sexta-feira, 31 de maio de 2013

Viagens 9 - Espanha aqui tão perto (região Centro)

Nesta segunda incursão das minhas viagens a terras espanholas, não longe das fronteiras portuguesas, privilegio os tempos em que vivi na Covilhã e a facilidade com que habitualmente dávamos uma “saltada” a Espanha.
Neste mapa se pode ver quão perto distam da Covilhã, as cidades de Salamanca e de Cáceres. 

 Afinal, Salamanca é uma grande cidade, se a comparamos com a minha cidade e muito mais acessível, pelo menos nesses tempos, do que Lisboa ou o Porto; e sempre era ir a um outro país. Da Covilhã a Salamanca, distam cerca de 200 Kms, de uma boa estrada, então e por isso era frequente, quer familiarmente, quer mais tarde sozinho ou com amigos deslocar-me ali. Salamanca é uma linda cidade, universitária com todo o bulício que isso implica, com uma Catedral imponente que se recorta de qualquer ângulo pelo qual se espreite a cidade. Merece uma demorada visita.
Mas o centro atractivo desta cidade castelhana reside na sua Plaza Mayor, considerada como a mais bela de toda a Espanha, suplantando mesmo a de Madrid; é enorme e com todos os pormenores que necessita para ser considerada como tal: monumentalidade, dezenas de esplanadas ao longo das suas arcadas e espaço, muito espaço.
Uma ida a Salamanca a passar um fim de semana era sinal de um tempo óptimo para comprar algumas coisa, visitar outras e também viver aquelas típicas situações de comer umas tapas antes de um jantar tardio e de muita diversão nocturna, naquelas ruas estreitinhas que partem da Plaza Mayor e estão repletas de bares e “bodegas”.

Mas, e quase a meio caminho entre a Covilhã e Salamanca está uma pequena cidade que merece uma paragem; trata-se de Ciudad Rodrigo
uma cidade murada, pequena mas excepcionalmente atractiva com alguns monumentos que justificam umas horas de visita, nomeadamente todo o centro histórico, com destaque para a Catedral.
Fica apenas a 25 kms da fronteira portuguesa.

Já o terceiro destino, deste roteiro fica mais a Sul, já na Estremadura espanhola: é a cidade de Cáceres, para a qual se pode ir pelo mesmo caminho até Ciudad Rodrigo e aí divergir para Sul, ou então entrando em Espanha pela fonteira perto de Penamacor.
Cáceres é o maior município espanhol em extensão e a sua Ciudad Vieja é Património da Humanidade por ser um dos mais importantes conjuntos urbanos da Idade Média e do Renascimento de todo o mundo.
É uma cidade austera e talvez por isso me impressionou muito ter ali assistido às cerimónias religiosas de uma Sexta Feira Santa que ganharam no meio daquela monumentalidade muito própria, um espirito especial. Curioso que tendo já assistido a festividades semelhantes na Andaluzia (Sevilha e Cáceres), me ficaram mais na memória, estas, de Cáceres.

Não falo nestes relatos, de Badajoz, não só porque já dista um pouco da Covilhã. Mas também por ser tão raiana que é quase meio portuguesa e confesso, não é uma cidade que me entusiasme – prefiro Elvas!

