sexta-feira, 9 de novembro de 2007

"Corrupção"


Aproveitando o tempo disponível nesta minha estadia na Covilhã, resolvi ir ao cinema e dos filmes em exibição, o que mais curiosidade me despertava era o “Corrupção”, (preferia que estivesse lá “A outra margem”, mas não era o caso).

Este é o tipo de filme que não traz grandes surpresas, tanto se tem falado dele.

A minha análise ao filme, faço-a em dois tempos: primeiro, o argumento e os aspectos técnicos; é sobejamente sabido que o filme se baseia no célebre livro de Carolina Salgado, no qual ela relata os acontecimentos que a envolveram com Pinto da Costa e a posterior ruptura. E, mesmo com as naturais adaptações a nomes ficcionados, em que Carolina é Sofia e surge “o Presidente”, os factos mostrados quase não precisam de seguir o livro de referência, tantos são os acontecimentos públicos que o ligam ao presidente do F.C.Porto, principalmente no que respeita às escutas, às compras dos árbitros e muitas outras coisas.

É pois de corrupção que se trata, neste caso, concretamente na área do futebol, mas com ramificações á magistratura, à política, e até à própria polícia.

E é escusado vir o actor Nicolau Breyner dizer que não há nada que indique tratar-se de P.Costa, pois tudo o aponta.

O filme tem ritmo, está escorreito, e longe de ser uma obra prima, vê-se razoàvelmente bem; tem actores credíveis nos seus desempenhos, dentro os quais destaco Margarida Vila-Nova, excelente, e tem um naipe de secundários de luxo; vai ser um êxito de bilheteira, sem dúvida alguma.

E é aqui, que começa a segunda parte da análise que quero fazer; há um conflito entre o realizador, João Botelho, a sua mulher e argumentista do filme, Leonor Pinhão, e a que posteriormente se juntou Margarida Vila-Nova, e o produtor Alexandre Valente, que anteriormente produzira “O crime do Padre Amaro”. E este conflito tem como base a montagem final do filme; como se sabe, embora teoricamente seja o produtor que tem sempre a última palavra, é geralmente da responsabilidade do realizador, a montagem, pois só assim, ele pode realmente dar corpo à história que idealizou, e quantas vezes será difícil cortar esta ou aquela cena, em função de um equilíbrio que está desde o início na mente do realizador...

Ora, neste caso, e estando o filme já numa fase adiantada da montagem, o produtor exigiu o corte de cerca de 15/18 minutos de filme, argumentando que essas cenas não seriam necessárias e inclusive, tornando o filme demasiado longo, seriam inconvenientes e seriam causadoras de uma menor rentabilidade do mesmo, o que também sucedeu nos temas musicais prèviamente seleccionados por João Botelho. Este, sentindo que o corte dessas cenas tirariam um âmbito mais dilatado à corrupção que quereria retratar, já não exclusivamente desportiva, não aceitou essas decisões, e desligou-se do projecto (note-se que há uma cena totalmente apagada de uma agressão a um jornalista).

Será que a ambição de um lucro maior, justificará que se destrua a ideia inicial de uma obra que é afinal a história que o realizador e argumentador querem contar?

O filme, com ou sem essas cenas, será, estou certo, mais que rentável, e portanto, o argumento do produtor cai pela base; e nenhum autor gostará que lhe amputem ou enxertem a sua obra, sob pena de a não considerar como coisa sua.

18 comentários:

  1. Corrupção é o que não falta por aí, e da graúda...
    Bom fim-de-semana e um forte abraço!

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  2. Tens razão, caro Lampejo
    Apetece dizer "É fartar, vilanagem, é fartar..."
    Abraço e bom fim de semana.

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  3. Fiquei extremamente desiludido com o filme Corrupção. Sem imaginação, uma simples cópia do livro e reprodução dos trechos que fomos lendo na comunicação social. Muito previsível e entediante. Sinceramente uma desilusão.

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  4. Não vi nem vou ver, quero lá saber disso.. Acho essa história do livro e do filme muito mal contada..

