sábado, 16 de maio de 2009

Da dança para o convento

 Há dias, já não posso precisar como (a blogosfera é imensa…) fui dar com um blog que não conhecia – “Ver para além do olhar”, cuja autor é João Delicado J.S (um jesuíta em formação) – e a razão foi simples: o que me lá levou foi um vídeo visto algures sobre dança contemporânea em que um dos bailarinos – Emílio Cervelló -  pouco tempo atrás renunciou, de livre vontade à dança e à vida que tinha para ingressar na ordem da Cartuxa, num mosteiro em Valência – Espanha onde se encontra desde o passado dia 8 de Abril.

Vim encontrar no referido blog uma entrevista de Emílio ao autor do blog, em que ele explica as razões dessa decisão; porque se trata de um documento muito belo e pedindo ao João Delicado, desculpa do abuso de confiança, é com muita satisfação que aqui deixo os dois vídeos.



(Emílio é o dançarino mais à esquerda)



34 comentários:

  1. não conhecia a história do Emílio... mas foi lá ao blogue e sinto quase o mesmo murro no estômago. é uma decisão polémica, mas tão pessoal que até a consigo compreender se a enquadrar como corte radical e absoluto com praticamente tudo o que é secular. a Cartuxa é das vivências mais radicais dentro da vida religiosa da igreja; nada fácil, portanto. o testemunho é sem dúvida superior. é preciso ter muita coragem e fala daquelas coisas que eu era completamente incapaz de fazer e, logo, admiro quem tem coragem para tal.
    abraço

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  2. Paulo
    sabes como é a minha vivência religiosa e como sou critico da hierarquia católica, de uma maneira geral; este caso é uma vocação pura e não só a aceito, como a compreendo e dela ressalta uma nobreza de sentimentos enorme.
    O despojamento do mundo secular e a alegria por ele mostrada são incríveis.
    Para meditar...e muito.
    Abraço.

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  3. Que interessante Pinguim. Ainda não tinha visto o teu post quando fiz o meu hoje de manhã. Coincid~encias (ou não!). Beijos!

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  4. Um documento bonito sem dúvida. Obrigado por partilhares.

    A história causa aquele arrepio nas costas...aquela impressãozinha na barriga.
    Embora respeite a opção de cada um, não consigo perceber, ou pelo menos colocar-me numa situação destas.
    Penso sempre ( e se calhar mal): o que terá acontecido? o que se terá passado na vida desta pessoa? No caso um jovem, com um futuro promissor na dança e que renega tudo por uma vida de clausura. (lá está aquele arrepio nas costas)

    Há uns anos, visitei, por motivos profissionais, um Convento das Carmelitas Descalças. Encontrei lá uma rapariga de 28 anos, licenciada em Sociologia. Na conversa (que decorreu numa sala dividida por uma grade de ferro que separava a parte dela da dos visitantes) contou que tinha entrado para o convento semanas depois de se ter licenciado e pouco antes de se ir casar.

    Tal como o testemunho do Emilio, também esta conversa decorreu, (como disse o Paulo em cima), como se um murro no estômago tivesse levado.
    É preciso ter coragem.

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  5. acho que para se ser feliz há que saber e compreender do que trata e como é a felicidade, senão estamos a desperdiçar a Vida.
    Para quê viver se não compreendemos o que é o Amor, o que é a Felicidade, o que é a Alma...talvez através deste passo ele consiga entender e interiorizar o que precisa para que talvez numa próxima vivência possa saber Viver melhor...e não sobreviver como grande parte das pessoas hoje em dia fazem. Descobrir a essência do Ser pode levar a actos que nos podem parecer incompreensíveis, mas que para a pessoa em questão nada fará mais sentido. É um meio para atingir um fim...
    É apenas um bitaite...:-)

    abraço grande migo

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  6. Querida Popelina
    sem dúvida; eu raro falo de dança contemporânea e embora aqui o vídeo da dança sirva de introdução ao assunto realmente da postagem, tenho que reconhecer que é belíssima a coreografia apresentada e com um fundo musical muito bom.
    Beijinhos.

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  7. Mike
    sempre me fez imensa confusão a vida monacal; as vocações sacerdotais (as verdadeiras e as oportunistas) até as posso compreender nalguns aspectos, pois a vida secular não é totalmente abandonada (por vezes não o é de todo).
    Mas as freiras e os frades, com o total despojamento dos bens materiais e então nas ordens monásticas mais reservadas como a das Carmelitas descalças e dos frades da Cartuxa, fazem-me muita confusão; mas não os condeno e não acho que apenas queiram conquistar um viver sereno e sem problemas, pois é difícil, será mesmo muito difícil, como o próprio Emílio diz na entrevista e é preciso coragem e mais que tudo, uma verdadeira vocação, para dar um passo assim.
    Mais que respeito, o acto de Emílio merece-me admiração!
    Abraço amigo.

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  8. Estas "coisas" são, para mim, muito complicadas de perceber; talvez seja demasiado racional para as entender. Devido à minha formação católica, aprendi a justificar algumas decisões pela fé. Afinal não deve ser por acaso que o povo diz - A fé move montanhas...
    Será essa fé que o faz sentir tão sereno ao abandonar toda uma vivência tão especial como é a dança?
    É que quem dança, normalmente, dança por paixão...