segunda-feira, 27 de maio de 2013

O Jantar

Como estava programado realizou-se no passado sábado, dia 25, o sexto jantar de blogs por mim organizado e desta vez com a ajuda da Margarida, tendo o Paulo S. Mendes contribuído com o “banner” do mesmo.
Como sempre, deu-me muito trabalho, a começar na escolha da data, a qual se pretende seja a mais consensual possível, mas nunca poderá ser a ideal.
Tenho muitos contactos na blogo, quer daqueles que estão no activo, quer de muitos que já não estão, mas que continuam a privilegiar estes eventos e até simples comentadores.
A todos contacto e sei que se por pura utopia todos pudessem estar presentes teríamos que repensar o jantar, pelo menos quanto ao espaço.
No entanto esses contactos trazem inúmeras e a maior parte das vezes, compreensíveis respostas negativas e por diversos motivos: terem que se deslocar, casos de trabalho, e alguns casos de menor assiduidade no contacto virtual, que levam a uma quase normal recusa.
Mas também há recusas que me custam aceitar e que são em primeiro lugar aquelas que provêm de um total alheamento do contacto, sem se dignarem a um simples “não”.
Depois há os que alegam motivos perfeitamente identificados com desculpas esfarrapadas, quando seria muito mais bonito dizer que não vão porque não querem.
Há ainda e são vários os casos em que há o medo de se mostrarem publicamente, e aqui se associa a maior parte das vezes um medo de se assumirem como homossexuais que são, com a ideia errada de que o simples facto de estarem presentes os identifica como tal…
Enfim, muitas justificações para uma não presença que considero normal dentro do contexto deste tipo de reuniões.
Depois há os que aderem de imediato, e se eu aceito que até à data do evento algo possa acontecer que impeça a sua presença, aceito ainda melhor quem me diga que sim, estarão presentes em princípio, mas isso dependerá de circunstâncias que só mais na hora poderão confirmar; claro que não os incluo na lista dos participantes e aguardo a semana do jantar para definir a sua situação.
E também aqui há por vezes alguma precipitação pois não é uma eventual tarefa ou compromisso que os impedirá de estar presentes, mas sim um futuro estado de espírito.
Concluindo, não é fácil determinar com exactidão o número de participantes e as últimas horas são mesmo stressantes, principalmente depois de ter comunicado ao restaurante o número de presenças.
Este ano tive especial cuidado com o cálculo desse número, tendo-o fixado em 40.
Estivemos 37; uma presença agradavelmente não esperada e quatro ausências, duas delas justificadas pela presença dos companheiros que quiseram mesmo assim estar presentes e duas não justificadas, sem dar cavaco (salvo seja…)
Mas os 37 foram um belo grupo e mais que suficiente para uma noite muito bem passada e que justificou em absoluto o trabalho que tive.
Quero, como é óbvio agradecer em primeiro lugar a todos os que estiveram presentes, mais ainda aos que vieram de fora: Cadaval, Coimbra, Évora, Vila do Conde, Vila Nova de Gaia, Porto, Braga e Galiza!
O jantar decorreu normalmente com as pessoas a conhecerem-se mutuamente ou a recordar encontros anteriores e mais uma vez a norma funcionou: aqueles que vieram pela primeira vez e foram bastantes, gostaram verdadeiramente e ficaram com vontade de mais convívios deste tipo.
Claro que neste tipo de eventos é necessário usar de algumas formas que levem a um clima de convivência bom; o primeiro é termos mais uma vez optado por um jantar volante, que pode não ser o ideal, mas leva a que não se fique limitado a conhecer apenas os 3/4 companheiros de mesa.
Outro e importante é apresentar sempre alguma coisa extra-jantar, que una por alguns minutos todos os convivas.
Este ano esse momento foi dividido em três partes: primeiro, o Luís e o João apresentaram o seu projecto, que tão bons resultados está a obter e que nunca é demais enaltecer – o Index ebooks –
 e depois fizeram informalmente uma apresentação da série “Dois Mundos”, do Pedro Xavier, da qual já estão editados os dois primeiros livros, como referi no meu anterior post.
Depois foi apresentado o André, e mostrado o seu magnífico trabalho de design de automóveis e motos, o qual já foi premiado com vários prémios mundiais.
E finalmente, e tendo como base as iniciativas do Sad eyes, foram lidos alguns contos dos concursos por ele promovidos, com natural destaque para os Pixel – LGBT e também outros dois textos de pessoas presentes.
Este momento, permitiu um ainda maior convívio, principalmente de quem ainda estava com alguma timidez. Já passava das duas de manhã, quando os últimos “resistentes” partiram, até porque o restaurante tinha que fechar.
Não poderia terminar sem uma palavra de agradecimento para a equipa do Restaurante Guilho
que nos presenteou com a melhor ementa de todas as quatro vezes que já ali festejamos; excelente a confecção, muito boa a organização, inexcedível a simpatia.
Se algum problema não existirá num próximo jantar de blogs, esse será a escolha do local, pois já está naturalmente escolhido – o mesmo.
Resta apresentar aqui a lista dos participantes, com a indicação dos links dos blogs ainda activos.
Estiveram presentes o Zé Varandas, Zé Grilo, Carlos Martins, Sérgio (Lampejo), Paulo Medeiros e Nuno (Engine), já com blogs desactivados e os seguintes blogs activos: Sad eyes, João, André Luder, Francisco Eustáquio, Francisco Mendes, Miguel/Vilna/Queta, Ophiucus, Nuno, Pedro Xavier, Marco, Paulo e Zé, Mark, Ribatejano, Miguel Nada, João e Luís, Margarida, Ima e eu mesmo.
Também a presença de um antigo comentador e presença habitual nestes jantares, o Rui Carriço e de dois convidados meus – o Duarte, naturalmente, e o Zé Sapinho. De referir o facto de alguns dos participantes terem levado os seus acompanhantes, um dos quais me parece ter ficado entusiasmado com esta atmosfera e irá iniciar em breve um blog; assim o espero.
Um enorme obrigado a tod@s!