    Tenho horror a coisas que me cheiram a .... só para entreter o povo.

    Desculpa Pinguim, mas realmente esses gajos metem nojo

    Bom fim de semana

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  5. Caro C
    eu não estou a defender o filme, apenas faço uma apreciação global ao contexto em que o mesmo se insere, e falo até mais da situação, de que este filme é exemplo, mas não único, de divergências entre realizadores e produtores.
    Abraço.

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  6. Caro Ex...
    já esperava decerto uma opinião deste tipo, não só da tua parte, mas de outras, pois o assunto é polémico, e daí haver formas opostas de ver a questão.
    Independentemente do oportunismo deste filme, que é mais que evidente, acho que é bom mostrar certos factos, que tratados de uma forma mais ou menos facciosa, depende do ponto de vista, relatam factos reais que acontecem actualmente no nosso país.
    Abraço.

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  7. Ainda não vi o filme, mas tudo o que o rodeia fede que até enoja.
    Em relação à obra do realizador e à ganância do produtor, olha, entre as intenções de um e de outro, venha o diabo e escolha.

    Bom fim de semana, rapaz! :)

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  8. sabes que ao contrário de outros filmes portugueses e europeus, sucede que não tenho muito interesse em ver este filme. Primeiro porque o sensacionalismo me inibe .Segundo porque o argumento tb n me seduz. Não obstante, gostei do que aqui li...

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  9. Amigo João Manuel
    tudo o que dizes é verdade, mas também o mesmo sucede ao que lhe dá origem.
    Sabes que em dois posts seguidos, despejei algo do asco que me dão as únicas pessoas de Portugal, por quem tenho um "ódio de estimação"? A.J.Jardim e P.da Costa!!!
    Tenho consciência que não serão posts inteiramente conseguidos, mas deu-me algum gozo exteriorizar esses sentimentos.
    Abraço e bom fim de semana.

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  10. Amigo Luís
    com tantos filmes de interesse a ver, a minha ida a ver este filme fica a dever-se ao facto de estar com tempo, num local onde só havia 4 filmes disponíveis e este, entre os 4, foi o escolhido, não porque fosse o melhor, mas o que mais me interessava ver.
    Se estivesse aqui, onde vivo, não saíria de casa para ver o filme, como não dei um passo para ler o livro.
    Abração e bom fim de semana.

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  11. Bom... eu não li o livro... confesso.
    Lá fui acompanhando as coisas pelo Expresso ou pelo Sol... mas, com este post, vou ter de o ver para depois comentar :)

    Grande abraço e bom fim-de-semana

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  12. Amigo João
    para já um grande abraço de agradecimento pela oferta: está um mimo!
    Quanto ao filme, já se sabia a tomada de posição de algumas pessoas e sei que o assunto é nojento, mas EXISTE!
    Que há oportunismos a aparecerem, pois o contrário é que seria de admirar.
    Mas que aquele tipo tem que ser desmisticado é um facto; para os adeptos do FCP, pode ser um presidente fabuloso, mas que é um mafioso da pior espécie, só não vê quem não quer ver.
    Um abraço e um excelente fim de semana.

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  13. Ah!, era esse! Também vou vê-lo hoje. Abraços

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  14. Depois gostava de ter a tua opinião.
    Abraço.

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  15. Tenho pena que estes casos aconteçam e sei que são muito comuns em Hollywood onde muitos grandes realizadores se viram obrigados a mutilar os seus filmes na mesa de montagem.
    Como seria se algum editor tivesse obrigado o Eça a cortar certas partes dos Maias?
    Eu também compreendo a posição do produtor, fez o seu investimento e quer retorno mas as coisas não deveriam ser assim.
    Com ou sem realizador este deverá ser um dos filmes portugueses mais vistos de sempre.
    Um abraço

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  16. Claro, amigo P.
    é exactamente essa a minha opinião.
    Abraço.

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  17. Afinal não fui ver. Surgiram imprevistos (dos bons!)

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  18. Meu caro X
    esses imprevistos são sempre benvindos; que se lixe a corrupção...
    Abraço.

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