terça-feira, 20 de outubro de 2009

A forma e não o conteúdo

Muito se tem falado nos últimos dias sobre as declarações de José Saramago sobre a Bíblia, na apresentação da sua última obra.
Não sou nem um leitor assíduo do Nobel português, nem um "expert" na percepção do conteúdo bíblico; portanto não vou fazer juízos de valor sobre o conteúdo do que foi dito, mas apenas e porque tenho a minha maneira de ver as coisas e o meu sentir, discordo e muito da forma como Saramago se referiu ao assunto.
Ele é um escritor, tem o seu mérito como tal e foi Nobel da literatura o que é uma honra para todos nós; além disso e antes que isso, é um ser humano, e como todos nós tem direito a proferir as suas opiniões.
Mas as opiniões de Saramago têm um alcance que não têm as minhas e as do homem comum, e ele sabe disso, pois é inteligente. Não quero acreditar que a sua evidente senilidade o leve a usar estas declarações como estratégia de promoção do seu livro; antes quero acreditar que ele se julga, e desde que recebeu o Nobel, mais que nunca antes, um detentor da verdade, um dogmático...
E é de uma arrogância chocante, como se fosse ele o centro do mundo. José Saramago é, na minha opinião, como Ary dos Santos, por outras razões (pessoais, que aqui expus), o exemplo de que deve separar-se a obra, do ser humano que a produziu.
A obra de Saramago é objectivamente muito meritória, embora eu não o endeuse, como muita gente faz, mas o homem que ele é nunca me entusiasmou, tendo mesmo na sua vida situações que reprovo frontalmente, sendo a maior a sua passagem pela direcção do Diário de Notícias, em pleno PREC e que é das maiores nódoas do jornalismo português, ao praticar uma censura interna total, contrariando assim a democracia que sempre disse defender; mas era a "sua" democracia, não a democracia.
Que continue a escrever livros que serão sempre acarinhados pela sua legião de admiradores, sejam bons ou menos bons, lá na sua ilha onde se auto exilou de um país de que parece não gostar, mas tanto tributo lhe tem mostrado.

57 comentários:

  1. 1. Se formos a ver, o tributo que o país lhe tem prestado foi após a entrega do Nobel, pois, aquando da polémica d' O Evangelho segundo Jesus Cristo, até o vilipendiou...
    Logo, é uma estima muito interesseira.

    2. Lembro-me bem dessa polémica na altura, a qual demonstrou que a política e a sociedade portuguesa ainda são dominadas pela doutrina católica, exceptuando a cultura, que é ainda um bastião das ideologias de esquerda.

    3. Também acho que Saramago parou no tempo.
    Hoje em dia já não faz tanto sentido questionar o conteúdo da Bíblia, pois cada vez menos as pessoas crêem nele. E não sou crente...

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  2. José Saramago tem uma dose de narcisismo daquelas que me fazem não gostar de alguém! A sua busca por atenção é já patética e à muito ultrapassou o aceitável.
    Relativamente ao que diz da biblia, não me aquece nem me arrefece, neste caso até devia dizer mais umas quantas, assim os senhores da igreja distraiam-se com ele e deixavam o sexo em paz por um bocadito.

    Abraço

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  3. Maldonado
    concordo que essas distinções são bajuladoras e são consequência directa da atribuição do Nobel.
    Eu nem quis falar da outra polémica pois embora ambas sejam de âmbito anti religioso, são coisas distintas tanto no tempo como nos protagonistas.
    E quanto ao estado actual do escritor, só não repara na sua senilidade, em todos os aspectos, quem não quer.
    Abençoado Manuel de Oliveira...
    Abraço amigo.

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  4. Félix
    chama-lhe narcisismo ou seja lá o que for, mas o homem, como homem, não é flor que se cheire.
    Mas há quem aceite tudo o que profere como se de um deus se tratasse...
    Abraço grande.

