terça-feira, 30 de julho de 2013

Cinemas de Lisboa - 2

Vamos imaginar um passeio por Lisboa, na zona conhecida como “das avenidas novas”, tendo como início a Av.de Roma, lá no cimo onde ela começa, até ao seu término, na Praça de Londres, com pequenos desvios, ali junto ao cruzamento da Av. dos EU, e também junto ao cruzamento onde está a estação Roma-Areeiro.
Da Praça de Londres, descemos a Av. Guerra Junqueiro e depois subimos um pouco e daí a nada estamos na Av. Duque de Ávila, voltando a seguir para a Av. Defensores de Chaves e finalmente atravessando a Av. da República finalizamos na Av.5 de Outubro.
Neste percurso que se faz bem a pé, encontramos nove cinemas desta Lisboa, dos quais só dois ainda exibem filmes…
Mas vamos lá ao percurso.
No início da Av. de Roma, do lado esquerdo aparecia o cinema Alvalade
que desde o seu encerramento há longos anos, escapou ao “martelo” e deu lugar a um edifício moderno de apartamentos de luxo – o Hollywood Residence
mas lá no rés do chão ainda se pode ver cinema no “Cine-City Alvalade”.
Fazendo o tal desvio perto da Av. dos EUA encontrávamos o primeiro cinema multiplex do país, o saudoso Quarteto
onde tantos e bons filmes passaram; de início estranhavam-se aquelas salas pequenas, duas para cima e duas para baixo, mas o facto é que a ideia de Pedro Bandeira Freire
teve um enorme êxito e curiosamente pouco lhe sobreviveu; PBF faleceu em 2008 e o cinema encerrou em 2009. O edifício ainda lá está, numa rua que agora nada tem e aquele anúncio à porta entristece tanta e tanta gente que por ali passou
Continuando pela Av. de Roma chegamos ao viaduto sobre a via férrea e ali à esquerda, logo a seguir ao Teatro Maria Matos, encontrávamos o cinema Vox
o único desta série que sobreviveu e exibe filmes, depois de transformado no King Triplex
com as suas três salas onde a Medeia filmes continua a exibir excelente cinema.
Depois, mesmo na Av. de Roma e também do lado esquerdo havia o cinema Roma
um cinema moderno, simples e que alternava muito bom cinema com algum outro mais comercial.
Hoje é o Fórum Lisboa
onde se vão realizando variadas actividades (durante vários anos ali se exibiu o festival LGBT de Lisboa) e onde funciona em permanência a Assembleia Municipal de Lisboa.
Pertinho, pertinho, mas agora do lado direito da mesma avenida, encontrávamos o cinema Londres
assim chamado devido à proximidade da Praça de Londres. Este cinema com as cadeiras mais confortáveis de todos os cinemas de Lisboa, encerrou há pouco mais de um ano, depois de lhe ter sido cortada a electricidade, por falta de pagamento das respectivas contas. Uma pena!
Finalmente deixamos aquela avenida e logo no início da Av. Guerra Junqueiro (que também não é grande), e imediatamente abaixo da célebre Mexicana, havia o Star
um cinema dos menos conhecidos de Lisboa.
Hoje quem ali passa, no seu lugar encontra uma das lojas da cadeia C&A.
Andamos um bom bocado entramos na Av. Duque de Ávila e quase em frente da antiga Carris havia um curioso e muito popular cinema – o Avis
com os filmes italianos de grande êxito junto do público, como por exemplo os de Gianni Morandi. O curioso é que antes do Avis, tinha havido ali desde 1930 um outro cinema, chamado Trianon e posteriormente  Palácio; o Avis só “apareceu” em 1956…e hoje se ali formos vemos uma normalíssima casa.
Se depois voltarmos para a Av.Defensores de Chaves e seguirmos até ao seu final, mesmo já perto do Campo Pequeno havia um curioso cinema chamado “Estúdio 444”
porque tinha esse número de lugares e era um cinema pequeno, tipo estúdio. Foi inaugurado com um documentário que fez furor, pelo seu conteúdo – “As escravas ainda existem”, que esteve vários meses em cartaz. Aliás mais tarde outro filme documentário teve também muito êxito ali – “Mundo Cão”. Foi um cinema onde se via muito bom cinema alternando com o muito mau. Curiosamente foi lá que se realizou, patrocinado pela Natália Correia (já não há mulheres assim) o primeiro ensaio de um festival de carácter gay e lésbico, com a projecção de meia dúzia de filmes. Hoje é um local abandonado.
Finalmente, depois de um pequeno percurso que atravessa a Av.da República, encontramos na Av. 5 de Outubro o cinema “Nimas”

O que me vem à memória quando falo neste cinema foi a polémica estreia do filme português “As horas de Maria”, boicotado pelas autoridades eclesiásticas e pela população católica…
Foi um cinema que exibiu muito bons filmes, nomeadamente cinema francês e que hoje está transformado no “Espaço Nimas”, uma ideia do filho do produtor Paulo Branco, e que é um polo de intervenção artística, com espectáculos ocasionais, excepcionais e por datas.