sábado, 25 de maio de 2013

Dois Mundos, uma série de Pedro Xavier


Estes são os dois títulos já publicados desta série, de um jovem autor, de 22 anos, que agora se lança no mundo da escrita, e cuja edição, quer em e-book, quer em livro se fica a dever à iniciativa louvável da INDEX ebooks.
Infelizmente só ontem à tarde recebi a encomenda que tinha feito à Amazon do primeiro volume, pelo que não o tendo ainda lido, não o vou comentar.
O segundo já está também encomendado.
Pedro Xavier, aliás como o João e o Luis, da Index, vão estar hoje presentes no jantar dos blogs onde vai ser feita uma informal apresentação destes livros, entre outras iniciativas, literárias e não só.
Dá-se o caso de que o Pedro também é excelente a fazer vídeos, que já são vários, e fez um para apresentação desta série que deveria também fazer parte desta "apresentação informal"; mas não consegui arranjar nenhum projector para que o vídeo pudesse ser projectado e a televisão do restaurante não permite a reprodução de vídeos por meio de uma pen ou de um DVD.
Fica aqui um apelo aquem vai ao jantar, se acaso possuir algo que dê para projectar o vídeo na parede do restaurante, que o leve.
E que alguém leve um "portátil" levezinho para se poder ver lá, pelo menos.
Eu levo o meu, mas é muito grande...
Na impossibilidade total de isso acontecer aqui fica o vídeo em questão, que o Pedro Xavier hoje colocou nas redes sociais

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Um vídeo e um livro

Estava-me a preparar para deixar aqui uma postagem sobre um daqueles livrinhos da sempre interessante colecção “& etc”, que acabei de ler, da autoria de José António Almeida, do qual já tinha lido da mesma colecção outro livro, só de poesia – “Obsessão”, quando vi  aqui, um vídeo que me assustou e repugnou, com uma entrevista a uma tal Drª. Madalena Fontoura, presumo que seja psicóloga e que não resisto em trazer aqui e para o qual peço a vossa especial atenção, já que entre outras preciosidades, esta doutora afirma que é normal as crianças terem pequenos desvios quando são pequenas e ficam com a ideia de que são homossexuais, e depois muito mal influenciadas por adultos pérfidos acabam por entrar nesse mundo, de onde saem fragilizados e que têm dificuldade em sair dele…mas conseguem, claro, com a ajuda de pessoas esclarecidas como ela.

 Em comparação, José António Almeida, apresenta-nos neste seu livro, de nome “O Casamento sempre foi gay e nunca triste”,
uma primeira parte com alguns pequenos textos em que procura explicar a problemática de ser ao mesmo tempo homossexual e católico, nos tempos de uma Igreja conservadora e retrógrada, aliás na linha das três grandes religiões monoteístas – cristianismo, judaísmo e islamismo.
Escolhi um texto que me parece muito correcto e que a drª. Madalena Fontoura deveria ler para tentar perceber porque é que ela é tão ignorante.

 “Um homossexual tem de abrir dentro e fora de si um espaço para poder ser. Esse espaço interior de construção de si mesmo e essa projecção de um mundo de possibilidade fora de si exigem-lhe recursos extraordinários. Enquanto os heterossexuais encontram um mundo pronto-a-vestir, os homossexuais têm de construir a estrada para poder circular, essa via que lhes permita avançar na direcção do futuro. Esta ausência de perspectivação do futuro creio que é o maior problema com que se deparam os adolescentes que se descobrem com uma orientação sexual diversa da maioritária. E como podem falar livremente de homossexualidade num mundo social, familiar e religioso onde a homossexualidade era ainda em tempos muito recentes um tabu ou um assunto marcado com o ferrete da ignomínia? E, sobretudo, como falar disso no meio de desertos de intensa solidão afectiva? Como viver de escassa meia dúzia de carícias e de beijos trocados em noites que, para o mundo dos outros, nunca existiriam?”