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  5. esta polémica das declarações sobre a Bíblia, que tenho acompanhado muito lateralmente, por acaso tem-me feito pensar no assunto e no homem. Sou um saramaguiano confesso, porque gosto muito de alguns dos seus livros, dizem-me muito, e como sabes, porque me conheces, a minha relação com estas coisas é sempre muito pessoal. não sou objectivo, não sou analítico. gosto daquilo que me marca, que me apaixona, que me seduz. mesmo quando, e às vezes acontece, esse gosto me cria questões de moral.

    mas voltando ao Saramago. há uma frase antiga dele, com que me identifico muito. dizia ele, creio que numa entrevista, que não acreditava em Deus, mas acreditava nas pessoas que acreditavam em Deus. nestas últimas declarações, feitas com um certo azedume e uma certa acrimónia, fazem-me pensar que ele hoje já não diria esta frase.

    uma das minhas preplexidades existenciais, é pensar como é que toda a história das civilizações (toda a história do homem, em suma), nomeadamente nos últimos dois mil anos, assenta numa falsidade, que é a existência de Deus. a arte, a cultura, a filosofia, a moral, tudo, até à nossa intimidades, se fundamenta na relação do homem com Deus. Neste aspecto confesso que me tranquiliza um pouco que apareçam pessoas como o Saramago que dão expressão a essa falsidade.

    o que me tem chocado nestas declarações é, não tanto o tom, mas o modo agreste, quase cruel, castigador, com que ele se refere à religião. ou seja, sem respeito, não apenas pelos outros, pelos que acreditam, mas também pela nossa própria cultura, pela maneira como o nosso pensamento, enquanto indivíduos, está estruturado. ou seja, nós, todos nós, crentes e não crentes, somos filhos das religiões, e neste aspecto podemos dizer que somos filhos de Deus, ou seja, somos, mais não seja, filhos da ideia de Deus.

    e o que me parece é que o Saramago está esquecido disto, suponho que a proximidade da morte, o medo e a solidão que essa proximidade sempre provoca, o está a levar a uma radicalização, a uma necessidade de ser amargo, de castigar os outros.

    uma das coisas que aquela frase do Saramago que refiro a princípio, me deu foi uma maneira humanista de viver a minha falta de crença. é possível sermos humanos mesmo sem Deus. este amargor final desagrada-me e magoa-me.

    Pinguim, desculpa o relatório, credo!, mas tenho andado a pensar nisto, e agora que me pus a comentar tentei pôr as ideias em ordem, no que toca a este assunto.

    abração

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  6. texto super reflexivo
    gostei



    http://myeggsbrazil.blogspot.com/

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  7. Assisti ontem a um jornal televisivo português em que foi abordado este assunto e hoje fui procurar a saber melhor.

    Não conheço muito bem Saramago, mas pelo pouco que vi percebi que suas opiniões são um tanto contundentes à sociedade em geral. E é claro que por tudo isto gera-se "muito barulho por nada".

    Não o critico, creio que cada um possui uma forma de se expressar, arcando com as consequências depois. No entanto, melhor seleção nas palavras, a prezar pelo respeito e ética nas opiniões, deveria ser qualidade indispensável aos grandes da literatura. Ao menos é o que eu acho.

    Beijos!

