terça-feira, 17 de julho de 2007

Os meus amigos (6)



No meu “apagado” blog, havia uma rubrica, que já ia, salvo erro, na sua quinta postagem, subordinada ao tema “Os meus amigos”.
Há muito, estava tentado a falar de um amigo, daqueles que não só eu conheço, mas que é figura sobejamente conhecida; exactamente o José Sócrates.
Faço-o agora, por variadas razões. A primeira, e mais importante, é que actualmente está na “mó de baixo”, é assobiado onde quer que vá, tem os media contra ele, as manifestações estão em crescendo, e assim sendo, não posso ser acusado de estar a untar as botas de alguém, que há alguns meses atrás, continuava num longo estado de graça, talvez o mais prolongado para os últimos primeiros ministros.
Depois, porque a Amizade se sobrepõe às diferenças de opinião, e se hoje em dia, em vários aspectos, sou critico de actuações suas, isso não invalida a amizade.
E ainda, porque nunca utilizei, contra o que parece ser um hábito, neste e anteriores processos, a amizade, para obter “benesses”. É até curioso, que a última vez que falei com o Zé, já lá vai um longo tempo, numa tarde de Verão, na esplanada do CCB, era ele Secretário de Estado do Ambiente, eu tinha sobre mim a sombra do desemprego, que se veio a efectivar quando não consegui colocação como docente um mês depois; falámos sobre tantas coisas, mas evitei falar no assunto, o que até não foi fácil.
Mas, vamos ao início; conheci o Zé Sócrates, na Covilhã, onde ele era funcionário da Câmara e o lider concelhio do P.S. Nunca fomos colegas de estudo, pois ele é alguns anos mais novo, fui todavia aluno do seu pai, no então 1º.ano do Liceu da Covilhã, na disciplina de desenho, na qual eu era razoàvelmente mau...
Mas, alguma simpatia minha pelo socialismo, levaram-nos a vários encontros, e um belo dia o Zé convenceu-me a fazer parte, como independente, da lista do P.S. para as eleições autárquicas; a minha vida profissional de então não me permitia “aventuras políticas”, pelo que acedi, apenas com a condição de ficar num lugar não elegível, e assim fui 5ª da lista, que meteu quatro candidatos na autarquia. Foi nesse período, que melhor o conheci, e admirei o seu espirito de luta e o seu empenho, e mantive um contacto muito próximo quando da sua eleição para deputado, juntamente com A. Guterres,
pelo circulo de Castelo Branco.
Aliás foi curioso, que a insistência de ambos, consegui que o meu Pai os recebesse numa visita à nossa empresa têxtil, o que foi difícil, dada a aversão a tudo o que fosse de esquerda do meu Pai (feitios...); mas foi uma conversa agradável e correcta, que serviu para, com outras visitas similares, ambos apresentarem na A. República um óptimo relatório sobre a já então conhecida crise dos têxteis.
Fora da política, o Zé sempre foi um amigo com quem pude contar e não faltaram ocasiões para debatermos assuntos vários das nossas vidas pessoais. Por isso, por conhecê-lo tão bem, me indignei tanto com as insinuações, que na altura da campanha das legislativas, lhe foram dirigidas.
Não tem sido fácil a vida familiar do Zé Sócrates, mas ele tem, dentro do possível, sabido precavê-la, tanto no que diz respeito à separação dos pais, ao seu casamento e outros casos muito difíceis da esfera familiar.
É um homem inteligente, que sabe o que quer, e naturalmente, como político, é, nesse campo, ambicioso.
Quando chegou à chefia do Governo, resolveu, e bem, atacar os problemas mais graves do país, sabendo que, mais tarde ou mais cedo, isso se voltaria contra si próprio. Nem sempre rodeado dos melhores elementos, o seu governo, tem tido, reconheço, algumas decisões polémicas e discutíveis, mas pelo que dele conheço, norteia-o o desejo real de ajudar a construir um país melhor.
A má gestão que ele próprio fez de um acontecimento, que não passaria de um “fait-divers”, se tivesse sido abordado de outra forma, ajudou a criar-lhe uma imagem negativa, actualmente.
Mas, pergunto eu, qual a alternativa actual para José Sócrates? Talvez parte da resposta às criticas que lhe são feitas, hoje em dia, de todos os quadrantes, estejam exactamente neste ponto...
Para mim, embora não possa esquecer que é o Primeiro Ministro do meu país, continua a ser o Zé, continua a ser o Zé, cuja casa, perto do actual Parque Industrial da Covilhã, eu tanto gostava de frequentar.