 Note-se que José António Almeida é um poeta e o resto deste pequeno livro é preenchido com alguns poemas, que e na minha opinião, estão num patamar inferior às reflexões que deixa anteriormente nos textos que escreve.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

O jantar de sábado

E cá estamos, na semana do nosso jantar.
É já no próximo sábado e não vou a acrescentar nada ao que já foi dito aqui.
Apenas peço a quem atempadamente se inscreveu, me confirmem, aqui ou por mail, a mim ou à Margarida a sua presença; e principalmente àquel@s que deixaram para mais tarde a sua resposta (são agora muito poucos), que digam rapidamente a sua decisão, pois como compreenderão, devemos comunicar com dois a três dias de antecedência ao restaurante o número de pessoas, para que possam confeccionar as quantidades suficientes de comida.
Estamos até agora confirmados 40 pessoas, e penso que essas confirmações estão na sua grande maioria asseguradas, mas entra-se agora no período crítico e quando o meu telemóvel dá sinal de um número de alguém inscrito, fico sempre receoso.
Aconteceu no sábado, com a desistência, mais que justificada de duas pessoas e que o fizeram atempadamente; éramos na altura 41 , ficámos 39, mas entretanto houve mais uma confirmação e estamos num número muito agradável de presenças.
Também já houve, mas isso é normal, algumas desculpas esfarrapadas, quando é tão bonito dizer que afinal não vão porque perderam a vontade, ou porque se precipitaram quando disseram que iam, em vez de atabalhoadamente inventarem desculpas que são tão ridículas que nem existem…
Apenas sei que vai ser de certeza uma noite agradável com gente muito interessante e com algumas surpresas.
Qualquer esclarecimento deve ser pedido aqui ou aqui. E agora, preparem a disposição, esqueçam crises e o Benfica e vamos partilhar a blogosfera.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Dia Mundial contra a homofobia

Hoje comemora-se o Dia Mundial contra a homofobia. Apesar de discordar da vulgarização destes “dias mundiais”, a propósito de tudo e de nada, a maior parte das vezes com fins meramente consumistas, há excepções e esta é uma delas.
A homofobia é um preconceito contra os homossexuais que existe por este mundo fora, está generalizado e é essencialmente baseado num desconhecimento total do que é ser-se homossexual. Ainda hoje se acredita que quem é homossexual, o é por opção própria, e se condena quem tem essa orientação sexual como se isso fosse uma doença, como antigamente era considerada.
Todo o ser humano tem o direito de amar quem muito bem entender e se no chamado mundo desenvolvido, quer a nível dos Estados, quer a nível das Organizações, se têm dado importantes passos para a igualdade, ainda há muitos países em que tal não é consentido e até é punido.
Mas uma coisa são as leis e outra é o comportamento dos cidadãos comuns e é neste campo que é necessário lutar, mostrando que um homossexual é um ser normal, com os mesmos deveres e direitos que qualquer  outro, apenas tem uma orientação sexual diferente e que não escolheu.
Eu sempre procurei com a minha forma habitual de encarar a vida, e nunca recusando a minha condição de homossexual, ser um exemplo de que se pode ter uma vida normal, sendo homossexual: quer na família, na sociedade, nos que me são queridos, sou o que realmente sou e tenho orgulho de ser apontado não como um indivíduo nocivo socialmente, mas sim com o respeito que um comportamento cívico correcto merece.
Porque há muito a fazer neste campo, mostro aqui uma muito original animação em vídeo sobre este assunto, que foca a vida de um rapaz que tem como toda a gente os seus sonhos, os seus gostos e que é confrontado com a realidade de ser diferente, e aparecem os medos e aparecem as críticas, mas a vida de cada um é muito mais importante, a felicidade intima de não ceder ao medo e à mentira só para se estar de bem com a sociedade prevalece.
É um excelente vídeo para reflectir.


