quinta-feira, 21 de maio de 2009

João Bénard da Costa

Ao longo da sua existência, a Cinemateca Portuguesa teve três directores: o primeiro, e seu fundador, qual Henry Langlois português, foi um homem excepcional, Félix Ribeiro, que tive o grato prazer de conhecer pessoalmente, quando recém chegado a Lisboa ia à Cinemateca, mais propriamente à sua minúscula biblioteca, ainda instalada no edifício do Palácio Foz, nos Restauradores; aí “bebia” o cinema que aqui não passava, através dos “Cahiers” e do “Films and Filming”, entre outras publicações.
Seguiu-se-lhe na direcção, o erudito e estudioso de cinema que foi Luís de Pina, e que foi entre muitas outras actividades, o mentor de uma revista séria sobre cinema e que ainda aguentou um certo tempo e que se chamava “Filme” (tenho a colecção toda); também tive o privilégio de o ter encontrado num casamento e tive com ele uma agradável conversa.



Sucedeu-lhe “naturalmente” João Bénard da Costa que à altura do seu falecimento já pertencia à direcção da Cinemateca há cerca de 11 anos. Curiosamente foi o único que não conheci pessoalmente. Este amante confesso e inveterado pelo cinema, transformou a Cinemateca Portuguesa radicalmente, não só na sua programação, mas essencialmente na profunda modificação física do bonito edifício da Barata Salgueiro, dando-lhe condições técnicas muito importantes de trabalho, no campo profissional , e também adequadas, modernas e confortáveis condições de exibição de filmes e de agradável convívio.

Uma chamada de atenção para o apoio dado por Bénard da Costa, desde o seu início ao então Festival de Cinema Gay e Lésbico de Lisboa, quer na disponibilização de filmes e das suas salas, quer em bem elaboradas sinopses dos filmes exibidos.

Ficaram célebres os escritos de Bénard da Costa sobre cinema, quer em livros quer em textos na imprensa; nestes, o destaque vai para os afamados artigos subordinados ao tema “Filmes da minha vida”.

Como cidadão distinguiu-se como membro organizador, durante muitos anos, das celebrações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.

 Bénard da Costa deixou-nos hoje, e com ele uma imensa perda não só para o cinema em Portugal, mas também para a cultura portuguesa.

A Cinemateca suspendeu toda a sua programação até 25 de Maio, apenas tendo marcado uma sessão com o filme “Johnny Guitar” do mestre Nicholas Ray, provavelmente o filme da sua vida (Joan Crawford é inultrapassável na sua interpretação de Vienna).


 



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20 comentários:

  1. e distinguiu-se também como católico anti-salazarista.
    um grande Homem!

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  2. Pinguim
    pela primeira vez sou a 1ª..
    A primeira ou a última tanto faz, porque prestaste uma bonita homenagem a este grande senhor João Bénard da Costa.
    Obrigada!

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  3. Uma justa referência a um homem que vai deixar um lugar vazio na cultura portuguesa... e já são tão poucos os que se dedicam à cultura do nosso país.
    Jinhos!

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  4. Paulo
    há sempre coisas que escapam, mas essa faceta de dirigente da JUC e do seu anti salazarismo é por demais conhecida, assim como outra coisa que não referi: a sua participação nalguns filmes de Manuel de Oliveira!
    Abraço amigo.

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  5. Mais que devida, Violeta!
    E que bonita a cena entre Joan Crawford e Sterling Hayden no "Johnny Guitar", náo achas?
    Beijinho.

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  6. Rita
    não imagino quem ocupará a sua cadeira de director da Cinemateca, se Pedro Mexia, o director interino, se outra figura mais ligada ao Cinema; é uma herança pesada, mas caso não estivessem ainda activos, adiantaria dois nomes: Fernando Lopes ou Lauro António.
    Beijinho.

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  7. Lampejo
    ficaste a conhecer; missão cumprida!
    Abraço.

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  8. Pinguim,
    Soube-o por ti, hoje ainda nem vi as notícias. (...) tenho muita pena.
    Mas ainda há pouco parece-me tê-lo visto e em forma ou engano-me?

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  9. Popelina
    há muito estava doente, até porque não era demasiado velho (74 anos); foi por razões de saúde que abandonou o cargo de director da Cinemateca.
    Grande perda cultural para o nosso país.
    Beijinhos.