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  8. Pinguim, eu transcrevo o que o daniel Oliveira escreveu há pouco, e que é uma maravilha
    «a propósito do lançamento do Caim, Saramago malha na bíblia para atingir de tabela a Igreja, sing me something new (caralho, é preciso audácia para glosar um disco do narcótico david fonseca num post sobre o nosso prémio nobel, mas o david tem direito à vidinha, afinal leiria não é só castelos, isabel damasceno e um estádio com bolor), digamos então que o Saramago também tem direito à opinião, e há que dar o desconto a um ancião que vive enfiado há anos num aglomerado de calhaus vulcânicos com praias piores do que o eixo esposende-apúlia, e nem estou a ser condescendente, adoro-lhe os livros, deploro-lhe a tendência para as declarações públicas, mas enfim, caiu-lhe no goto o espicaçar e as madalenas vão atrás, umas bradam contra a ignorância, outras contra a má-educação e as mais equivocadas censuram-lhe o golpe publicitário em favor das vendas, como se o tipo precisasse de campanhas extra para vender a rodos, não é preciso ser um gajo do ramo para saber que os livros do bicho são best-sellers por natureza há anos a fio, o que se passa é que ele tem a língua solta e quanto mais velho mais impune, acontece a todos, do patriarca dos simpsons aos cotas de jardim, aliás, quando li as declarações em forma de bulldozer do José lembrei-me até de um casamento a que fui aqui há um ror de anos, na igreja da pontinha. Um calor dos diabos, os noivos nas assinaturas e o povoléu à saída, à espera de bradar um viva os noivos acompanhado da clássica chuva de arroz carolino, e o casalinho que nunca mais saía, e uma convidada septuagenária que se toma de impaciências, e os ares da pontinha que são propícios à maluqueira, e quando eles finalmente assolam à soleira da porta da igreja, dois segundos antes de se passearem entre a turba, a velha dá o passo em frente, sozinha contra todos num espectacular gesto de antecipação, e assesta-lhes com o arroz nas fuças, tem idade para fazer o que quer, para ser impune, para desconcertar os noivos, o patriarca de lisboa e o líder da comunidade judaica, os crentes e os que não gostam de troglodices, mesmo que caucionadas pela academia sueca. Dizer que a bíblia é uma farsa cruel aquece pouco, arrefece ainda menos, é tão relevante como uma chuvinha de Cigala antes do copo de água, deixem lá o Saramago brincar aos bagos. O que importa é que se este Caim chegar aos calcanhares do elefante Salomão já não será mau, graças a deus. Ou não.»

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  9. Miguel
    eu não desculpo nada!!!!
    Só te agradeço teres enriquecido este texto com um comentário tão importante e lúcido.
    Claro que nem em tudo estarei 100% de acordo contigo, mas no essencial estou.
    Abraço grande.

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  10. My Eggs
    obrigado pela tua visita e pelo conteúdo do comentário.
    Abraço amigo.

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  11. Gigi
    quando a soberba é muita, nem a idade ajuda a ter um pouco de humildade, o que é pena...
    Beijinho.

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  12. Blue
    já depois de ter escrito este post li no "Arrastão" o texto do Daniel, e se o tivesse lido antes, decerto teria feito uma chamada de atenção para ele, pois acho-o, como tu, muitíssimo bom.
    Aliás, embora em muitas coisa, não concorde com o DO, é uma pessoa muito válida e parece-me que estará a iniciar um movimento interno no BE, que só trará benefícios ao Bloco em si e ao país também.
    Obrigado pela tua "achega"...
    Esta caixa de comentários está a ficar muito interessante, exactamente como eu gosto, com a colaboração dos leitores na "composição final do texto".
    Abraço grande.

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  13. Blue
    levado pelo que escreves, corroborei num erro, não grave e que não tira mérito ao que afirmei sobre o Daniel Oliveira; mas na realidade o texto e o "rabisco" são da autoria do Pedro Vieira.
    O seu a seu dono.
    Abraço.

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  14. Nunca gostei de José Saramago como homem mas gosto de algumas das suas obras. Sempre o achei muito arrogante e pouco respeitador das ideias dos outros, é o tipo de pessoa que pensa: "ou és da minha opinião ou és "um alvo a abater", e tenta abater com graçolas muito pouco edificantes, para uma pessoa que deve ser inteligente, será? Confesso que não fui abençoada pelo dom da Fé mas não posso admirar seja quem for, que goze com aquilo em que os outros acreditam...
    A maioria dos prémios Nobel, são prémios políticos como todos sabem!