segunda-feira, 13 de maio de 2013

Pixel Happy Xmas

Por sugestão do Sad Eyes, que em boa hora tem promovido estes concursos de contos, ficou combinado que todos os participantes dedicassem uma postagem nos seus blogs hoje e à mesma hora, para assinalar o lançamento da edição em e-book do livro Pixel 3 e que esteve a cargo, como do anterior volume, da Index, da qual aqui deixo o link da página respeitante aos Pixel, e na qual estão indicados todos os links onde se pode obter este livro.
Como fiz quando do lnaçamento do Pixel 1 e 2, vou encomendar o livro "físico" à Amazon.
Não posso deixar de referir uma vez mais e com um grande abraço, quer o Sad Eyes, pela sua iniciativa, quer o João Máximo e o Luís, da Index, pelo empenhamento na edição da obra, e naturalmente a todos os participantes que foram muitoe e bons,
Como é impossível referi-los a todos, aqui deixo a história muito justamente vencedora da autoria do Silvestre,

ZACARIAS


Zacarias cresceu sem sorte. A sua vida era um túnel de vento ártico, todos os dias. Pequeno e mirrado sempre lhe disseram que nunca iria a lado nenhum e não foi. Ficou ali mesmo. Nunca saiu da casa onde nasceu, a mesma onde o olhar de resignação dos pais por aquele filho murcho continuava a escorrer por todas as paredes, penetrando-lhe o esqueleto enfezado como humidade cortante. Trabalhava no Zoo como tratador de felinos, por favor do Diretor ao pai e à mãe do Zacarias que ali tinham trabalhado em vida. De tão magro e feio nem os leões o quereriam comer e se quisessem, o mundo não perderia grande coisa. Mandava a lei que andasse sempre com dardos tranquilizantes nas calças, apesar do Diretor do Zoo preferir que fosse comido para poupar o dinheiro dos dardos. A vida arrastava-lhe o corpo numa sobrevivência dormente. Sentado no sofá à espera de ter sono, Zacarias viu cair um papel pela chaminé, «Feliz Natal» dizia. Tinha-se esquecido que hoje era dia 24 de Dezembro. Ouviu a campainha. «O Pai Natal» pensou desinteressado enquanto abria a porta. Algo o projetou contra a parede da sala, depois o chão. Em 10 segundos estava de novo no ar pendurado pelo pescoço «onde está o dinheiro cabrão? Fala ou morres agora!». A mão hercúlea esmagava-lhe a traqueia, «não tenho» disse com dificuldade. A mão gémea daquela vasculhava-lhe as calças. Zacarias não conseguia respirar, ia morrer. Caiu no chão… não ia morrer. O ladrão estava de joelhos, tonto… tombou. «Os dardos» pensou, «picou-se». Zacarias olhou para o corpo enorme no chão. Sentou-se em cima dele. Atou-lhe as mãos enormes atrás das costas e sentiu algo que nunca tinha sentido, uma ereção. Nunca tinha pensado em homens, sequer em sexo. Pensava-se assexuado, será que não era? Estava disposto a descobrir. Puxou as calças do ladrão para baixo, subiu-lhe a camisola até ao pescoço. O corpo dele era magnífico, dorsais vincados, nádegas esféricas cobertas por uma leve penugem dourada, pernas amplas e grossas. Desceu-lhe a mão entre as nádegas, sentiu a humidade, as coxas. A ereção doía-lhe, vulcânica. Tinha de telefonar à polícia. «Depois» pensou. Foi à cozinha buscar manteiga. Era noite de consoada e tinha apetite pela primeira vez. 



domingo, 12 de maio de 2013

Bullying

Sem grandes explicações de texto, limito-me aqui a deixar o testemunho de um polémico vídeo realizado pelo jovem realizador canadiano Xavier Nolan.
É na realidade um vídeo muito violento, talvez excessivo, mas que se justifica perante a violência e o excesso em que o bullying se está a transformar em tantas escolas de todo o mundo.
O filme pretende desta forma protestar contra o bullying homofóbico no âmbito do ensino.
Vale a pena ler os dois comentários que acompanham o vídeo.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Viagens 8 - Espanha aqui tão perto (Galiza)

Nesta sequência de viagens que tenho apresentado, nem sempre respeitando a cronologia, é forçoso no prosseguimento da mesma que eu faça em diversas postagens, o relato de variadas e repetidas viagens a sítios onde estive por várias vezes ou que por uma questão geográfica, ou concentre outras variadas mas conjuntas razões.
Assim sendo vou começar pelo óbvio, o país aqui ao lado, a Espanha e onde mais vezes já estive.
Por razões de proximidade, vou hoje referir-me apenas às regiões que visitei essencialmente por estarem “mesmo ali”, à mão de semear.
 divido este post em três partes: a Galiza, a região perto da Covilhã e que abrange essencialmente a Estremadura espanhola e algo de Castela, e a região andaluza, de quando vivi em Serpa.