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  9. Amigo Ima
    é um aspecto diferente e com o seu interesse, o que aqui expões e que vai já para aspectos mais difíceis de entender, ou melhor, de explicar: tudo o que tem a ver com a alma, com o "Além" e com uma eventual reencarnação...
    É um assunto que daria pano para mangas...
    Abraço amigo.

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  10. Tong
    e ele na entrevista foca bem essa sua paixão pela dança!
    E claro que a Fé, que ele nunca abandonou, foi a grande alavanca dessa sua pensada decisão, decerto.
    Agora que é complicado de entender, completamente de acordo.
    Abraço amigo.

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  11. Lindo, lindo, lindo! Que belo testemunho o do Emílio e que grande história.
    Ao longo da vida nem sempre as pessoas se apercebem que há alguma coisa que as liga a Deus. Talvez o Emília apenas o tenha percebido enquanto fazia aquilo que ele tanto gostava. Não creio que se trate de uma questão de coragem ou de força, trata-se de um chamamente que só ele sentiu e que só ele poderá saber explicar...
    É fantástico ver a forma como ele lidou com tudo.
    E a fé, e a relação que então ele sentiu estar a ser estabelecida com Deus foi superior a tudo... Aliás, como sempre é! UAU! :) beijinho *

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  12. Tudo é possível quando se faz algo por Amor,neste caso foi por Amor a CRISTO,no qual também dou o meu louvou. Muito bonito gostei de ver. Abraço

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  13. ia dizer que, temos que acreditar em qualquer coisa...mas, reformulo, é bom acreditarmos em qualquer coisa...por muito patética que possa parecer...mas...acho positivo acreditarmos. E nestas coisas sou tudo menos céptico, acredito em Deus, acredito na vida além da morte, acredito na reencarnação, mas acima de tudo acredito na evolução da alma...e porque acredito nisto, acho que compreendo a decisão deste senhor...
    mas é como tu dizes dá pano para mangas...mas lá está, acredito que há várias formas de chegar às verdades, uma pode ser a clausura como no caso em questão, outra aredito, pode ser através do diálogo e da partilha da ideias...estou ansioso para podermos trocar um dia estas nossas ideias:-)

    aquele abraço

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  14. Confesso que não entendo, mas existem tantas coisas no mundo que eu não entendo....

    Boa Sorte para Portugal. Acredito que iremos ficar numa boa posição.

    Abraço e bom fim de semana
    Miguel BA

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  15. Só posso experimentar admiração pelo facto, e é difícil não haver empatia com a figura de Emílio, que, e não é necessário grande perspicácia, deixa transparecer uma certa felicidade interior que até dá uma certa "inveja", no bom sentido do termo (se é que o pode ter).
    Eu que cresci à sombra de uma ordem religiosa algo austera, e que aí conheci algumas pessoas fora do comum (dei-me conta disso depois), hoje, apesar de não professar qualquer credo (ando ao Deus dará, como me dizia alguém próximo), sinto algum apelo por aquela austeridade, mas falta-me o resto, que é afinal quase tudo - a fé!
    Abraço e obrigado por me dares a conhecer alguém que merece que se conheça (contraria todos aqueles que não queremos e somos obrigados a saber que existem)

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  16. Interessante, há falta de melhor palavra.
    Nem sempre é necessário entendermos as opções dos outros, mas sim respeitarmos quando são apenas isso mesmo, opções tomadas em Liberdade. Aceitarmos o que faz os outros felizes, mesmo não compreendendo de todo. Em alguém com manifesta vocação desde criança, seria mais fácil entender, aqui deu-se uma viragem, não obstante a educação católica de sempre.

    Enfim, o que eu acho mesmo é que é menos um Homem disponível, e ainda por cima giro, HUMPF!! (brincadeirinha)

    Beijo - excelente post! Obrigada!

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  17. Eu respeito a decisão de cada um, mas não vejo relação entre as duas coisas...
    Abração!

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  18. Sandrinha
    parece-me ter apreendido da entrevista que desde sempre Emílio encarava a sua relação com Deus de um modo muito especial.
    Apenas escolheu a melhor altura para concretizar esses anseios.
    Beijinho.

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  19. Carametade
    é isso mesmo; a sua decisão foi feita com Amor e como assim é, não lhe terá sido difícil optar pelo apelo do ente (neste caso) amado.
    Abraço amigo.

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  20. Caro Emanuel
    estes assuntos do que está para além da morte têm em mim um efeito duplo: por um lado fascinam-me, mas por outro "assustam-me" um pouco.
    Tenho ouvido esses relatos das pessoas que já estiveram na "fronteira", que já experimentaram sensações estranhas e tantas vezes coincidentes (uma luz branca e intensa, uma sensação de paz, um "filme" de toda a vida numa questão de segundos...) e confesso que acho mais cómodo não aprofundar o assunto, embora gostasse de o fazer; não sei se me entendes?
    Abraço amigo.