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  15. Pinguim, agradeço a correcção pois tenho andado a divulgar como se fosse dele. E a confusão gerou-se porque comecei por ver esse texto publicado no Facebook pelo DO.
    O seu a seu dono :)

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  16. Não li o livro mas não posso deixar de opinar...
    Pinguim, apesar de concordar com a maior parte do que dizes acho que, independentemente de ser quem é, ele tem o direito de dizer o que pensa. Afinal ele é um escritor e pode mover-se no mundo do real mas também do ficcional. Penso que seria mais grave se ele fosse um PR intriguista com viroses informático-neurológicas...
    Grande abraço

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  17. Oi, Pinguim! :-)

    Você me lembrou um provérbio oriental, é mais ou menos assim:
    "Nunca julgue um homem por seus cabelos brancos. Até os tolos envelhecem".

    Beijinho!

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  18. Aliás... É você na foto "Afectos"?

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  19. Antes de mais tenho que referir que sou suspeito para falar sobre Saramago. Porque aprecio muito aquilo que escreve e também aquilo que diz.
    Assim sendo tenho que discordar ctg João, Saramago sempre teve, e com o passar dos tempos mais ainda, bastante à vontade para dizer aquilo que pensa. Sempre se mostrou radical nesse aspecto. Talvez estas declarações não sejam um acto de senilidade, mas mais um reforçar, uma espécie de últimas declarações de vida. Porque ele sabe que é mais do que ouvido e como se encontra na fase última da sua vida, tem que dizer e "indignar-se" contra aquilo que não concorda.
    Sobre o conteúdo das declarações em si, sou capaz de concordar com elas em 90 e muitos por cento...
    Abraço

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  20. Maria Teresa
    eu deixei bem claro que o meu texto não critica o conteúdo do que Saramago proferiu, nem pretendo defender a posição da Igreja; tenho a minha fé, muito própria, devo confessá-lo, mas nada interfere neste caso.
    O que está em causa é o homem, e estas afirmações não são declarações isoladas, estão inseridas numa má fé contra as ideias contrárias às suas, e não só de conteúdo religioso...aliás como afirmas.
    Beijinho.

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  21. Blue
    é curioso que eu só reparei nisso quando voltei ao blog para ler os comentários, pois acho imensa piada aos comentários deixados no "Arrastão"; só nessa altura vi que o texto não era do Daniel. O desenho, claro que o atribuí sempre ao Pedro Vieira, mas estava convencido que o texto não era dele...
    Abraço.

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  22. Amigo X
    não vamos comparar os dois casos, nem eles são comparáveis...
    Este caso não traz problemas a ninguém e apenas atesta uma maneira de ser, da qual se gosta ou não; no caso do PR, embora eu não tivesse votado nele, representa todos os portugueses e não pode nunca pôr em causa o país de que é presidente.
    Abraço grande.

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  23. Gigi
    gosto do provérbio...
    Na foto "Afectos", era bom que fosse eu, pois além de ser muito mais novo, era um bonito rapaz; trata-se do Déjan, o meu namorado sérvio; eu sou aquele "coroa" que está junto a ele na foto "Happy Together"...
    Tive pena de te desiludir, eheheh...
    Beijinho.

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  24. Meu caro Ruy
    podes pensar que é mentira, mas não: agrada-me que discordes de mim, pois é bom haver opiniões diversificadas, desde que não sejam intolerantes...
    E é aqui que parece que estamos no ponto mais discordante, pois para mim, Saramago não admite opiniões diferentes da sua: ele é que sabe, ele está sempre correcto, e isso não é verdade.
    Reafirmo mais uma vez que no conteúdo não sou totalmente contra o que ele diz; mas o seu dizer é sempre "de cima para baixo", nunca é para o lado; não admite réplica...
    Chamas-lhe radical; talvez o seja e por isso eu não gosto da sua maneira de ser, pois nunca gostei de radicalismos.
    Ficamos onde estamos: tu na tua e eu na minha e não é por isso que algo muda entre nós - mau seria...
    Abraço amigo.

