domingo, 30 de junho de 2013

Guilherme de Melo

Morreu Guilherme de Melo.
Mais que um escritor de grande mérito – li por assim dizer toda a sua obra – foi um ser humano excepcional, sempre amigo do seu amigo e amigo de quem precisava. Foi a primeira pessoa a dar a cara como homossexual, aqui em Portugal, sem medo, como sem medo desafiou uma Lourenço Marques muito tradicional, onde era um jornalista de grande prestígio, ao assumir de uma forma quase mesmo provocatória, a sua orientação sexual, como relata admiravelmente no seu melhor livro “ A Sombra dos Dias”.
Aparecia com o seu namorado de então, um bombeiro, em debates televisivos quando não era fácil (ainda hoje não é), aparecer publicamente a defender os direitos dos que não escolheram uma vida sexual diferente da maioria das outras pessoas e sempre o fez com veemência sim, mas de uma forma contida, educada e aprazível.
A sua carreira jornalística no “Notícias de Lourenço Marques”, enquanto viveu em Moçambique e depois aqui em Lisboa no “Diário de Notícias” foi um exemplo para tantos que agora dão uma péssima imagem do que é ser jornalista.
Até sempre, Amigo!

32 comentários:

  1. Não conheci nem nunca li nada seu, infelizmente!
    Pela descrição que dele fazes, seria um bom profissional e um homem corajoso e de carácter.
    Que descanse em paz.

    João, quando puderes volta lá ao meu blog e se for do teu agrado, gostaria muito de lá ter a tua colaboração.

    Beijinho.

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    1. Janita
      eu tinha comentado o teu último post e confesso não me ter apercebido do teu desafio. Será que o puseste "a posteriori"?
      Como disse no referido comentário, só haverá uma declaração mais bela que aquela e será uma desdobrada em milhões: são aquelas que cada um de nós declaramos às pessoas que amamos. Mas são declarações, no meu entender, muito pessoais, muito intimas que, tirando casos de excepção não terão cabimento num espaço público.
      Daí, eu aqui no blog não fazer grande alarde de declarações públicas de amor ao Déjan. Amo-o como toda a gente sabe e demonstro-o das mais variadas formas, mas quase sempre sem o formalismo de uma declaração de amor.
      Uma palavra para o teu mal: também eu sou um doente cardíaco, e nunca deixo de ter comigo os tais comprimidos para numa emergência pôr debaixo da língua. Já o fiz uma ou duas vezes, mas o mal está muito controlado e ainda esta semana fui fazer mais exames ao coração com resultados bons para quem tem uma angina de peito. Já fiz um cataterismo e a lesão está limitada, não podendo claro expôr-me a certos excessos, como por exemplo frequentar ginásios com esforços que em vez de beneficiar me prejudicariam...
      E uma palavra final sobre Guilherme de Melo.
      Vale a pena dares uma volta na net para te informares um pouco de quem foi este homem admirável.
      Beijinho e as tuas melhoras.

      Falei da tua Serpa no post anterior, com uma foto até, do sítio onde morei - o Largo do Corro. Ede pessoas que talvez tivesses conhecido lá...

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  2. Não conhecia, nem à sua obra, mas deve ter sido um homem extraordinário.
    Abraço

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    1. Sad
      se puderes, e aconselho-te vivamente a fazê-lo, lê o livro de que falo. É claro, autobiográfico e aí podemos ter uma ideia do percurso pessoal e profissional de GM, em Moçambique, até 1974.
      Absolutamente fascinante e para mim um dos melhores livros que li, escritos em português. Li-o há muitos anos e reli-o há pouco tempo com prazer renovado.
      Abraço amigo.

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  3. Homens que souberam ser homens e que viveram conforme acreditaram.
    Pessoas diferentes mas com muitos valores que deviam ser cultivados por todos - respeito.
    Que a morte lhe aconchegue os sonhos de paz e de felicidade.
    Um grande abraço Joâo.
    Cuida-te para que a vida te sorria.

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    1. Completamente de acordo, Luís.
      Guilherme de Melo, sem nunca deixar de mostrar uma faceta absolutamente masculina, era de uma simpatia de comunicação que ninguém , mesmo quem era homofóbico, deixava de o admirar por ser um verdadeiro Homem, e de uma coerência a toda a prova.
      Tenho toda a sua obra e é escusado dizer que o admirava e respeitava muitíssimo.
      Aconselho a ler o post que o Eduardo Pitta fez sobre ele, ontem, pois conhecia-o pessoalmente e muito bem, e relata factos que mostram o seu fabuloso carácter.
      http://daliteratura.blogspot.pt/2013/06/guilherme-de-melo-1931-2013.html
      Abraço amigo.