14 comentários:

  1. Gosto de ver como tu te referes ao Zé, teu amigo. Não chega a ser isenta, mas é lúcida.
    No que toca aos assobios, apupos e quejandos, realmente deve ser-lhe difícil lidar com isso - numa altura em que a imagem dita o sucesso e numa época onde, certamente, já se apercebeu que o controlo dos media a partir do gabinete não é tudo.

    Como em todo o lado, há reversos de medalhas. Como em todo o lado: cá se fazem, cá se pagam.

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  2. Caro João Manuel
    já antes questionava algo, que agora, por maioria de razão, nunca chego a perceber?
    O que faz com que os políticos corram atás do poder? A fama? Os proventos?
    Haverá algo mais precioso do que estar no anonimato da pacatez da sua vida, para ser trocado por uma exposição permanente e feroz?
    Fazer puro serviço público?
    Boas perguntas para um dia mais tarde fazer ao Zé.
    Abraço.

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  3. Calculo que ser politico neste pais seja uma treta, com um quarto da população a fazer parte de uma engrenagem infernal, outro quarto a amandar pedrinhas para essa engrenagem e o resto com "nojo da politica".

    Acho que é na discussão politica que se encontra a solução sem medo de se estar a fazer demagogia, utopias ou de se estar com falsos moralismos. É falar, expor discutir, fazer nascer alguma luz.

    É claro que não podemos retirar do sangue o nosso "lusitanismo", é o que somos, é a nossa parte humana, e como humanos que somos, um bocadito grunhitos.

    Não é por ai que está problema. Cabe a cada um de nós estarmos atentos, a participar, a fazer valer a nossa opinião.

    Acredito que há pessoas na politica, que a desejam fazer de uma forma inteligente.

    Cabe a cada um de nós sermos activistas do bem do pais.

    fica bem pinguim

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  4. Amiga Yellow astronauta
    gostei muito do teu comentário,acredita, principalmente da divisão que fazes, no princípio do mesmo.
    Concordo com o que dizes sobre a discussão política, só tenho pena, que haja tanta gente que deconheça o significado de uma palavra muito importante: tolerância!
    Beijo.

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  5. Amigo Pinguim, os amigos também servem para nos "darem na cabeça"...
    Ninguém é perfeito...
    Abraço

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  6. Caro Pinguim...

    Este post dificulta-me o comentário :) Vamos ver o que sai daqui:

    Reconheço que um primeiro ministro não pode fazer do "popularismo" o caminho para uma "governação saudável".

    Reconheço que um primeiro ministro não pode encontrar soluções refugiadas em "boas impressões".

    Reconheço que seja absolutamente necessário, na fase em que este país se encontra, passar por um "mal imediato" para conseguir alcançar um "bem" que se consolide em si mesmo.

    Não compreendo a extinção (ex:. postos de trabalho, centros de saúde, maternidades, postos GNR(...) lado-a-lado com a criação de "gabinetes fantasma" para gerir pastas que acabam por não apresentar resultados ano após ano, governo após governo...

    Ok! Não é o zé que faz tudo isto, tenho essa serenidade. Mas não é ele acaba por assumir a liderança da equipa que toma estas decisões?

    Eu dizer aos miúdos... "cuidado! Não se magoem hoje porque é domingo e já não há urgências" - parece brincadeira mas é realidade...
    Eu ter um das filhas com uma dor de ouvidos, uma otite (por exemplo) e ter de atravessar a serra a meio da madrugada, para ir buscar uma receita, para que as possa tratar é absurdo! Tenho um centro de saúde que passou a encerrar à noite no governo do Zé. Isto nos dias de hoje!?

    Devemos cortar em muita coisa, concordo, mas na saúde?? Isto é andar para trás! Anos de civilização em vão... Perdemos diariamente qualidade de vida!

    GNR? Ja não temos Pinguim...
    Com os cortes orçamentais encerram à noite :)
    Parece mentira, não é?
    À noite temos de ligar para uma cidade...

    "dá para dar cá um saltinho à vila? é que GNR's temos 4 ou 5 e estão a dormir... aliás não fazem serviço à noite... Desculpem lá... dêem cá um saltinho... é a minha vizinha que está a ser espancada... pode ser? Passem por cá antes que a matem, se fizer o favor... muito obrigado, sim!?"...

    Ok amigo!
    É claro que o Zé não tem culpa mas, compreendes que me aborrece um pouco.

    Também é verdade que perguntas bem: E melhor que ele, há?

    É claro que não era um Durão, ou um Santana que faria melhor... mas triste é precisamente não haver quem... sejam lá PSD's, PS's, PC's, BE's e os raio que os partam...

    Precisamos de seres humanos, isso sim... de preferência espertos, mas só se tiverem bom senso!

    Um grande abraço

    Nota: Gosto de passar por aqui, gosto dos teus temas e...como constatas... vibro com isto :)

    Mais uma vez, desculpa lá o entusiasmo neste longo comentário.