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  25. Por norma, gosto sempre de alguém cujas opiniões vão contra a generalidade. Sendo alguém com voz nos meios de comunicação, mesmo com mais ou menos razão, estimula sempre a discussão social

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  26. Speedy
    sob esse ponto de vista está a resultar em pleno, ehehehe...
    Abração.

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  27. Nunca li um livro dele e acho que nunca vou ler, talvez porque ler algo que até pode ser uma obra de literatura em que o autor é uma pessoa fria, seca e asquerosa, ponho logo de lado.
    Foi triste o seu comentário, é um livro e independentemente que seja Bíblia, não lhe dá o direito de dizer tais barbaridades.
    Ainda hoje foi mostrado uma página da Bíblia e foi interessante que o que li conseguia seralgo de uma visão digna de um quadro de Bosh em termos visuais, por isso cada um interpreta como quer. Por mais que tenha o Nobel para mim ele é um calhau oco.

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  28. Eu nao sou capaz de dissociar a pessoa do artista...pode ser falha minha...mas nao sou!

    E como pessoa, sempre o achei quasi-intragavel...e nao compreendo de onde lhe vem aquela atitude...

    E por tal, nao gostando do homem, nem abertura dou ao artista.

    Abraco:)

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  29. Sinceramente acho que ele só procura publicitar o livro. Vamos ser polémicos, e mio mudo vai querer ler:)

    Não questiono a obra dele, da qual gosto muito, mas o homem já se calava:P

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  30. Ahahahahahah :-D

    De fato, és um homem de sorte! ^_^

    Beijinhos!

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  31. Ricardo
    eu não vou tão longe; apenas não gosto dele. E se ele tem o direito de dizer o que muito bem entende, eu também tenho o direito de não gostar dele.
    Abraço amigo.

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  32. Hydra
    parece que há muitas opiniões semelhantes; não é mania minha, pelo que vejo...
    Abração.

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  33. Little John
    tinha que ser um "John" para exprimir até agora a opinião mais coincidente com a minha; ficava tão bem lá em Lanzarote, no paraíso escolhido por ele, a escrever livros e a destilar o ódio que nutre por tanta coisa e tanta gente...
    Abração.

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  34. Gigi
    nem tu imaginas quanta...
    A beleza interior ainda é maior!!!
    Beijoquita.

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  35. João, (hoje apeteceu-me)antes mesmo de o teres escrito estava a pensar na quantidade de comentários excelentes que este post suscitou e como gosto imenso desta troca de comentários que cá se fazem. Os teus comentadores estão todos de parabéns. Vou discutir mesmo apenas só a forma, porque o conteúdo, (apesar de ser crente, não me considero de religião nenhuma), levaria a uma discussão mais aprofundada e até consigo concordar com algumas coisas que o Saramago diz... mas a forma é tal como já foi dito, igual àquela que sempre foi, arrogante, como o próprio homem, que até nem aprecio por aí além, como escritor, mas não suporto mesmo como homem que tem a mania que é o único intelectual cuja palavra é merecedora de atenção...
    beijinhos

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  36. Eva
    sem falsa modéstia, claro que estou satisfeito com todos os comentários, os concordantes e os discordantes; só assim ficamos todos mais e melhor esclarecidos.
    Pode-se concluir que Saramago tem de facto pessoas que o admiram muito, até como ser humano; e pessoas que não encontram nele valores que o autorizem a ditar leis...é pois uma personalidade polémica, à qual não se fica indiferente; talvez seja esse o seu objectivo...e consegue-o.
    Beijinho.

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  37. Pinguim, apesar de não gostar do homem como escritor nem como pessoa mas concordo em parte com o que ele disse. Claro que estamos a mexer em planos muito pessoais e que são referentes à fé de cada um, mas tirando o tom intransigente e prepotente com que Saramago costuma fazer as suas "promoções" às suas obras, ele não terá um pequeno fundo de verdade?