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  21. Miguel
    disseste por palavras simples e sintéticas o que tentei dizer no comentário anterior...

    Portugal ficou "assim-assim"...

    Abraço amigo.

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  22. Manel
    como sempre gostei muito das apreciações que fazes no teu comentário; realmente sem Fé, nada disto é possível; mas havendo-a, fica essa ideia de que falas de uma felicidade interior: este homem, na sua consciência não vai fazer nenhum sacrifício, vai fazer aquilo que acha melhor para si próprio, vai ao encontro do seu destino...
    Abraço grande.

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  23. Natacha
    eu não lhe chamaria uma "viragem", mas sim o fim de uma etapa e o começo de outra no percurso da sua vida; a vida humana não é linear e nas curvas da vida vamos encontrar situações que temos que resolver da melhor forma para nos sentirmos realizados, e claro, sempre em liberdade (isso é ponto de honra)!
    Beijinho.

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  24. Amigo Lampejo
    todas as opções que tomamos na vida estão, de alguma forma, relacionadas umas com as outras. Na vida deste homem sucede o mesmo: dedicou-se de alma e coração à dança e teve paixão por ela;mas nunca deixou de pensar no seu relacionamento com Deus; quando viu que esse relacionamento era mais importante e que devia segui esse caminho, não hesitou...
    Abraço grande.

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  25. Aequillibrium
    sim, também é preciso coragem, pois uma ordem como a de Cartuxa, é das mais severas quanto à cessação dos laços com o mundo.
    Abraço amigo.

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  26. Fiquei sem palavras...é uma maneira diferente de encara a vida completamente diferente da minha, mas lá está...cada um é como é e todos nós temos diferentes interesses e prioridades.
    No caso dele, se o fez é porque sentiu que tinha de o fazer, tem as razões dele. É um acto de fé que eu nunca irei compreender.
    Abraço

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  27. Meu caro A...
    claro que também para mim é uma forma de encarar a vida, que vai contra a minha maneira de ser; mas compreendo-o; aliás os actos de fé, por absurdos que sejam (alguns a raiar o masoquismo) não carecem de compreensão alheia.
    Abraço grande.

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  28. Vim aqui parar por acaso e só queria dizer que me deu uma grande alegria ver como alguém que eu não conheço tirou proveito da entrevista que fiz ao Emílio. E como isso levou a tanta reflexão!

    Como jesuíta em formação, parte da Igreja e futuro padre, tenho-me preocupado em marcar uma presença na blogosfera que seja lugar de paragem e de reflexão para pessoas que têm a vida como peregrinação.

    Portanto acho óptimo que haja quem tire proveito do que faço!

    ABRAÇOS!

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  29. Amigo João
    foi com muito gosto que recebi este seu comentário, pois de certa forma fui algo indelicado em não ter préviamente pedido a sua autorização para fazer a entrada que aqui deixei e que afinal é sua, sobre o Emílio; penso que estarei perdoado...
    Como afirmei, sou algo critico com alguma hierarquia da Igreja, mas não confundo o todo com as partes e o meu catolicismo muito "especial" leva-me a pensar que a Igreja só terá a ganhar com vocações como a sua ( e noutro campo com a do Emílio) pois precisamos de acreditar que há na Igreja gente que pensa de mente aberta e que não hostiliza as pessoas por serem o que elas são e de pensarem a doutrina de Cristo de uma forma menos ortodoxa do que aquela que emana do Vaticano...
    Abraço amigo e obrigado pela sua simpatia.

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  30. Caro Pinguim,

    Conhecer a dança e conhecer o Emílio, como conheço ambos - e ponho "conhecer" (entre aspas) em relação à dança, porque para mim, mais que conhecimento é vivencial - permite descobrir Deus de forma diferente. Abre mesmo horizontes...

    Também, tal como o João Delicado, sou jesuíta em formação e tento aliar a dança com a espiritualidade. Em conversa com o Emílio, antes de ele entrar Cartuxa - tive oportunidade de assistir ao seu último espectáculo onde dançou o "Finale" - comentávamos mesmo a profundidade a que a dança pode levar. Sinto e vivo isso mesmo... Porque Deus, Deus é muito mais do que se possa pensar... ;)

    Publiquei há uns dias passados, n'oinsecto, uma entrevista que o João também me fez a propósito da dança e Deus...

    Abraço!

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  31. Caro Paulo,sj
    eu li esse post e gostei muito. Sigo com interesse o blog "O insecto" onde fui levado por um comentário que um dia o Tiago me deixou.
    O meu blog é muito diversificado e traduz bastante bem a minha maneira de ser; mas não engano ninguém e apesar da minha formação católica e da minha fé, tenho uma relação muito particular com Cristo, directa e "sem intermediários", eheheh, não me leves a mal...
    Por vezes digo barbaridades sobre o Bentinho, como eu lhe chamo, pois com toda a sinceridade, não gosto dele. O Papa que mais esteve próximo de mim, foi, sem dúvida João XXIII!
    Abraço amigo e obrigado pela visita.

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  32. En mi opiniўn, esto es oportuna noticias ...

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Evita ser anónimo, para poderes ser "alguém"!!!