No que respeita à Galiza, Vigo foi a cidade que mais vezes visitei, pois indo muitas vezes ao Norte, fui variadas vezes com o Duarte a esta cidade que tinha uma vivacidade e uma beleza especial. Foram muitos os fins de semana ali passados e tenho muita pena que tenham destruído toda aquela zona piedonal ao longo da costa, onde se apanhavam os barcos para as ilhas e esteja aquilo transformado num imenso parque automóvel. 
antes...
e agora.
Outra zona que merecia uma visita era a zona dos bares, logo a seguir a esta de que falei e que era onde estava a louca vida nocturna de Vigo, nessa altura.
Um dos bares era o velho conhecido “Roy Bleck”, o único espaço gay da cidade, mas sempre cheio e com muitos portugueses, claro.
Havia também a zona do “Casco Viejo”, com óptimos restaurantes e uma extensa rua estreitinha cheia de bares, tascas e outros lugares simpáticos, com aquela vivacidade própria que os espanhóis têm. Ali se comiam e a um bom preço as melhores ostras, com gotas de limão – uma delícia!
A última vez que visitei Vigo foi uma desilusão total, pois além daquela monstruosidade no Passeio Marítimo, no Casco Viejo, apenas alguns poucos lugares abertos, quase ninguém, enfim uma cidade que parecia morta.

Mas depois de Vigo havia as Ilhas Cies, que era uma certeza de um dia bem passado de praia, com o contratempo, para mim, das inúmeras gaivotas, eu que tenho fobia a aves.

Toda a costa galega para norte merece uma visita, com as famosas Rias Bajas
e o assombroso Cabo Finisterra.

La Coruña é uma bela cidade

Ourense, no interior é um exemplo magnífico de uma pequena mas interessante cidade galega
e houve uma vez que me aventurei sozinho , de carro desde a Covilhã até uma cidade escondida entre montes e que se chama Monforte de Lemos, na província de Lugo (onde agora curiosamente vive com o seu namorado, o André, o sobrinho do Duarte); e fui lá porque umas semanas atrás tinha conhecido em Lisboa um rapaz lindo com quem passei um belo fim de semana, e me convidou a visitá-lo lá, onde ele vivia – foi interessante, mas não deu para prosseguir…

E falar da Galiza sem referir Santiago de Compostela é impossível.
É a mais conhecida cidade galega, aliás a capital da Galiza, com a sua imponente Catedral, das mais belas que conheço, com a sua animação de cidade universitária, cheia de sítios de convívio, pequenos mas buliçosos, principalmente nas ruas empedradas de acesso à Praça da Catedral.
Sempre repleta de turistas por ser uma cidade com acentuada importância religiosa, devido aos “Caminhos de Santiago”, só por si merece uma visita detalhada.
 A Galiza é uma região muito especial para nós, portugueses, já que geograficamente é muito idêntica ao Minho, com uma identidade de aspectos muito variados; até a língua é muito mais próxima da nossa do que o castelhano, com as suas terminações em “inho”.
E o povo galego tem por nós um carinho muito especial e não olha para nós com aquela sobranceria com que muitos espanhóis fazem.

E pronto, pensava falar de outras regiões, mas terão que ficar para próximas postagens.

sábado, 4 de maio de 2013

Há sempre alguém que diz NÃO !!!