    A tentativa de reflectir sobre este assunto foi algo que tentei fazer no meu post e como podes ter visto só se consegue divagar e não chegar a conclusões, porque como disse na altura a fé é extremamente pessoal e ou se tem ou não se tem.

    Já sabes que sou pseudo-defensor do que Saramago disse não nos moldes em que ele gosta tanto de se expressar, mas que tem algum fundamento no seu radicalismo. Senilidade? Pode ser... Mas ao menos deu para pensar e já colocou a comunidade blogosferica num alvoroço com comentários!

    Um bem haja

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  38. Pedrosense
    mais um comentário interessante e equilibrado, este teu texto; não és o primeiro a referir um pouco de oportunismo no timing da crítica, nem sequer a referir que a sensibilidade da fé de cada um contribuirá para a visão mais ou menos crítica deste assunto (no meu caso pessoal essa influência foi no entanto nula);
    Onde me pareces mais original é no evidente interesse em debater aqui na blogosfera, e fora dela, um tema tão polémico como este; e aí tens a minha concordância...
    Abraço amigo.

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  39. Pinguim, permita-me usar o espaço para fazer um trampolim com outro leitor, o Maldonado. Caro Maldonado, não é a primeira vez que suas ideias fazem ressonância com as minhas e devo dizer que no Brasil o item 2 a que você se refere é igualmente válido aqui. Quanto ao item 3, concordo também porque penso igualmente que Saramago parou no tempo. Pinguim, eu gostava muito do Saramago inicial e ele veio muito ao Brasil e foi festejado, aclamado, incensado. Alguns anos depois (e pós-Nobel), no entanto, passou a agir aqui da mesma forma que você descreve no teu post. E também a ter essa arrogância referida por você. Depois, de uma certa forma, perdeu o prestígio inicial que lhe era conferido por estas bandas. Não li esse último livro de Saramago. O último livro dele que li foi "As Intermitências da Morte", publicado por aqui em 2005 e, cronologicamente, foi até aquele ano que acompanhei os livros dele. Mas, de uma certa forma, a literatura de Saramago não me atrai mais. Talvez seja por conta de tudo isso que você falou e que, claro, é transportado para a obra do escritor. Uma pena. Abraço!

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  40. Redneck
    um testemunho bastante importante, o teu, pois sendo admirador confesso do escritor, e não sofrendo da "doença" de endeusar um português, com razões relacionadas por ter sido premiado pela Academia Sueca, tens notado essas características que marcam a sua personalidade.
    Caramba, Saramago pode ser bom, mas não é o único bom escritor português vivo; no entanto apontem-me um nome de um escritor português que mostre o azedume, a falta de amabilidade, a total ausência de simpatia que Saramago demonstra.
    Alguma pessoa já o viu sorrir?
    Sim, isso não tem rigorosamente nada a ver com a sua obra, mas tem tudo a ver com a sua postura como ser humano.
    Para muita gente, isso é uma maneira de ser e não tem qualquer importância.
    Para mim tem toda.
    Espero de uma vez por todas que se perceba que tudo isto está muito além do conteúdo das afirmações sobre a Bíblia.
    Em grande abraço para ti.

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  41. não podia concordar mais contigo...embora, eu se calhar, usasse palavras mais hummm duras...mas, se eu fosse alguém mais ponderado era precisamente isto que diria.
    Temos mesmo que separar a obra do autor, a obra é boa, o autor...enfim...tem tanto que se lhe diga.

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  42. Ima
    estou farto de ver o assunto debatido na blogosfera e olha que eu sou brando, comparado com muita gente...
    Claro que há os que não conseguem separar as águas! E é pena, pois não achar este homem frio, arrogante e doutoral não é normal.
    Abraço amigo.

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  43. @Redneck:
    Acredito que a realidade do Brasil em alguns aspectos seja idêntica à portuguesa.
    Saramago é meritório, embora eu não seja adepto da sua escrita, mas acho desnecessária esta polémica, a qual engrandece mais a posição da Igreja do que a dele.