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  10. Já aprendi qualquer coisa hoje.
    Gostei do bocado de filme, esses filmes "à antiga" têm o seu encanto.
    Abraço

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  11. Caro A...
    Sobre Bénard da Costa está tudo dito aqui, em inúmeros blogs e nos "media".
    Sobre "Johnny Guitar" é um filme fabuloso, um western diferente, em que a principal personagem é uma mulher (Vienna ficará na história das mais fascinantes personagens que o cinema nos deu), com uma fotografia deslumbrante e com uma das maiores actrizes de sempre - Joan Crawford.
    A ver com urgência; é um filme de culto. Eu já revi vezes sem conta.
    Abraço amigo.

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  12. Sinto-me burro pois só conheço o nome de ouvido! Acho que é a primeira vez que leio sobre a Cinemateca! Enfim, são coisas!
    Resta dizer que prontos, espero conhecer um dia e que arranjem novo magnífico para liderar a casa.

    E, claro, tinha que nascer de um Félix! ;)

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  13. Curiosamente, num dos meus filmes de eleição ela também contracena com uma das suas rivais de estimação, Bette Davis : "What Ever happened to Baby Jane?".
    Duas mulheres que, não primando pela beleza estereotipada de Hollywwod, são dotadas de um carisma aliado a uma excelência de representação que suplanta o "handicap". Vou mesmo até ao ponto de dizer. "Ainda bem que a beleza física não nos deixa distrair do essencial: a excelência da representação."
    São assim os seres que se afirmam pela excelência, como também João Bénard da Costa: tornam-se imortais!
    Abraço e um obrigado pela homenagem

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  14. sempre gostei muito de lhe ler as crónicas, e era fã dos filmes da minha vida, sobretudo nos tempos mais antigos do Independente.
    mas tenho de confessar que nos últimos anos desenvolvi alguma antipatia em relação ao JBC, sobretudo por causa do episódio do apego ao lugar mesmo depois de atingir o limite de idade. acho que havia um certo ar cardinalício na sua figura, que me desagradava.
    mas este teu post fez-me recordar o Luis de Pina. tenho ideia (muito vaga e imprecisa) do LP ter um programa sobre cinema na TV, ou pelo menos apresentar certos filmes na TV. lembras-te disto, Pinguim?

    ultimamente ando muito desligado do cinema (qualquer dia tenho de deviolver o cartão de cinéfilo), mas quando leio os teus textos sobre cinema sinto saudade e vontade de regressar ao tempo que via muitos filmes.
    Viva o Cinema.

    abração

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  15. Caro Félix
    é perfeitamente natural o teu desconhecimento0 sobre Bénard da Costa e sobre a Cinemateca.
    Sobre O falecido cinéfilo, já ficaste a saber algo aqui, noutros blogs e nos media; mas sobre a Cinemateca, que é uma instituição muito importante, vai ao Google e encontras o site deles e também no Wikipedia poderás encontrar coisas interessantes sobre ela.
    Abraço amigo.

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  16. Só esperemos que a Cinemateca não morra também...
    (grande, magnífico filme, interpretação, música!)

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  17. Manel
    segundo consta, na vida real, Joan Crawford era má como as cobras e tinha um ódio de morte a Bette Davis e que era recíproco; imagina o prazer de ambas a torturaremm-se mutuamente no "What happenned...."
    Mas ambas eram excelentes e este filme (Johnny Guitar) é o filme da vida de muita gente...
    Abraço amigo.

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  18. Caro Miguel
    no momento da morte, nunca se devem focar os "pequenos" defeitos, mas sim enaltecer as virtudes, se as há, como é o caso...
    Mas, também já me tinha soado que JBC conduzia a Cinemateca com "mão de ferro" e era algo ditador no exercício do seu cargo, tendo "ganho" algumas inimizadas nos seus últimos anos de Director.
    As pessoas não são um todo, mas a soma das partes...
    Abração.

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  19. Justine
    penso que JBC deixou os alicerces suficientemente fortes para que a Cinemateca siga o seu rumo; não será, com certeza o director interino o designado, tudo dependendo da personalidade escolhida. E não há assim tanta gente a "entender" e saber partilhar o cinema em Portugal...
    Beijinho.

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