. o espaço é tão nobre e histórico.
    bom fim-de-semana.
    bjs.

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    1. Margarida
      espantado ficaria se tivesses entrado, hehehe...
      Era uma belíssima ideia fazer do espaço do "Animatógrafo do Rossio" algo de culturalmente útil, embora pela sua pequenez não o veja como teatro.
      Beijinho.

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  5. Pesquisa bem completa (de outra forma, eu não tomaria conhecimento destes espaços).
    Quanto ao teu comentário lá no blog, sobre as fotos... pois é... é o que faz passar as férias em casa, enquanto o marido trabalha!!!

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    1. Rosa
      tem sido uma pesquisa bem curiosa. Agora vou começar a falar dos cinemas de reprise.
      Sobre o teu "passatempo" no teu blog, até o acho interessante.
      Beijinho.

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  6. Pois esses que referes hoje só conheço de nome - e de fachada:))))
    Mas merecem referência, claro, fazem parte da história da cidade de Lisboa!

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    1. Justine
      também não esperava que os conhecesses de outra forma, hehehe...
      Claro que fazem parte da história da cidade e merecem uma referência numa descoberta completa dos cinemas da cidade.
      Beijinho.

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  7. João,
    Muito interessante estes últimos posts sobre os cinemas de Lisboa. Conheci a maioria deles e das salas que mais apreciava para além dos óbvios Tivoli, Condes e Éden figuravam também o Monumental, Nimas e o Quarteto. Por exemplo, vi a estreia do "Apocalypse Now" no maravilhoso cinema do Monumental. Grandes salas aquelas!
    Quanto a este último post sobre os cinemas que passam filmes porno, fui uma vez ao Olímpia e outra ao Capitólio no Parque Mayer.
    De ambas as vezes (eu era muito jovem) percebi muitos movimentos suspeitos durante a projecção do filme e nos intervalos. Mas, sinceramente, não repeti a dose pois não faz o meu tipo.
    Para se ver filmes porno, deve-se ver em casa em privado sejam eles hetero ou homo e depois, para agravar a situação, a qualidade da assistência, seja sob que prisma se fizer a avaliação, não era de molde a incentivar novas aventuras naqueles espaços.

    Um abraço com amizade

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    1. Lear
      concordo contigo, mas também penso que a quase totalidade das pessoas que frequentam ou frequentavam estas salas não se interessavam minimamente no filme projectado; era tudo uma questão de puro sexo.
      Falas no Capitólio, e eu vou falar dele no próximo post, mas confesso desconhecer que tivesse sido também cinema porno...
      Abraço amigo.

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  8. :) Fui uma vez ao Cinema Paraíso ver Entre tinieblas do Pedro Almodóvar. Não sabia que o cinema tinha sido um cinema porno (era tão inocente na altura). Estava eu e mais meia dúzia de homens de meia idade... todos sentados perto de mim. Achei aquilo estranho, mas não dei importância. Eu estava felicíssimo por ver aquele filme em ecrã de cinema. Aos poucos, à medida que o filme decorria os meus companheiros de cinema foram desaparecendo e talvez, 20 minutos depois eu estava sozinho na sala... Só alguns anos depois percebi que aqueles senhores tinham vindo ao engano... :D

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    1. iLove
      sim, também há quem vá ao engano...mas são poucos.
      Sobre Almodovar fui há pouco tempo ao King ver os três filmes que me faltavam ver do famoso manchego.
      Esse "Entre tinieblas" é uma maravilha como aliás são deliciosos esses filmes da primeira fase do Almodovar.
      Abraço amigo.

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  9. Dos quatro que falas, só conheci o Cinebolso e dos tempos em que era um cinema de estreia. Curiosamente, os filmes porno que vi em cinema, foram no Parque Mayer, num daqueles teatros que virou cinema porno depois do 25 de Abril. Engates e cenas em cinemas porno, não são a minha praia, mas confesso que gostaria de conhecer o Animatógrafo do Rossio para ver se os interiores mantêm o estilo da sua bela fachada.
    Abraço.