 Vi referências a um certo cinema Ávila, situado também na Av. Duque de Ávila, mas não consegui imagem alguma e confesso não me recordar de nenhum cinema com esse nome. Segundo informação adicional dada pelo João Máximo, o cinema existiu mesmo e pode ser visto aqui; mas continuo a não me recordar nada dele o que acho incrível. Se alguém souber da sua exacta localização ou de algum facto ou foto que adiante algo sobre o assunto, agradecia que me a fizesse chegar.
E parece que alguém leu este meu apelo e posso aqui publicar a foto do cinema Ávila, que ficava na referida avenida, em frente ao Hotel Reno; hoje o local é ocupado por uma loja não sei exactamente de quê. Devo um especial agradecimento à amabilidade de Mário Matos, que por mail me fez chegar esta foto, da autoria de Bonez007, no Flickr.


Fora do contexto, mas porque é referida várias vezes no texto, sabiam que a Av. de Roma é a maior do mundo? Começa no Brasil, atravessa os Estados Unidos e termina em Londres. Como diria Fernando Pessa, “e esta hein???”.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Cinemas de Lisboa - 1

Dou hoje início a uma série de postagens sobre os cinemas de Lisboa.
Vai ser uma série bastante completa e bem documentada por fotos, pelo que tem que ser segmentada.
Nesta primeira postagem vou apenas referir os cinemas de estreia que havia na “baixa” da capital, incluindo a Avenida da Liberdade e outros dois grandes cinemas de estreia: um no Saldanha, o Monumental e outro na Alameda, o Império.
Hoje poucas são as salas de cinema que continuam a estrear filmes, estando quase toda a programação na mão das grandes distribuidoras que exibem os seus filmes, por assim dizer quase na totalidade em complexos no interior de grandes superfícies comerciais.
Mas passemos aos cinemas de hoje e em pleno Chiado, ali mesmo ao lado da PIDE, existia e continua a existir o S.Luís, que foi outrora um grande palco para as maiores figuras do Teatro (basta ver as lápides do seu magnífico interior) e depois durante largos anos foi um dos cinemas com melhor programação de Lisboa.
Hoje é um Teatro Municipal, com uma programação variada de teatro, Música, Bailado e outros espectáculos e tem ainda no seu interior uma Companhia de Teatro residente, o Teatro Mário Viegas.
Nos Restauradores, impunha-se o cinema Éden, magnífico edifício da autoria do grande arquitecto Cassiano Branco, com um complicado sistema de entradas e saídas
e que é hoje um hotel.
Quase em frente, havia o Condes
agora transformado no famoso Hard Rock Café.
Logo a seguir, quem vai para a Rua das Portas de S.Antão, o Odéon, especializado em filme populares
e que hoje está transformado num lamentável edifício em ruínas.
E no seu seguimento, mesmo em frente ao Coliseu dos Recreios, está o Politeama, antes um cinema de estreia de filmes de série B, (mas já havia sido Teatro)
e hoje recuperado para as grandes produções musicais (e não só) de Filipe La Féria, no estilo da Broadway, made in Portugal.
A meio da Avenida, dois cinemas de grande nível, um em frente do outro: o S.Jorge, que exibia grandes filmes, da programação cuidada da Rank
e que é hoje propriedade camarária e que regista ao longo de todo o ano grande afluência de público devido aos muitos festivais de cinema ali realizados.
E o Tivoli, uma das mais belas salas de Lisboa, e uma das três que projectava filmes de 70 mm (as outras eram o Monumental e o Império), com uma programação cuidada
e hoje é uma sala com variados espectáculos, com destaque para o Teatro, nomeadamente para as companhias brasileiras que se deslocam até nós.
No Saldanha, uma sala que era uma referência, o Monumental (aliás eram duas, pois havia o cinema e o teatro, onde pontificava o empresário vasco Morgado e a grande Laura Alves). As grandes produções de Hollywood eram geralmente ali projectadas.
Hoje é um edifício moderno de escritórios, com um centro comercial, onde se exibem em várias salas, bom cinema.
Finalmente, na Alameda, outro “monstro” do cinema lisboeta – o Império, também com excelente programação e que foi das primeiras salas em Portugal a ter uma sala alternativa, o Estúdio, com uma programação muito especial e bastante elitista – quase toda a obra de Bergman ali foi exibida
Hoje foi comprado pela IURD, que tem dinheiro para isso e muito mais…

Nesses tempos os bilhetes eram mesmo “bilhetes"
havia programas que os arrumadores ofereciam a troco de uma gorjeta (os lugares eram marcados)
e os jornais traziam assim a programação
De realçar também os enormes painéis que os cinemas de estreia exibiam nas suas fachadas, alguns muito bem feitos.