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  44. Por mais vontade que tenha de ver o assunto do laicismo da sociedade e da influência da igreja católica em cima da mesa, não posso evitar de constatar friamente que, tendo o Nobel tão nobre intenção ou não, a meu ver, nada mais se trata de uma manobra publicitária.

    O choque chama sempre à atenção. E que melhor maneira de vender/publicitar um livro do que envolver o seu lançamento em afirmações "à vargas" como foi feito?

    É certo que Saramago tem uma grande importância como escritor. Mas depois de analisar o volume de vendas do seu novo livro, creio que lhe terei de tirar o chapéu e reconhecer-lhe o mérito como marketeer!

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  45. Mário
    pode ser que seja essa a razão, mas então será necessariamente um sinal de que nem tudo vai bem com as vendas dos últimos livros...
    Um prémio Nobel a ter que usar estratégias de marketing? Neste país já nada me espanta...
    Abraço amigo.

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  46. A polémica continua...
    E hoje (ou ontem) um eurodeputado veio a publico recomendar a renuncia da nacionalidade portuguesa, eu não percebo muito bem o porquê !?!?!?...

    Onde está a liberdade de expressão ?
    Já alguem dizia que ultimamente, andamos com a cabeça na areia, tipo avestruz!!!
    Com medo de tudo e de todos, até mesmo para abrir a boca e dizer o que quer que seja...

    É a sua opinião, e a polémica gerada, é também pela importância dada as suas declarações!!!

    Não sou grande fã, mas não deixo de concordar com algumas das suas declarações...


    Abraço-te

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  47. Neste momento, amigo Abraço-te, as coisas já estão a extrapolar-se com atitudes insensatas de lado a lado; é um deputado europeu que diz o que não deve dizer e é o próprio Saramago, numa conferência de imprensa a vitimar-se, mas a mandar mais achas para a fogueira, agora numa nítida provocação.
    Tudo isto já me enoja; o livro porventura irá vender-se muito bem, mas Saramago já tinha idade para ter juízo...
    Abraço amigo.

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  48. João, devo confessar, ainda que a medo, que não sou fã de Saramago, e tudo o que li deste escritor foi porque me obriguei a tal, para poder fazer uma opinião mais ou menos racional e avalizada. Entretanto ele ganhou o Nobel (sim, disse-o "Nóbel"), e eu pensei para com os meus botões: "que bronco sou, que não consigo perceber este homem, nem as suas ideias ...".
    E continuo a pensá-lo, pois deve haver uma nódoa terrível na minha cabeça para não conseguir entendê-lo da mesma forma como o entendem os outros.
    Não falo da sua prosa, que é fabulosa, reconheço (quem dera conseguir, ainda que levemente, atingir o virtuosismo da sua escrita!), mas do conteúdo em si.
    Leio as tuas considerações, e, de uma forma geral, concordo completamente com o que expões, mesmo com a tua análise sobre o seu carácter, mas ... devo admitir que admiro pessoas de convicções fortes, ainda que diferentes das minhas, e que têm a coragem de as expôr ao mundo, não obstante fazerem-no contra ventos e marés considerados politicamente correctos.
    Não li esta última obra, e possivelmente não venha a lê-la (prefiro deixar em aberto esta hipótese), mas não posso deixar de admirar um homem que afronta estas "vacas sagradas" como são a Bíblia, a religião católica e quejandos, as quais são anacrónicas no mundo que corre ... por sorte para todos nós (e não me refiro só aos gays!).
    Mas, à laia de conclusão, devo confessar-te que, duma forma generalizada, consegues colocar por escrito muito do que penso sobre o senhor em causa.
    Abraço
    Manel

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  49. Manel
    entretanto e com a continuação da sua "cruzada", pois agora já é cruzada, não se limitou a emitir uma opinião, penso que cada vez mais o senhor está numa estratégia de marketing; só pode ser, pois de resto, agora é malhar já em ferro frio.
    A simpatia de Lobo Antunes, no seu oposto, mais acentua o seu lado negativo de encarar a vida (sem fazer comparações entre o valor literário de cada um).
    Abraço grande.