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  4. Não sabia da sua morte. E também acho que foi necessário ter muita coragem para se assumir homossexual naquela época.
    RIP

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    1. Mz
      também não sabia que ele estava doente.
      Aliás, nos últimos tempos, ele esteve sempre muito recatado, excepção feita quando deu uma entrevista ao jornal "Y", após o seu grande amigo Carlos Castro ter sido assassinado.
      Curiosamente e embora muito amigos, ele e Carlos Castro eram muito diferentes um do outro, pelo menos na sua postura.
      Beijinho.

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  5. Viveu respeitando quem era. Uma grande perda

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    1. Absolutamente, Speedy.
      Ele sempre respeitou e acima de tudo fez-se respeitar.
      O que na altura não seria fácil.
      Abraço amigo.

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  6. Eu desconhecia quase por completo.
    Existe algum video no youtube dessas intervenções televisivas?
    Fiquei com curiosidade.

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    1. Alex
      fiz uma busca detalhada e nada encontrei.
      Num artigo do "Dezanove" (http://dezanove.blogs.sapo.pt/521590.html), encontra-se a referência ao célebre programa sobre homossexualidade, realizado em 1982, em que ele apareceu surpreendentemente acompanhado por Ilídio, o bombeiro, seu companheiro de então e com quem viveu durante muitos anos, e teve uma postura tão digna, perante pessoas que se posicionavam em campos opostos na questão da homossexualidade, que ficou célebre esse debate, que felizmente vi e recordo bem.
      É curioso que tenho a ideia que mesmo os que sempre condenaram a homossexualidade, nesse tempo o faziam com imenso respeito, pelo menos em relação a ele. Recordo que Teresa Costa Macedo que tinha um cargo qualquer na altura estava a anos luz, por exemplo dessa execrável mulher que é Isilda Pegado.
      Talvez fosse a naturalidade e a forte personalidade e inteligência de Guilherme de Melo que tivessem levado a isso.
      Não tenho a certeza mas parece-me que chegou a ir am programa do Herman, mas foi, na televisão, durante muito tempo o único que dava a cara quando se debatia a homossexualidade.
      Abraço amigo.

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  7. Uma grande perda. Devo dizer que fiquei perplexo ao ler esta notícia. Assumiu veementemente a sua homossexualidade num período extremamente complicado, lutando pelos seus e pelos direitos dos outros. A par disso, ainda era moçambicano. :(

    Paz à sua alma!

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    1. Mark
      embora já com uma provecta idade, foi sem dúvida uma perda grande.
      A forma como desassombradamente entrou no mais célebre café de Lourenço Marques, acompanhado do seu amante, desafiando toda a sociedade laurentina de então, que o conhecia bem, pois era subdirector do "Notícias" e um homem muito considerado, para mostrar ostensivamente a sua homossexualidade, ficou célebre eestá muito bem documentada neste livro "A Sombra dod Dias".
      e há pormenores da sua vida, nomeadamente como jornalista que mostram o homem de coragem que era, nomeadamente ao escrever sobre a guerra colonial, a tomar posições contra a censura, chegando mesmo a ser detido pela PIDE.
      Teve uma vida muito "rica" de conteúdo pessoal, social e profissional, pelo qual sempre foi admirado e considerado.
      Pouco tempo depois de ter chegado a Portugal foram-lhe oferecidas várias hipóteses de tabalho, nomeadamente por Almeida Santos, com quem ele conviveu em Moçambique, mas foi o jornalismo que o seuziu, como sempre e esteve até se reformar, no DN.
      Curioso que conheceu Samora Machel, quando este ainda era um simples enfermeiro e veio mais tarde a ser seu amigo pessoal.
      Abraço amigo.

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  8. Um homem muito ousado para a sua época, mas que sempre lutou pelos seus valores

    Uma perda grande

    Abraço amigo

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    1. Francisco
      não tenho a certeza se a palavra "ousado" é a mais correcta para caracterizar GM.
      Ele foi sempre, muito simplesmente, sempre igual a si mesmo.
      A partir do momento em que se aceitou como homossexual fez da sua vida um acto de pura coerência, mas de uma forma simples, sem nunca se pôr nos bicos dos pés...
      Abraço amigo.

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  9. João, escreveste o texto que eu gostaria de ter escrito de homenagem ao GdM e à sua memória.