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    1. Arrakis
      estou a ver que deveria ter incluído o Capitólio nesta postagem, mas este espaço do Parque Mayer serviu para tanta coisa que eu o incluí nos cinemas de reprise, pelo que aparecerá no próximo post.
      Acho que o Animatógrafo continua com a mesma traça, embora eventualmente bastante estragada pelos diferentes usos que tem tido. Mas também não perdes nada em entrar lá quando passares pelo Rossio, pois penso que tem entrada livre, sendo como é uma sex-shop. Só se pagarão as idas para os gabinetes do peep show, presumo...
      Abraço amigo.

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  10. Desconhecia que havia cinemas especializados para exibirem filmes pornográficos. Fiquei informada. Beijinhos

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    1. Mary
      como já referi aí em cima, quer o texto, quer nos comentários, estes cinemas eram quase só exclusivamente frequentados por um público masculino e maioritariamente homossexual.
      Beijinho.

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  11. Nunca entrei nesses lugares e nem sabia que existiam cinemas pornográficos - meu Deus, quanta ingenuidade a minha! Pior, com práticas sexuais lá dentro. Sem tom crítico (ou com um bocadinho...), mas as pessoas que fazem estas coisas em público não conhecem as 'quatro paredes'? Eu nem sei se isto não configurará um crime de atentado ao pudor...

    Enfim, respeito. Não consigo compreender.

    abraço, querido João.

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    1. Mark
      não me admira nada que nunca tivesses entrado num destes cinemas e que até desconhecesses estas práticas livres e públicas de engate.
      Como nada deves saber das saunas, dos "quartos escuros" de alguns bares gays, das zonas de engate que já houve e ainda há em Lisboa, como por exemplo o Estádio Nacional, ou a Cidade Universitária, os sites de engate, variados e para todos os gostos, enfim um mundo ou sub-mundo que existe dentro da homossexualidade.
      E onde podes encontrar gente pouco recomendável, mas também respeitáveis chefes de família em escapadinhas à "honrada figura de marido e pai extremoso"...
      Enfim, vais abrindo os olhos, porque é bom saber de tudo, amigo Mark, pois às vezes enganamos-nos com as pessoas que encontramos.
      Quem tem experiência, e eu tenho muita, sei do que falo.
      Abraço amigo.

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  12. Eu sou menina.... e gstaria de ir a um desses cinemas! tenho curiosidade.... mas sozinha... n tenho coragem!

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  13. Então e o que é que a "menina" lá queria ir fazer? Só ver? Ver o quê?

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  14. Gostei de saber, aqui no Rio de Janeiro (Brasil) estes cinemas também existem, mas também em outras capitais. No Rio, acredito que sejam ao todo 6 cinemas, sendo um com strip tease. Fora das cidades vizinhas. No verão, aparecem até estrangeiros. Muitos deixaram de existir porque foram comprados por igrejas evangélicas, sobretudo a Universal do Reino de Deus, o que descaracterizou a fachada dos antigos "poeiras" (como eram chamados os cinemas de rua).

    A maioria dos cinemas hoje estão em shoppings.

    O que eu não imaginava era que em Portugal também houvessem, sempre imaginamos os portugueses muito conservadores.

    Abraço do Brasil

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  15. Aqui como aí, as igrejas evangélicas a invadirem os antigos espaços cinematográficos e o confinar da exibição aos shoppings.
    Quanto aos cinemas porno, existem actualmente em Lisboa apenas um, mas nós não somos nada conservadores, apenas menos exuberantes...
    Abraço.

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  16. Nunca fui a um cinema pornográfico mas tenho essa curiosidade, o que posso lá encontrar? Que tipo de homens e de que idades costumam frequentar este tipo de sitios? Sou um jovem e tenho alguns receios...

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    1. Caro anónimo, segundo me parece apenas continua em funcionamento actualmente em Lisboa para esse efeito, o Cinebolso, na zona do Saldanha.
      Para uma resposta mais detalhada sobre o que me pedes, sugiro-te que me envies um mail e eu responderei com muito gosto. jcroque@zonmail.pt.
      Abraço.

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    2. recebeu o meu mail?

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    3. Sim, mas dizia apenas "recebeu o meu mail?"

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