Já prometi tanta vez a mim mesmo que não voltaria a dedicar uma postagem do blog a questões políticas, deixando a raiva com que vou encarando a situação política, económica e social deste pobre Portugal expandir-se em “postagens rápidas” quer no FB, quer no Google+, e onde não me contenho e chamo os bois pelos nomes, debicando aqui e ali aquele português vernáculo, que naturalmente não aprendi em casa, mas que todos conhecemos e que faz tão bem gritar de quando em vez.
Acresce ainda o facto de que nas questões políticas (e nas religiosas) há por vezes, não digo discussões acesas, mas pontos de vista bastante diferenciados, e que podem com alguma facilidade degenerar em trocas de palavras menos agradáveis com pessoas que até se prezam e são amigas.
Mas, e este “mas” tem muita força, não consigo ficar calado perante o rumo que as coisas estão a tomar no nosso país, e dando de mão beijada, que há culpas de muita gente de diferentes cores políticas, na origem desta crise, como também estou consciente da conjuntura internacional (dava pano para mangas falar sobre isto…), não posso deixar de referir que a maior parte da terrível situação em que nos encontramos neste momento em Portugal, é por causa das políticas iniciadas por este governo, e pior ainda a sua total ineficácia, perante a péssima execução das mesmas.
Na sua comunicação ao país de ontem, PPC não fez outra coisa do que aquilo que costuma fazer: debitou medidas, a maior parte delas já conhecidas, e extremamente gravosas para o nosso povo, e não explicou, porque não o sabe fazer, a essência e o conteúdo delas, nem o seu exacto alcance. Limitou-se à nova imagem que o governo descobriu para justificar o injustificável: a pura chantagem, com a frase mais que repetida – ou isto ou a bancarrota!
Como a maioria do povo português já está na bancarrota, pois que venha a bancarrota, porra!!! É preciso é ter tomates para decidir isso e nem este governo, nem o que aí há de vir, mais tarde ou mais cedo, os têm para tal efeito. Ao menos com a bancarrota também eram atingidos os poderosos (grandes empresas já privadas ou a privatizar, banqueiros, reformados com pensões que são um atentado a quem passa fome, políticos de carreira bem instalados na vida, enfim o grosso daqueles que acreditam que este governo está a seguir o rumo certo.
Acresce o facto de que eu não acredito de que mesmo se houvesse tomates para tomar essa decisão, ela fosse conduzir à bancarrota real, pois a Europa, principalmente a da zona euro nunca o permitiria, já que tal significaria o princípio do fim de toda uma construção já muito abalada de união europeia.
O que é um facto é que há muita gente com fome, há famílias em situações limite, há um crescente número de desempregados e cada vez mais candidatos ao desemprego, há ameaças reais a um normal funcionamento de sectores fundamentais de um país, como a educação e a saúde, há um afastamento cada vez maior de outros países europeus, embora a crise estrutural seja a mesma para todos.
Para onde tem ido o dinheiro que temos vindo a receber por via do memorando de assistência? Para reavivar a economia? Para fazer crescer o emprego?
Não, tem ido para a recapitalização dos bancos, tem sido desbaratado em políticas que só nos conduzem a uma recessão cada vez maior.
Não posso deixar de referir aqui quatro nomes, que têm, neste momento uma enorme responsabilidade do que estamos a sofrer: Vítor Gaspar em primeiríssimo lugar, pois é ele que realmente governa, a seu belo prazer, com as suas teorias loucas que eu tenho sérias dúvidas que não sejam premeditadas e filha de uma concepção ideológica extremamente perigosa e que se enquadra em políticas internacionais muito mais elaboradas e que estão na génese de toda esta crise; é um homem tão poderoso como perigoso, pois está fora de qualquer controlo nacional.
Quem acima de tudo o sustenta é Passos Coelho, chefe do governo apenas nominalmente, que tem contra ele não apenas a oposição em peso, mas também o seu parceiro de coligação e até largas franjas do seu próprio partido, não só a nível popular, mas também a nível de gente de peso na estrutura do partido.
Quem o apoia, sim e de uma maneira escandalosamente parcial para quem institucionalmente deve ser apartidário é Cavaco Silva, um homem que tem hoje o desprezo de uma imensa maioria dos cidadãos deste país. Como é possível um Presidente da República ser tão patético como este homem? Ele representa o que há de mais negativo na já de si medíocre generalidade da classe política portuguesa.
Finalmente há Paulo Portas, que tem neste momento um peso político enorme e que ele nunca imaginou poder vir a ter em Portugal; devido à posição mais que pública do PR não acionar os mecanismos que estão ao seu alcance para pôr na rua este bando de ladrões, só PP, pode, ou dentro do próprio governo ou perante os deputados do seu partido no Parlamento, fazê-lo. Mas é um cobarde e estou certo que amanhã irá lavar as mãos como Pilatos, na sua comunicação ao país.
A alternativa mais que certa a tudo isto, e que será um governo socialista no poder, infelizmente não chega a ser alternativa, pois Seguro também não tem os referidos tomates.
Para quando uma verdadeira esquerda unida no nosso país, com o PCP e o BE a deixarem as suas ortodoxias de lado e juntarem-se a um PS forte e constituírem uma alternativa democrática válida e possível neste país à deriva?
Esta é a pergunta que deixo e que a ser respondida afirmativa teria o meu apoio e o de uma grande maioria do povo português.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Almodóvar