    Comoveu-me ver várias referências a si e à sua obra, quer no facebook quer em blogs, uns pela via da origam moçambicana, outros pela forma desassombrada como assumiu a homossexualidade quando isso em Portugal era quase impossível. Mas todas elas salientando a coragem e o carácter.

    abraço

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    1. Miguel
      recordei ao escrever esta curta homenagem a um Homem que sempre admirei, a conversa que tive contigo, quando releste "A Sombra dos Dias" e tiveste aquela conversa com a Senhora tua Mãe; recordas-te?
      Abraço amigo.

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  10. conhecia-o da imprensa nos últimos anos, nomeadamente no triste caso do Carlos Castro, como o 19 bem refere. lembro-me que foi graças a ti no ano passado, ou há dois anos, nem isso, bem, quando comecei a seguir-te mais amiúde, que lançaste um desafio sobre literatura gay. confesso que nunca tinha lido muita coisa até tal momento, exceptuando Wilde, Yourcenair - são tantos os interesses - que fui à biblioteca daqui e li muitos livros do GM, alguns dos quais referi no meu blogue. O último que li, como sabes, foi 'A Sombra dos Dias', o teu livro.
    não sabia que estava doente, nunca mais tinha ouvido nada dele, a não ser que se tinha reformado há uns anos.
    p... para essa doença, já é a segunda pessoa que me morre assim, com a diferença de poucas semanas, não conhecia GM pessoalmente, claro, mas pelos seus livros, pelos vossos textos, comecei a apreciá-lo, a admirá-lo pela sua postura e fiquei muito triste com esta notícia.
    bjs.

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    1. Margarida
      curiosamente, Guilherme de Melo era uma pessoa completamente diferente do Carlos Castro, mas eram amigos, tiveram algum percurso comum,como oriundos de antigas colónias, um de Moçambique, outro de Angola, ambos abraçaram o jornalismo (embora com posturas totalmente diferentes), ambos escreveram livros e acima de tudo ambos tiveram muitos amigos comuns.
      Carlos Castro desapareceu da forma trágica que todos conhecemos, mas isso não invalida dizer que não era uma pessoatotalmente simpática.
      Mas Guilherme de Melo era acima de tudo amigo do seu amigo e por isso nunca lhe apontou um dedo, embora imagine que em conversas particulares muitas vezes o tenha criticado.
      A minha admiração por GM, como bem referes era imensa e até originou um interessante debate entre nós, tu, eu e o Miguel, quando da tua critica à "Sombra dos Dias".
      Beijinho.

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  11. Bom ler este teu relato.
    A minha aprendizagem: as suas obras literárias que desconhecia.
    Quanto às palavras, utilizaste-as com a mesma leveza com que ele sempre se deu a conhecer na tv.
    Abraço.

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    1. Paulo
      tal como eu foste um felizardo de ter assistido a algumas dessas suas idas à TV e por isso o teu testemunho é omportante.
      Abraço amigo.

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  12. Não conhecia, mas parece ser um bom escritor. Por aqui perdemos um grande escritor também, um historiador.

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    1. Frederico
      um muito bom escritor que no livro que aqui mostro conta toda a sua vida em Moçambique, incluindo a sua saída do armário.
      Abraço amigo.

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  13. Deste-me uma notícia triste, João. Não sabia...
    Um abraço

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  14. Um homem corajoso e que ajudou a mudar as mentalidades numa altura em que era tudo muito mais difícil. Lembro-me perfeitamente das entrevistas com o namorado bombeiro. Infelizmente conheço mal a obra dele, mas nunca é tarde. Que descanse em paz.

    Abraço amigo.

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    1. Arrakis
      é realmente uma boa altura para o fazer e começa com o "A Sombra dos Dias".
      Abraço amigo.

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  15. Era homens destes que precisavamos na política, corajosos. Beijinhos

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    1. Mary
      pois era, tens toda a razão, mas estamos entregues não a políticos, mas sim a loucos.
      Numa coisa concordo com o Medina Carreira que acabei de ouvir há pouco: isto é um manicómio!
      Beijinho.

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  16. Conhecia o Guilherme Melo como jornalista, bem como a sua homossexulidade assumida com frontalidade. Curiosamente, nunca li nenhum dos seus livros. No próximo fim de semana vou dar um pulo à FNAC e adquirir a "Sombra dos Dias", se houver. Que melhor homenagem posso prestar a esse Homem do que ler a sua obra?

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    1. Lear
      não há, não!
      Está super esgotado; eu poderei emprestar-te o livro se me disseres como fazer...
      Abraço amigo.

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