terça-feira, 23 de julho de 2013

Viagens 11 - Madrid e Barcelona

Madrid e Barcelona rivalizam entre si a primazia da maior cidade espanhola.
São ambas lindas, grandes, plenas de interesse, mas também de acentuadas diferenças.
Uma, Madrid é a capital do país, bem central geograficamente, em plena Castela, sendo Barcelona, lá no Norte, a capital da Catalunha, uma das regiões autónomas que mais reivindica a independência, até porque é a região mais rica do país.
Madrid é mais monumental, Barcelona mais europeia.
Conheço as duas, que visitei variadas vezes, mas conheço melhor Madrid e talvez por isso a minha preferência vá para a capital.
As visitas a Barcelona resumem-se a três, sendo a primeira a mais interessante, já que a visitei a convite de um amigo, Xavier, que conheci quando passei um mês em Bradford (Inglaterra), na mesma casa em que ele estava, tornando-nos bons amigos e depois fui visitá-lo, tendo ficado em sua casa, em Sabadell, nos arredores de Barcelona.
Mostrou-me tudo o que havia para mostrar, o que se mostra a toda a gente e o que pouco se mostra. Fiquei a conhecer bem a cidade e o povo catalão, até porque a mãe do Xavier, encantadora, nem castelhano falava, só catalão, mas conseguíamos entender-nos.
Visitámos o Bairro Gótico
a Sagrada Família
 a zona do Porto
as obras de Gaudi
as Ramblas

e tudo o mais…
Naquela altura, ainda não me tinha assumido totalmente como gay, pelo que nada fiquei a saber sobre esse aspecto, de Barcelona; e embora nunca tivéssemos abordado o assunto, não tenho hoje qualquer dúvida que o Xavier era, como eu, gay.
Mais tarde, na tal viagem grande, de comboio para Atenas, parei dois dias ali e revisitei alguns locais mais interessantes.
Finalmente visitei de novo a cidade, com o Duarte, após as Olimpíadas e era uma cidade “nova”. Também foi nessa altura que conheci alguma vida gay e frequentei uma conhecida praia gay, nos subúrbios da cidade.

Já Madrid, perdi a conta às vezes que ali estive, só, acompanhado e acompanhado por variadas pessoas.
Conheço muito bem toda a cidade, e durante muitos anos, fiquei sempre hospedado num hostal, logo no início da Calle Carretas, junto à Puerta del Sol e por cima do já defunto Cine Carretas, uma “relíquia” da vida gay madrilena, que punha o nosso “Olímpia” a um canto; nunca vi tanto sexo junto ao mesmo tempo, nos acentos, nas coxias, nos lavabos, eu sei lá…
Aliás a vida gay de Madrid é imensa, quase roda centrada no famoso bairro da Chueca, ali ao lado da Gran Via.
São bares, discotecas, restaurantes, lojas de moda, saunas, cafés, hostales, é toda uma zona em que prevalece a vida gay.
Aí fui pela primeira vez a um quarto escuro e numa bela noite de passagem de ano, como sempre passada na Purta del Sol, com o Duarte, depois fomos para os bares e discotecas e já com uns copitos, ao regressarmos ao hostal pelas cinco da matina, fomos comer uns churros e nesse local estava uma moça portuguesa, com quem conversámos e sem qualquer problema, e pela primeira vez, admitimos em público que éramos gays e tínhamos passado uma noite estupenda.
Também já assisti a duas paradas do orgulho gay em Madrid e nunca vi uma coisa assim: as ruas pejadas de mais de um milhão de pessoas
à noite na Chueca não se podia dar um passo, indiscritível…
E também ali, em Madrid conheci o primeiro bar de “bears”, que ainda existe, o “Hot”
e a discoteca com o maior quarto escuro do mundo (é 4 ou 5 vezes maior que o restante espaço) – é o “Strong”

Mas Madrid não é só vida gay, claro.
Tem praças lindas, Plaza Mayor
Cibelles
tem uma avenida fabulosa, o Paseo de la Castellana
 tem um parque maravilhoso no centro da cidade, o Retiro
tem museus dos melhores do mundo ,o Prado
ou o Reina Sofia
tem a Gran Via
tem os bairros típicos (Lavapiés, 2 de Mayo e outros), tem o Rastro (a feira da Ladra lá do sítio), tem monumentos magníficos
ruas comerciais apinhadas de gente, a toda a hora e tem um povo magnífico!!!
Madrid é uma festa.

A última vez que lá estive foi na passagem do ano 2010/2011, com o Déjan; foram só três dias , mas foi maravilhosos e claro com a meia-noite de 31 de Dezembro na Puerta del Sol.

De outras visitas a Madrid, tive a oportunidade de visitar Toledo
magnífica cidade banhada pelo Tejo, o Escorial
que é o grandioso mosteiro que funciona como panteão real, e o sinistro Valle de los Caídos
a homenagem ao fascismo franquista e onde está sepultado o ditador.