Pedro Almodóvar é um director, actor e argumentista espanhol.
Almodóvar nunca pôde estudar cinema, pois nem ele nem a sua família tinham dinheiro para pagar os seus estudos.
Antes de dirigir filmes, foi funcionário da companhia telefónica estatal, fez banda desenhada, actor de teatro avant-garde e cantor de uma banda de rock, na qual participava travestido.
Foi o primeiro espanhol a ser indicado ao Óscar de melhor realizador.
Publicamente homossexual, os seus filmes trazem a temática da sexualidade abordada de maneira bastante aberta.
O seu ano de nascimento é incerto, sendo por vezes divulgado como 1949 e outras vezes como 1951 .
Um dos mais premiados realizadores da história do cinema, venceu dois Óscares, dois Globo de Ouro, quatro BAFTA, quatro prêmios do Festival de Cannes e seis Goya, a honraria máxima do cinema espanhol. É indiscutivelmente o mais consagrado realizador espanhol dos últimos anos e um dos grandes nomes do cinema europeu.
Dirigiu os seguintes filmes:
-Pepi, Luci, Bom e outras tipas do grupo - 1980
Labirinto de Paixões – 1982
Negros Hábitos – 1983
Que fiz eu para merecer isto – 1984,
sendo que se pode chamar a estes quatro filmes, a sua fase “kitsch”

Matador – 1986
A Lei do Desejo – 1987
Mulheres à beira de um ataque de nervos – 1988,
considerando estes três filmes como a sua consagração internacional

Ata-me – 1990
Saltos Altos – 1991
Kika – 1993
A flor do meu desejo – 1995
Em carne viva – 1997,
e nestes cinco filmes atingiu Almodóvar a sua maturidade artística.

Tudo sobre a minha mãe – 1999
Fala com ela – 2002
Má educação – 2004
Voltar – 2006
Abraços desfeitos – 2009
A pele onde eu vivo – 2011,
e aqui, estão os grandes filmes do realizador

Os Amantes Passageiros – 2013.
uma diversão almodovariana


Aproveitando a estreia do mais recente filme de Almodóvar (Os Amantes Passageiros), o cinema King programou um ciclo com alguns dos seus principais êxitos. E assim deu-me oportunidade de ver além do filme de agora, os três filmes que me faltavam ver do realizador manchego: Em carne viva, Abraços Desfeitos e A pele onde eu vivo.
“Em Carne Viva” é um curioso filme, em que Almodóvar toca na questão política da Espanha de Franco e na Espanha democrática, de início, e onde vem ao de cima a maestria com que ele transpõe para a tela um drama original de um romance banal – amores, ciúmes, crimes e muito bom cinema, com um Bardem em grande forma e um jovem actor lindo de morrer, Liberto Rabal (filho de Paco Rabal).
“Abraços Desfeitos” foi um dos mais caros e complexos filmes do realizador, com constantes mutações entre o passado e o presente, com uma deslumbrante Penélope Cruz e um grande actor, Lluís Homar, num drama sobre um escritor que cega devido a um acidente, e ao seu grande amor.
“A Pele onde eu vivo” é a primeira incursão de Almodóvar no cinema de terror, e o regresso de António Banderas (em grande estilo), num filme surpreendente e absolutamente brilhante.


Finalmente “Os Amantes Passageiros”, embora seja um filme menor, não deixa de ser, e no melhor sentido um filme de Almodóvar, um “fait-divers”, em que ele e os seus actores se devem ter divertido imenso. Todo filmado dentro de um avião, não é claustrofóbico, devido ao seu humor, e é curiosamente o primeiro filme absolutamente gay de um realizador assumidamente gay. Javier Câmara, demonstra aqui que é um actor de eleição, e este filme pode ser considerado uma metáfora aos actuais tempos de crise.


Não queria deixar de falar na influência que as mulheres têm na filmografia de Almodóvar, e isso reflecte-se nas “suas” actrizes: primeiro Carmen Maura, depois Vitória Abril, Marisa Paredes e ultimamente Penélope Cruz.
Também a referência duas actrizes de composição muito queridas a PA – Chus Lampreave e Rossy de Palma.