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  50. A minha opinião é que estas polémicas são deliberadas e são elas que fazem vender os livros de Saramago. Ainda hoje o Memorial do Convento e o Evangelho, serão porventura dos livros mais vendidos e que continuam a sê-lo.
    Não digo que Saramago não vendesse, mas não fossem estas polémicas e o destaque não seria igual. Acredito que muitas pessoas comprem o livro só porque se falou dele.
    Embora ache que Saramago sempre foi um pouco "cagão" e com uma atitude pedante, e desde sempre tenha criado e alimentado polémicas,isso agravou-se com a "Nobelite".
    Agora também acho que quer ele,a igreja e comunicação social estão a fazer de mais este caso, uma novela ridícula.
    Amanhã até vai haver um frente a frente com o Saramago e um membro da igreja. Ao que isto chegou.
    Abraço.

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  51. Miguel
    pois com todo este desenvolvimento, devidamente alimentado pelos "media", começo a crer que é realmente uma autêntica campanha publicitária. No caso de debate anunciado para hoje, o representante da Igreja é também alguém sedente de protagonismo, Carreira das Neves, que nem sempre tem tido uma posição coincidente com a hierarquia a que pertence...
    Enfim, mais uma novela à portuguesa, e que já me começa a meter nojo!
    Abraço grande.

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  52. Não sou simpatizante do homem mas concordo plenamente com as afirmações d'ele. Ás vezes é bom ter alguém reconhecido (narcisista ou não) que diga as verdades e não se fique pelo politicamente correcto típico do português. Irrita tanto sinismo n'este povo.

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  53. Maxwell
    As afirmações tiveram o seu impacto e não sou eu que as desdigo; mas a sua repetição exaustiva e com termos cada vez mais fortes passa já a provocação e eventualmente a "mercantilismo".
    Quanto a simpatia por tal pessoa, venha o primeiro a afirmar que o acha simpático - impossível!!!!
    Abraço amigo.

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  54. O livro está muito bom, muito bom mesmo. Mas pronto, sou um bocadinho suspeita por dizer isto visto que ponho em dúvida muitas mas mesmo muitas crenças da Igreja e passagens da Bíblia. Não sei me definir muito bem em termos de religião, portanto.
    Beijinhos

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  55. Martinha
    é interessante e importante o teu testemunho, já que és a primeira pessoa aqui a deixar a sua opinião sobre o livro, cuja promoção estava a ser feita, quando foram proferidas as declarações polémicas de Saramago.
    É evidente que a tua opinião, que é subjectiva e muito aceitável tem a ver unicamente com aquilo que eu no texto chamo de conteúdo, e que, em princípio eu não contesto, pois baseia-se na forma livre como cada um vê e sente a sua fé.
    Mas nada dizes sobre o escritor em si mesmo, independentemente deste livro, como ser humano e no seu comportamento perante a religião, o seu dogmatismo, que é a tal forma que eu abertamente condeno.
    Beijinho.

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  56. Pois, para mim o Saramago é um ser demasiado indefinível. Mas inteligente... acho que com este livro, conscientemente (!) o senhor fez a melhor jogada de marketing de sempre. E apesar de quase todos os livros dele suscitarem polémica, penso que ele gosta disso. Gosta de estar na boca do mundo e não sei se escreve o que escreve com esse intuito ou se todo ele é a inocência personificada. Pessoalmente, gosto dele como escritor. Como pessoa, não sei muito bem... não me aquece, nem me arrefece...

    Beijinhos

    PS: sim, Lisboa conquistou-me. Cresci em muitos aspectos, eu própria noto isso :)

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  57. Martinha
    afinal sempre tinham alguma razão de ser as minhas palavras.
    Beijinho.

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Evita ser anónimo, para poderes ser "alguém"!!!