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  7. Olá João
    para já, começo pelo fim.
    Este é um texto sobre amigos, por aqui passaram o Duarte, a Cristina, o Miguel, a Lurdes. os meus gatos, e agora o Zé, como passrá o Pedro, que já cá não está e outr@s.
    Mas é curioso, que aqui, neste espaço vou conquistando amigos, João, e constato com satisfação que tu estás a ser um deles; isso é muito bom.
    Voltando ao Zé, eu não o defendo de olhos fechados, até o critico em muitas coisas, mas também critico o que se verifica aqui neste país de "modinhas"; agora é moda dizer mal dele, de TUDO o que ele faz, diz ou pensa.
    Agora que te dou razão em muitas das coisa que apontas, claro que dou.
    O problema é que nós, portugueses, somos de 8 ou 80; em nome de alguma racionalização de situações, que têm mesmo de ser revistas, não se flexibiliza, não se analisam casos em que a regra deve ser excepção, e isso é flagrante na saúde, na educação e na segurança.
    Acho que uma remodelação está a ser verdadeiramente necessária neste governo, pois há ministros que já passaram o "termo de validade".
    Enfim, podes não acreditar, mas gostava muito de reencontrar o Zé e conversar sobre estas coisas, não como politicos, mas como amigos.
    Deste teu amigo, que te retribui o forte abraço.

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  8. A remodelação é mais que necessária. De todos os primeiros ministros da minha vida adulta este foi o único em que depositei alguma esperança. Não nego que tem feito coisas boas mas em ternos de saúde, educação e direitos sociais tem deixado muito a desejar. Nem tudo é culpa dele mas ele é responsável pelos seus ministros, foi ele que os escolheu.
    Agora uma saudação especial para ti, é bom apoiar um amigo especialmente quando está meio país contra ele.
    Um abraço.

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  9. Uma significativa parte do que realmente somos é constituida pelo conjunto de amigos que temos. Uma espécie de fronteira alargada, de terreno conquistado pelo afecto, pelo encanto, pela partilha e dedicação.
    Os nossos amigos são sempre o nosso bem mais precioso, mesmo (e principalmente) quando nos começa a faltar a saúde!

    Quanto ao teu amigo Zé, sem deixar de compreender as desconfortáveis razões do JNavarro, acredito que esteja a tomar o rumo (o único possível) de que o País precisa.

    Um abraço

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  10. Meu caro Paulo
    agradeço ao muito bom comentário do João Navarro, a oportunidade que ele me deu, de complementar alguma coisa sobre o actual momento político, no que ao Zé Sócrates se refere, pois é precisamente no que afirmas, que eu acho que algo está mal e tem de mudar.
    Abraço.

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  11. Amigo Ez
    no tão relembrado blog, que se me apagou, tinha esta rúbrica, onde cabiam, cabem e caberão várias vertentes sobre "amigos".
    Assim, comecei naturalmente pelo Duarte, o meu maior amigo de e para sempre, com quem partilho a casa e tanta coisa mais, e que é hoje como um irmão muito querido, derivei para uma amiga de tantos anos, a Cristina, e que hoje com a sua companheira são "portos" a que ancoro com regularidade; passei ao Miguel, o meu primeiro relacionamento, amigo para sempre, hoje mais afastado por circunstâncias especiais e muito penosas para mim; segui-se a Lurdes, uma senhora hoje com 80 anos, que me ajudou a criar e pela qual tenho um carinho imenso; e antes do Zé, apareceram os meus bichanos, especiais companheiros de momentos de alguma solidão e habitantes importantíssimos da nossa casa.
    Tenho mais "clientes" no rol.
    Este comentário serviu-me um pouco para relembrar posts antigos, agora perdidos, mas nunca esquecidos.
    Um abraço.

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  12. ... Acho que vou ter saudades de alguns desses éditos menos recentes... Creio até que pelo menos um não cheguei sequer a ler: o que dedicaste ao Miguel...
    Não é fácil lidar com sentimentos «blogosféricos», até porque é tudo novidade para mim, e eu sou um bocado... avesso a novidades, sobretudo as que escapam ao meu controlo...
    Tenho a esperança de que possas «voltar à carga»...
    Abraço! :-)

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  13. Caro Ric
    eu ainda não tornei pùblico algo de que ainda não tenho os contornos bem definidos, mas que se relaciona com o facto de haver a possibilidade de recuperar, não da forma que eu quereria, claro, a maioria doe éditos que tinha.
    Quando tiver coisas mais palpáveis, com certeza o direi e graças a quem.
    Abraço.

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Evita ser anónimo, para poderes ser "alguém"!!!